No final do jogo da última jornada da I Liga, em que o Sporting perdeu com o Marítimo na Madeira e assim o segundo lugar da tabela, os adeptos do Sporting que acompanharam a equipa à Madeira manifestaram de forma veemente o seu desagrado junto do treinador e da equipa, chegando a registar-se tentativas de agressão a jogadores no aeroporto e insultos e protestos à chegada da comitiva a Lisboa e ao estádio de Alvalade.

Bruno de Carvalho assume que o terceiro lugar "foi um rude golpe no planeamento da próxima época"
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Na sequência destes acontecimentos, a SAD reuniu-se com a equipa técnica, os jogadores e os médicos, tendo surgido notícias de que Jorge Jesus fora suspenso e alvo de um processo disciplinar, pelo que já não iria orientar a equipa na final da Taça de Portugal, no Jamor, no sábado.

Porém, o presidente do Sporting negou que alguém tivesse sido suspenso no clube, contrariando as notícias que davam conta da suspensão e de um processo disciplinar ao treinador da equipa principal de futebol, Jorge Jesus.

Antes do jogo com os insulares, Jorge Jesus foi questionado sobre as palavras do pai de Bruno de Carvalho numa publicação no Facebook, na qual questionava o salário do treinador. O técnico disse que “de certeza” o presidente não se revia nas palavras do pai e Bruno de Carvalho respondeu.

“[Jorge Jesus] Tem o direito de ter opinião. Também tinha pedido internamente às pessoas para não comentarem o caso e, por isso, tenho pena que comentem. Não estou muito de acordo com o que o meu pai disse, mas tenho orgulho por ser meu pai. Ao menos deu a cara. Jorge Jesus também não gosta, apesar de serem amigos, quase irmãos, das alarvidades de Octávio Machado, Rui Santos e João Bonzinho. Tenho a certeza que não se revê nas alarvidades e mentiras”.

Voltemos ao início, onde tudo começou

O verão de 2015 foi um dos mais quentes, pelo menos ali na 2.ª Circular, com a mudança de Jorge Jesus para o Sporting, depois de seis épocas ao serviço do Benfica.

Saiba tudo do processo Benfica vs Jorge Jesus
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O Benfica e Jorge Jesus não chegaram a um acordo na tentativa de conciliação no tribunal do Barreiro, que visava evitar um julgamento. O processo foi mesmo a julgamento, um ano depois dos acontecimentos que marcaram a sua saída para o Sporting. O clube encarnado exigia 14 milhões de euros de indemnização ao seu antigo treinador por incumprimento de contrato, contatos mantidos com um funcionário do Sporting ainda durante a vigência do anterior vínculo e apropriação de 'software' confidencial do clube, acusando o treinador português de ter rescindido unilateralmente “e sem justa causa” o seu contrato no início de junho, situação pela qual teria de pagar uma indemnização de 7,5 milhões de euros ao clube da Luz. Além disto, acusa o técnico de ter assinado um novo contrato com o Sporting a 5 de junho, portanto, ainda dentro do vínculo com o Benfica.

Chegada ao Sporting

No dia 5 de junho, Bruno de Carvalho deu uma conferência de imprensa a anunciar formalmente a contratação de Jorge Jesus, que viria a ser oficialmente apresentado em Alvalade no dia 1 de julho, ou seja, um dia depois do fim formal do contrato com o Benfica.

Jesus chora na apresentação como treinador do Sporting
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O site Football Leaks revelou o pedido de esclarecimento da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) ao Sporting e a resposta dos leões, onde se revela através do administrador leonino Carlos Vieira que os contactos com Jorge Jesus se iniciaram “terça-feira, dia 2 de junho, com uma reunião à hora do jantar”, na “presença de Jorge Jesus, do seu advogado Luís Miguel Henrique e de Bruno de Carvalho”. “Na quarta-feira, dia 3, foi assinado um princípio de acordo”, refere a nota, onde se esclarece ainda que nesse documento foi estipulada “a duração do contrato e o valor da remuneração fixa”.

O primeiro contrato de Jorge Jesus terminava em junho 2018, porém, em maio de 2016, e depois de alguma especulação quanto ao futuro do técnico, o contrato foi renovado até 2019.

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Após o final do jogo da 10.ª jornada da I Liga de futebol, a 06 de novembro, que os ‘leões’ venceram por 3-0, Bruno de Carvalho e Carlos Pinho desentenderam-se na zona dos balneários, levando mesmo à intervenção dos ‘stewards’ e da Polícia de Segurança Pública (PSP).

"Uma imagem vale por mil palavras. Vi um presidente sereno, com um comportamento estável e à altura da responsabilidade do momento", disse Jorge Jesus, em defesa do seu presidente, dizendo que este atuou de forma adequada.

Um mês depois, em declarações ao Correio da Manhã, Bruno de Carvalho elogiou o treinador, dizendo que o salário do treinador até era “pouco”: “Fizemos as duas vendas mais caras de sempre da história do clube. Até acho que é barato. Acha que aquele abraço no final do dérbi foi hipocrisia? Não foi, estamos unidos no projeto. É o treinador deste projeto vencedor e não vai sair”.

Jesus, o braço direito de Bruno de Carvalho

No início do ano de 2017, Bruno de Carvalho começava a preparar a renovação do seu mandato como presidente do Sporting e pediu ao seu treinador para fazer parte da Comissão de Honra da sua lista.

Jesus, Nani e Cantona na Comissão de Honra da recandidatura de Bruno de Carvalho
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“Tenho o privilégio e o orgulho de poder contar na minha Comissão de Honra com o treinador Jorge Jesus”, escreveu na altura no Facebook. Carvalho, na altura das eleições concedeu uma entrevista ao semanário Sol a explicar que nunca lhe passou pela cabeça demitir Jesus do comando técnico.

“Nem pouco mais ou menos. Nunca, nunca. Era o dia em que me estava a acontecer o que acontece aos iogurtes: os iogurtes são muito bons mas têm prazo de validade. A certa altura aquilo começa a estragar e temos de os deitar para o lixo. Era o dia em que estava completamente louco, porque pôr em causa o projeto por um mau momento seria não perceber nada do que se está a construir. Não tenho dúvida nenhuma de que muita gente que disse muita coisa vai-se arrepender porque eu e os sportinguistas vamos ser muito felizes com este treinador e acumular vários títulos. Por isso jamais em tempo algum me passou isso pela cabeça. Continuo a dizer: aí era o momento em que o adepto Bruno de Carvalho tinha de afastar o Presidente, porque o Presidente não estava bem”.

Em março, já como as eleições ganhas, disse ao Record que sempre foi sua intenção era manter Jorge Jesus até ao final do mandato, ou seja, até 2021.

A tensão pós-Madrid

Após a derrota na capital espanhola, na primeira mão dos ‘quartos’ da Liga Europa, Bruno de Carvalho lamentou os “erros grosseiros” de futebolistas experientes como Coates e Mathieu, criticando ainda Gelson Martins, por desperdiçar uma ocasião de golo, Fábio Coentrão e Bas Dost, por terem sido admoestados com cartão amarelo e falharem o segundo jogo.

Estas palavras não caíram bem nos jogadores do Sporting, assim como a ausência de apoio do presidente do clube. Depois, partilharam uma mensagem nas redes sociais.

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"Somos Sporting Clube de Portugal, em nome do plantel, somos a informar o seguinte... Suamos, lutamos e honramos sempre a camisola que vestimos. Não somos perfeitos e não acreditamos em jogadores perfeitos, porque queremos sempre evoluir! Não existem jogadores nem equipas perfeitas, mas quando as coisas não correm como queremos, sabemos assumir as nossas responsabilidades. Todos nós temos de o fazer!", começa por referir a mensagem.

Bruno de Carvalho não gostou do que leu e anunciou a suspensão dos jogadores que o criticaram, chamando-lhes de ”miúdos mimados”. O castigo acabou por ser levantado depois de uma reunião de emergência, mas o ambiente em Alvalade não mais foi o mesmo.

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Acredita-se que a pessoa por detrás do levantamento desta suspensão foi mesmo Jorge Jesus: "Tivemos uma reunião com presidente, treinador e jogadores. Tudo o que se passou fica no seio da equipa. O presidente deu-me liberdade para convocar os jogadores que eu queira. Vou fazer a convocatória de uma forma normal", disse o técnico na antevisão ao desafio com o Paços de Ferreira, da 29.ª jornada da I Liga.