Há exatamente 17 anos, a 25 de janeiro de 2004, Portugal assistiu a um dos momentos mais difíceis e marcantes do futebol nacional quando Miklos Fehér caiu inanimado no relvado do D. Afonso Henriques. O avançado húngaro de 24 anos sofreu uma cardiomiopatia e, apesar da ajuda médica, o então jogador do Benfica não resistiu e acabou por morrer.
Nos minutos finais do encontro, depois de sorrir ao árbitro Olegário Benquerença, que lhe mostrara um amarelo, Fehér debruçou-se sobre si próprio e caiu fulminado no relvado, para desespero de todos à sua volta, que logo pressentiram o pior.
O jogo entre os ‘encarnados’ e o a equipa de Guimarães estava a ser transmitido em direto com milhares de pessoas a assistirem à ‘queda’ de Fehér enquanto os colegas de equipa choravam copiosamente no relvado. José António Camacho era treinador e mesmo ele não conseguia conter as lágrimas.
No momento todos perceberam a gravidade da situação, com colegas e adversários em pânico enquanto as equipas médicas tentavam a reanimação, mas Fehér viria a ser declarado morto às 23:10 do mesmo dia, já no hospital.
A autópsia realizada a Fehér acabou por revelar-se inconclusiva, mas os exames complementares, resultantes do processo-crime aberto e, depois, arquivado, indicaram que o futebolista sofria de uma malformação cardíaca, nunca antes detetada.
O último sorriso
Toda a situação deixou marcas no clube da Luz, que desde então promoveu iniciativas para homenagear o seu jogador.
O número “29” foi retirado do plantel – nenhum outro futebolista o poderá vestir -, nesse mesmo ano o Benfica dedicou a Fehér o triunfo na Taça de Portugal (2-1 com o FC Porto de José Mourinho) e colocou um busto do jogador no átrio da porta 18 do Estádio.
A par disto, o Benfica instituiu o prémio Miklos Fehér, que todos os anos distingue professores e alunos que se notabilizem em diversas áreas na antiga escola do jogador, em Gyor, na Hungria, e que os traz anualmente a Lisboa.
A sua morte, que sucedeu poucos meses depois da do camaronês Marc-Vivien Foé, em pleno jogo da Taça das Confederações (2003), devido a uma cardiomiopatia hipertrófica, reforçou a questão da morte súbita.
O tema tem suscitado muitos debates e tentativas de despiste, apesar de continuarem a suceder “casos” nos recintos desportivos, também é maior o "alerta clínico" em relação a quaisquer fragilidades. Apesar dos esforços para a consciencialização do problema, em menos de um mês, já faleceram dois atletas em 2021.
O basquetebolista Paulo Diamantino morreu a 8 de janeiro, durante um encontro entre o Mirandela Basket Clube e o Juventude Pacense, da II divisão. Ainda que foram tentadas manobras de reanimação durante cerca de uma hora, mas o atleta acabou por não resistir.
O jogador estava a preparar-se para entrar para a segunda parte do encontro, que se disputava em Paços de Ferreira, quando caiu inanimado.
Pouco mais de 24 horas antes, o futebolista brasileiro Alex Apolinário, que representava o Alverca, do Campeonato de Portugal, engrossou a lista de desportistas que desapareceram a competir em solo nacional.
O médio, de 24 anos, caiu inanimado aos 27 minutos do jogo frente ao União de Almeirim (0-0), da 10.ª ronda da Série F do terceiro escalão, no Complexo Desportivo do Futebol Clube de Alverca, sem que estivesse a disputar qualquer lance.
Alex Apolinário sofreu uma paragem cardiorrespiratória e foi transportado para o Hospital de Vila Franca de Xira pelos bombeiros de Alverca, que realizaram manobras de reanimação no relvado, tendo estado internado em coma induzido nos últimos dias de vida.
Nunca esquecido
Em Portugal, Fehér não vestiu apenas as cores do Benfica, mas também do FC Porto, para o qual se transferiu em 1998 do Gyori Eto, do Salgueiros e Sporting de Braga, por empréstimo dos portistas, e do FC Porto B, antes de assinar pelo clube da Luz.
Mas, mais que o percurso, foi o último sorriso do avançado húngaro que marcou a mente de muitos. 17 anos depois, Miklos Fehér continua a ser lembrado pelos amantes do desporto-rei e pelo clube que representava na altura do seu desaparecimento.
17 anos depois, o Benfica não esquece "Miki".
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