Na primeira entrevista desde que assumiu a presidência da Liga, Fernando Gomes acredita na estabilização do futebol profissional, em especial na principal competição, em que se “os clubes tiverem algum equilíbrio na gestão não terão problemas do ponto de vista da sua sustentabilidade”.
O mesmo não acontece na Liga de Honra, porque o nível de receitas é muito inferior: “Os clubes da Honra merecerão uma atenção muito especial para criarem condições de viabilidade e sustentabilidade que são necessárias para uma melhor imagem do futebol”.
Com os patrocínios em queda, muito por culpa do clima económico, Fernando Gomes vê nas apostas desportivas online um caminho a trilhar, porque “é um mercado que poderá valer cerca de 400 milhões de euros” e que neste momento não aproveita a ninguém, “sem retorno para o Estado, ou para as marcas que são utilizadas”.
O exemplo francês, onde a actividade foi recentemente legalizada, tem sido seguido com atenção e a Liga tem mantido contactos com as “entidades governativas”, até porque o Estado “também está a perder receitas”, bem como com a Santa Casa.
“A Santa Casa tem de ser um parceiro. Tem o monopólio dos jogos sociais e tem uma intervenção directa nesta área. Isto terá que ser numa perspectiva global ao nível dos ministérios da Economia, Finanças, do Trabalho e Segurança Social e da Santa Casa e naturalmente também com a secretaria de Estado do Desporto, que não pode deixar de ser interventiva neste processo”.
A uma semana do arranque da Taça da Liga ainda não se conhece o novo patrocinador da competição, que Gomes garante só revelar “quando estiver fechado”, mas promete fazê-lo em breve e assegura que os prémios monetários para os clubes “se manterão ao nível dos dois últimos anos”.
Com a Liga a caminhar para se tornar cada vez mais uma associação patronal, Fernando Gomes não esconde ser adepto da centralização dos direitos televisivos, “como tem acontecido com sucesso na Taça da Liga” e na generalidade dos países europeus, mas reconhece que não será fácil fazê-lo nos campeonatos, “porque há contratos em vigor”, a maioria deles além do “mandato da nova direcção da Liga”.
Novidade vai ser a criação de um canal televisivo da Liga, que Fernando Gomes antevê como uma plataforma para potenciar o negócio do futebol: “A criação de um canal na plataforma ZON multimédia é onde claramente queremos intervir, mas condicionados à matriz contratual e aos acordos existentes, que na maioria dos casos vão até 2016/17. Não deixaremos de intervir no interesse da Liga e no interesse dos próprios clubes”.
Primeiro presidente profissional da Liga de futebol, Fernando Gomes aguarda pela alteração de estatutos que regule o nível salarial do cargo de presidente, que, revela, será determinado por uma Comissão de Remunerações.
“As alterações aos estatutos serão submetidas muito brevemente a Assembleia Geral e a partir dessa altura é que estarão criadas as condições para que haja um presidente profissional e serão fixadas as condições através de uma Comissão de Vencimentos tanto para o presidente como para a Comissão Executiva”.
Com um longo passado de ligação ao FC Porto, Fernando Gomes não teme que isso perturbe o desempenho ou a avaliação dos adeptos do futebol.
“Não renego as minhas origens, fui praticante, fui adepto, sou sócio e fui dirigente. As pessoas sempre se habituaram a ver no Fernando Gomes, uma pessoa equilibrada, responsável, séria, competente. Tenho sentido isso da parte dos diversos dirigentes com que tenho contactado, que têm enaltecido o papel que tenho tido na vida da própria Liga. Os adeptos não deixarão de analisar o comportamento ao longo do período que vou estar na Liga”.
E será a presidência da Liga uma antecâmara para uma futura candidatura para presidente do FC Porto? “Nim”, diz Gomes, que só quer falar dos próximos quatro anos, os do mandato da Liga, mas também os que faltam para novas eleições no FC Porto: “Neste momento a minha ambição é quatro anos de presidente da Liga de clubes, tornar a Liga forte, cada vez mais sustentada e ajudar os 32 clubes a serem mais viáveis. É este o meu objectivo para estes quatro anos”.
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