Depois de muitos dias de antecipação e depois de 86 minutos de bloqueio quase total, já se faziam contas a um anticlimático empate a zero naquele que é provavelmente o grande 'clássico' do futebol português. Mas um filho de um ilustre Dragão tinha uma ideia diferente.

Com mais um jogo de grande qualidade a confirmar que merece lugar de destaque entre as primeiras escolhas de Julen Lopetegui, André André manteve a energia e a fé apesar do nulo e teve tempo para fazer aquele que é, certamente, o golo mais marcante da sua carreira até agora. Aproveitando um detalhe precioso de Varela, o filho do 'outro' André fez explodir o Dragão como há muito não se (ou)via.

Mas a exibição do jovem médio valeu por mais do que o golo decisivo. Saiu dos pés dele o cruzamento para a cabeça de Aboubakar, que atirou ao poste da baliza de Júlio César. Pouco depois, fez novo passe a isolar o camaronês, que mais uma vez ficou próximo do golo. O ponta-de-lança não conseguiu aproveitar os 'presentes' e o próprio André acabou por fazer aquilo que o pai nunca conseguiu: marcar ao arqui-rival Benfica.

Perante uma noite tão marcante para o médio, não é fácil olhar mais além, mas houve mais 'dragões' em evidência. Iker Casillas segurou o nulo em duas ocasiões nos primeiros 20 minutos de jogo, numa altura em que o Benfica demonstrava vontade de voltar a gelar o Dragão, tal como fizera na época anterior. O guardião espanhol fez valer a sua vasta experiência e travou de forma impecável as tentativas de Mitroglou.

Também sob a luz dos holofotes estava Maxi Pereira, que pela primeira vez defrontou a equipa onde se afirmou como lateral de topo. É certo que, como lhe é algo habitual, exagerou em algumas ocasiões na forma agressiva como abordou os lances, mas o seu esforço e dedicação são admiráveis. Corre como se as limitações dos humanos não o afetassem e não desiste de uma jogada até que o árbitro mande parar.

Em grande plano estiveram também Rúben Neves (nova demonstração de invulgar maturidade), Aboubakar (não conseguiu marcar mas, tal como Maxi, nunca deu uma bola como perdida - veja-se este lance) e Imbula (qualidade de passe notável). Menos bem esteve o capitão Maicon, que se demonstrou intranquilo e impulsivo, em particular no lance que antecedeu o apito para intervalo.

E Lopetegui? A decisão de lançar Corona próximo de Aboubakar no terreno, com Brahimi a recuar na ala esquerda para fazer compensações, foi um tiro ao lado. O técnico espanhol conseguiu, porém, perceber o erro e encostou o mexicano à ala direita, dando ao argelino a liberdade de que este precisa no lado oposto. É verdade que Brahimi falhou por algumas vezes no último passe e não conseguiu deixar a sua marca no jogo, mas teve pelo menos espaço para ameaçar. A entrada de Osvaldo para o lugar de Aboubakar mereceu alguns assobios no Dragão, mas explica-se pelo jogo de grande esforço do camaronês, que como habitualmente andou entre recuos e avanços constantes para tentar transportar a equipa para o ataque.

À terceira tentativa, o técnico espanhol conseguiu derrotar o Benfica. Ainda há muito campeonato para jogar, mas por agora Lopetegui dorme tranquilo com os quatro pontos de vantagem sobre os rivais da Luz.