“Tinha uma grande confiança nele próprio e isso transmitia-se à equipa, que encarava todos os jogos com optimismo”, recordou à Agência Lusa Manuel Fernandes.

Sem esconder a tristeza, o treinador do Vitória de Setúbal elogiou a capacidade mobilizadora do britânico, por ter “criado um grupo com um extraordinário espírito ganhador”.

“Além dos títulos, fez outra coisa importante no Sporting. Quem não era convocado, gostava tanto dele como os que jogavam sempre. Agradava a todos”, frisou.

Manuel Fernandes partilhou com Allison alguns dos momentos mais marcantes da sua carreira: “O meu último ano da carreira foi com ele, no Vitória de Setúbal, e a minha última grande vitória desportiva também foi com ele, com a conquista do campeonato naquela época extraordinária”.

“Big Mal”, como era conhecido, permanece na memória de outros, como Carlos Xavier, que responsabiliza o britânico pelo seu lançamento “na alta-roda”.
“Vai marcar-me para sempre ao longo da vida. Está sempre presente no meu pensamento, era uma pessoa espectacular. É um dia triste para mim e para o clube, que teve o privilégio de o ter como treinador”, disse à Lusa Carlos Xavier, recordando que Allison “não tinha medo de apostar nos jovens”.

O antigo capitão dos “leões” recorda a mudança de alguns hábitos no clube: “Veio alterar algumas regras. Acabou com os estágios para os jogos em casa, encontrávamo-nos cinco horas antes do jogo e com ordens para comermos o que quiséssemos”.

“Essa atitude tirava-nos muita pressão e dava-nos confiança. A própria entrada dele, uma hora antes dos jogos no relvado, para saudar os adeptos, mexia connosco”, frisou.

Ao mesmo tempo que se afirmava na equipa do Sporting, Carlos Xavier viveu “um ano marcante”, com a conquista do campeonato e da Taça.

“Era um treinador fantástico e marcou um período no Sporting, só nos faltou chegar à final da Taça UEFA. O Malcom Allison chegou a assumir, perante os jogadores, que não havia nenhum clube da Europa que nos batesse”, explicou Mário Jorge, lamentando a eliminação face ao Neuchatel.

O jovem médio, várias vezes adaptado pelo britânico a libero, retém “memórias muito boas” de Allison, que, “tal como grande parte dos treinadores ingleses, nutria grande carinho pelos jovens, dando confiança e, ao mesmo tempo, responsabilidade”.

“Não era um treinador duro, dava liberdade e responsabilidade. Isso marcava o perfil dele. Não olhava a nomes, mas ao rendimento. Com ele, quem não tivesse desempenhos razoáveis não jogava. Sem ser um ‘expert’ na táctica, roçava um pouco o que é actualmente o José Mourinho, ao nível da motivação”, sublinhou.

Para Mário Jorge, “Big Mal” é “um dos treinadores estrangeiros que deixa saudades”, sobretudo por causa de um ano em que o Sporting “ganhou tudo” em Portugal, ao abordar “os jogos sempre com grande intensidade”.