Em nota enviada à imprensa, ainda na sequência dos acontecimentos graves em Alcochete, Bruno de Carvalho responde às críticas de que tem sido alvo, referindo que avançará com processos a todos aqueles que o tem difamado e caluniado, acrescentando que não pensa apresentar demissão da liderança do Sporting.
Eis a nota na íntegra:
“Pelo que tenho vivido nestes últimos dias, Bruno de Carvalho, fico com a clara ideia de que as pessoas estão a esquecer-se que, antes de mais, sou cidadão, pai, filho, irmão e marido. Tenho princípios e regras que são basilares na minha vida.
Jamais, com as regras e princípios que me norteiam, poderia ser responsável por um acto hediondo como aquele que foi cometido na Academia do Sporting na passada terça-feira, o qual me tem sido atribuído no plano moral. Aquelas pessoas, jogadores, treinadores e demais membros da estrutura do futebol, que são a família que escolhi, podiam ser meus filhos, meus irmãos ou meus pais.
O que se passou na Academia do Sporting foi, para mim, um choque, agravado pela preocupação com o que estava a acontecer com aquelas pessoas, ao mesmo tempo que eu sofria um linchamento, o qual se estendia à minha família.
Hoje, depois de ouvir o Primeiro-Ministro, como ser humano e como cidadão, fico extremamente satisfeito pelo facto de o Governo ter olhado para este episódio e que se tenha apercebido de que aquilo que tenho estado a dizer enquanto cidadão – “é preciso parar a violência no desporto” – tem de ser uma prioridade.
Tenho lutado com todas as minhas forças contra a violência. E este é o primeiro episódio do género em cinco anos de mandato. Tratou-se de um episódio isolado porque tomámos medidas preventivas e continuaremos a reforçá-las para que tal não se repita.
Quero recordar que tive uma reunião muito franca, aberta e positiva com os jogadores na passada segunda-feira. Falámos do que se tinha passado na Madeira, da frustração que sentíamos e da vontade tremenda de ganhar a Taça de Portugal. Nessa ocasião acordei com os jogadores que no dia seguinte, às 16 horas, estaria com eles no treino, na Academia. E isso só não aconteceu devido ao facto de o Correio da Manhã ter noticiado, em manchete, o envolvimento de colaboradores do Sporting em possíveis actos de corrupção. Por isso, desdobrei-me em reuniões sucessivas com advogados para tentar perceber o que se passava. A meio de uma dessas reuniões fui alertado para o que estava a acontecer na Academia e para lá me desloquei de pronto.
Não passa pela cabeça de ninguém que o Clube ou a SAD tivesse interesse neste tipo de actos de terrorismo contra os seus ou outros, e em que circunstâncias fosse. Relembro que ainda por cima estamos a escassos dias da final da Taça de Portugal e que com este acto de verdadeiro terrorismo, ao agredirem barbaramente alguns jogadores, os colocariam em perigo de lesões, as quais os podiam impedir de realizar o jogo. Não posso acreditar que verdadeiros sportinguistas efectuassem tal acto com prejuízo claro, financeiro e desportivo, devido aos danos causados à marca, à instituição e pelo perigo de podermos não contar com alguns atletas por lesão.
Quero relembrar que entendi claramente o que sócios e adeptos me transmitiram no jogo com o Paços de Ferreira, tendo a Administração e os atletas conversado e resolvido o que podia ser resolvido. Nunca tive qualquer tipo de acção que fosse geradora de violência como se comprova, como já referi, pelos cinco anos sem qualquer incidente. Lamento, por isso, que me estejam a ser imputadas responsabilidades, directas ou indirectas, morais ou materiais deste acto absolutamente hediondo. Tenho quatro filhas para educar e por isso agirei judicialmente contra todas essas intervenções que tenho visto de órgãos de soberania, de jornalistas e de comentadores.
Não consigo entender a mensagem que se pretendeu passar ao colocar-se em causa a realização do jogo. Se isso acontecesse seria aceitar que um conjunto de marginais definisse as regras da nossa vida em sociedade. Na verdade, estaríamos a dizer que à conta de uns quantos marginais seria possível pôr em causa a realização de um evento relevante.
Quero dizer que lamento que o Presidente da República do meu país não tenha sido tão taxativo a confirmar a sua presença no Estádio do Jamor quanto o foi a condenar, e bem, aquele acto de violência. Esta atitude permite-me fazer duas leituras: em primeiro lugar, está a imputar-me responsabilidades por aquilo que aconteceu, deixando instalar a dúvida sobre mim. E isso é inaceitável até porque, como cidadão, ele é também o meu Presidente. Em segundo lugar, permite-me ler que o Presidente da República está disponível para aceitar que um grupo de marginais ponha em causa a realização de um evento relevante e que se ache no direito de acreditar que influencia as suas decisões.
Também não possa aceitar que a segunda figura do Estado tenha sido mais taxativo e belicista, fazendo-me uma crítica violentíssima, não tendo a mínima noção do cargo que ocupa e da sua condição de sócio do Sporting Clube de Portugal. Será por isso um dos primeiros visados nas acções cíveis que vou mover, até pela posição relevante que ocupa na sociedade.
Não posso deixar de dizer que nos processos cíveis que vou intentar estarão visados todos os comentadores e jornalistas que de forma infame me têm difamado e caluniado, mas também figuras como Daniel Sampaio, José Maria Ricciardi ou Rogério Alves, porque a partir do momento em que, após um acto de terrorismo, dizem que deixei de ter condições para continuar a exercer o cargo de Presidente do Sporting Clube de Portugal, estabelecem uma relação de causa-efeito entre o sucedido na Academia e a minha pessoa.
Neste momento sinto-me com a mesma capacidade, força, prazer e honra em servir o clube que amo, não vendo qualquer motivo enquanto sportinguista para me afastar de um trabalho e de um rumo que está a ser seguido com sucesso nestes cinco anos.
Ao mesmo tempo, e enquanto cidadão lisboeta, agradeço o facto de a Câmara Municipal de Lisboa ter compreendido a solicitação feita pelo Sporting para, em caso de vitória na Taça de Portugal, não ser recebido nos Paços do Concelho, como é tradicional. Uma festa com milhares de pessoas numa praça pública, correndo o risco de poder existir um novo grupo de terroristas ou desestabilizadores que possam ir provocar desacatos, é preferível deixar a festa para o Jamor e não correr riscos desnecessários. É preciso dar tempo para se perceber o que ocorreu, todos os seus contornos, a forma de evitar que se repita e tenho a convicção que o tempo até à realização deste jogo não seria suficiente para tal.
Quero ainda acrescentar que, apesar de o ter feito pessoalmente aos jogadores, técnicos e staff, enviei-lhes mensagens, pedindo desculpas em meu nome pessoal e enquanto Presidente, manifestando a minha total solidariedade e compromisso em como os culpados serão severamente punidos.
No fim de tudo isto tenho três desejos: que quem cometeu este acto terrorista seja severamente punido; que quem cometeu actos “criminosos” contra mim seja severamente punido; e que o jogo no Jamor seja uma excelente festa de futebol e que o Sporting Clube de Portugal consiga conquistar a sua 17ª Taça de Portugal”.
Comentários