A arbitragem portuguesa teve um trabalho proveitoso na I Liga de futebol 2023/24, vinca o antigo ‘juiz’ internacional Duarte Gomes, apesar de sentir uma “pequena turbulência na fase inicial”, que ocasionou “maior ruído do que o habitual”.
“A esmagadora maioria das decisões foi correta, mas também vimos situações - algumas delas mediatizadas - com erros, que apenas mostram que a arbitragem é uma daquelas atividades que nunca poderá parar de trabalhar e de tentar continuadamente aumentar a consistência das suas decisões e a eficácia de atuação. De maneira geral, foi uma época positiva, sendo certo que há coisas para evoluir”, enquadrou à agência Lusa o ex-árbitro.
Uma das polémicas mais badaladas sucedeu logo à segunda jornada, quando o primeiro golo da vitória tangencial do novo campeão nacional Sporting na visita ao Casa Pia (2-1), em Rio Maior, foi validado de forma incorreta pela equipa de arbitragem comandada por Nuno Almeida, já que o avançado Paulinho estava em fora de jogo por nove centímetros.
“É algo que não é normal: houve um erro humano numa situação factual. Não estamos a falar de lances de interpretação, visto que havia uma tecnologia que suportava a 100% a decisão correta. Aí, o Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) teve uma postura no imediato que me pareceu correta: sendo um lance objetivo e visto por toda a gente, fez o reconhecimento de que tinha havido um erro na definição da linha tecnológica de fora de jogo por parte da equipa de videoarbitragem (VAR)”, indicou.
Duas rondas depois, já na reta final do jogo FC Porto-Arouca (1-1), o sistema tecnológico de imagens vídeo para ajudar os árbitros de campo à distância teve uma falha energética de 14 minutos, fase na qual Miguel Nogueira reverteu um penálti sobre o portista Taremi.
Ao minuto 90+6, quando os ‘lobos’ ganhavam por 1-0 no Dragão, o ‘juiz’ deslocou-se ao monitor para conferir as imagens desse lance, mas deparou-se com alegados problemas técnicos e teve de recorrer à via telefónica para contactar com Rui Oliveira, o VAR desse jogo, antes de chamar os treinadores de cada equipa para transmitir a sua decisão final.
“As pessoas não sabiam que já havia um plano B para o caso de a comunicação falhar e poder entrar como recurso o tal telemóvel que estava credenciado para o efeito. Foi mais especulação por desconhecimento do que uma falha, porque esta aconteceu no sistema, mas não no plano da arbitragem. A decisão correta foi tomada, o que é elogiável”, notou.
Essa foi a partida com mais tempo de compensação na I Liga, ao registar 25 minutos, 22 dos quais na segunda parte, momento em que, após o penálti revertido a Taremi, Galeno desperdiçou novo castigo máximo, aos 90+15, e Evanilson impôs o 1-1 final, aos 90+19.
“Os árbitros começaram por levar à letra as instruções que receberam para serem muito mais rigorosos na contagem das paragens, que poderiam, depois, levar a mais tempo de descontos. Entretanto, e parece-me que muito bem, existiu uma inversão de estratégia, porque se percebeu claramente que havia um exagero. Ou seja, tínhamos embates com mais do que uma parte de prolongamento e isto não é razoável”, ilustrou Duarte Gomes.
Logrado um “ponto de equilíbrio muito justo”, que levou a uma média de 9,46 minutos de compensação nos 306 duelos da prova, o antigo árbitro da associação de Lisboa, de 51 anos, exalta a queda gradual do número de faltas e a percentagem média de 54,95% de tempo útil de jogo, mas pede contributos globais na evolução constante desses registos.
“Os árbitros não conseguem resolver este problema sozinhos. Se cada equipa optar por uma abordagem de maior desportivismo e com menos quedas falseadas, simulações de lesões, perdas de tempo deliberadas nas bolas paradas ou demoras nas substituições, o jogo também terá muito mais tempo útil a contar. Isto é um esforço coletivo. Não estando num ponto ideal, a parte dos árbitros já evoluiu bastante”, frisou o comentador televisivo.
Comentários