O antigo vice-presidente do Benfica, Gaspar Ramos, não está surpreendido com silêncio de Luís Filipe Vieira em relação às possíveis contratações e vendas de jogadores encarnados. Depois de uma época em que quase conquistou tudo a nível do futebol, o Benfica encara a próxima temporada num clima de incerteza.

Em entrevista ao SAPO Desporto, Gaspar Ramos, antigo presidente do clube da Luz, lembrou que no tempo que precedeu as Sociedades Anónimas Desportivas, os clubes também tinham de equilibrar os seus orçamentos, e que é natural esta redução de investimento verificada no Benfica.

"Antes das SADs também tínhamos de encontrar financiamento e vender jogadores para equilibrar o orçamento. Depois íamos buscar outros a preços bastante mais baixos, mas eram contratações cirúrgicas, só para os lugares onde tínhamos carências. E depois era um ciclo vicioso, valorizavam-se os jogadores e lá tínhamos nós de equilibrar o orçamento vendendo um ou dois jogadores", começou por dizer o antigo dirigente do Benfica.

"A situação no fundo era idêntica numa escala diferente em relação a valores, mas idêntica em relação ao equilíbrio orçamental que tem de ser feito. A situação em relação à gestão do futebol é igual tanto num clube através de uma SAD: tem de haver equilíbrio. E se tal não se faz a determinada altura, o desequilíbrio vai aparecer mais à frente", relembrou Gaspar Ramos.

"Alguém tem de pagar quando o dinheiro não é nosso"

Questionado sobre a possível ligação entre a crise bancária e as recentes vendas de ativos do Benfica, Gaspar Ramos não se mostrou surpreendido e lembra que, "alguém tem de pagar quando o dinheiro não é nosso".

“Não fiquei surpreendido, admiti como uma situação normal, e agora ainda muito mais agravada devido à situação financeira ligada à banca, que está com problemas e com as exigências perante os clubes sem disponibilidade para financiar, isso obriga a que se tenha de por cobro a um determinado tipo de situações que com dinheiro à disposição, quanto mais não fosse o dinheiro da Banca, era mais fácil de gerir. Era comprar, comprar e logo se via, mas alguém tem de pagar quando o dinheiro não é nosso”, frisou o antigo vice-presidente do Benfica.

"Às vezes quanto mais se fala pior"

Em relação ao silêncio de Luís Filipe Vieira sobre a próxima época, Gaspar Ramos concorda com a política de comunicação do presidente do Benfica, pois considera que "às vezes quanto mais se fala pior".

"Acho que o silêncio é bom sobretudo nesta altura. Às vezes quanto mais se fala pior. Ele ainda não sabe como é que o plantel vai ficar, se ainda há mais jogadores para sair, se calhar há. Ainda não estão definidas algumas entradas para compensação desses jogadores. Às vezes é preferível estar calado do que falar sem dar garantias do que vai ser o futuro próximo. Quando acabar este período em que se define o plantel, a partir daí pode dar alguma satisfação. Até lá acho muito bem que esteja calado", atirou Gaspar Ramos.

"Jogadores da formação precisam é de jogar. No Mónaco e no Valência não vão jogar"

Já sobre a política de empréstimos de jogadores formados no Benfica a clubes como Mónaco ou Valência, Gaspar Ramos é mais crítico com a direção técnica.

"Alguns jogadores da formação serão emprestados a clubes como o Mónaco e o Valencia. Acho que é importante emprestá-los. Se não ficam no plantel é necessário emprestá-los para eles criarem ritmo de jogo e competição e tudo isso, e a clubes de primeira divisão para jogarem. Agora se vão ser emprestados a clubes como o Mónaco ou Valência onde não vão jogar provavelmente, dado o valor desses planteis, acho que não é boa opção", começou por dizer Gaspar Ramos.

"Até para jogadores (como o Bernardo Silva e o João Cancelo) deste nível que já jogaram na equipa B era importante jogarem em equipas da primeira divisão. É preciso é que vão e joguem. Acompanhados, com os treinadores que nos conheçam e que estejam bem identificados com o Benfica para serem observados. Agora, serem emprestados a clubes como Mónaco ou Valência que têm planteis riquíssimos não vão jogar. Se não jogar, o jogador não vai ser beneficiado e o Benfica também não porque eles não vão ter competição que depois seria necessário para poderem vir a ser titulares do Benfica", sentenciou o antigo dirigente do Benfica.

Em jeito de conclusão, Gaspar Ramos prevê muito equilíbrio entre os três grandes para a próxima época, uma vez que FC Porto e Sporting também já começaram a mostrar sinais de contenção financeira.

"O Benfica tinha um plantel muito rico no ano passado, esta ano mesmo saindo alguns jogadores ficaria sempre com uma base que lhe permite fazer menos contratações que os restantes adversários. Apesar de tudo fez algumas, e algumas que não deviam ter sido feitas porque alguns jogadores entraram e já estão em vias de sair. Eu penso que não é só o Benfica, é uma situação que está a acontecer com os clubes todos. O Sporting també já começou a equilibrar e o FC Porto que aparentemente tem feito grandes contratações, as mais sonantes têm sido emprestados. Acho que vai haver um maior equilíbrio entre os grandes porque o ano passado o Benfica tinha um plantel muitíssimo bom, com uma grande diferença em relação aos outros. Esta época não vai ser assim, vai ser muito mais equilibrada", sentenciou.