O vídeo-árbitro foi o tema de abertura do IV Congresso 'O Futuro do Futebol', organizado pelo Sporting. Num painel subordinado ao tema ‘Vídeo-árbitro: presente e futuro’, moderado por Keith Heckett, antigo árbitro inglês, os presentes foram brindados com a experiência do VAR em três países: Portugal, Alemanha e Estados Unidos da América e ainda a perspetiva da Internacional Board

E com isso foi possível verificar pontos em comum, mas também diferenças na aplicação da tecnologia e para onde caminha.

EUA, modelo a seguir

E as diferenças principais chegam da Major League Soccer, dos EUA. A tecnologia foi implementada esta época, mas antes, houve treinos intensivos durante seis meses, com árbitros, televisões e ainda explicações para os adeptos, tanto nos estádios como nas televisões que transmitem as partidas. Uma das medidas foi contratar o antigo árbitro inglês Howard Webb, que deu formação a árbitros, mas também foi a vários programas de televisão e deu muitas entrevistas onde promoveu a tecnologia.

Outra diferença passa também pela comunicação com os adeptos nos estádios. As imagens consultadas pelo árbitro principal numa determinada decisão são passadas a seguir nos ecrãs dos estádios, após o recomeço do jogo, para que os presentes possam ver em que se baseou o juiz do encontro. Greg Barkey, diretor técnico da MLS, explicou ainda que os árbitros mais novos estão mais à-vontade com a tecnologia, mas tem mais dificuldades em tomar decisões, precisam de mais tempo para ver as jogadas, ao contrário dos árbitros mais experientes. E isso tem um custo no tempo de jogo.

Com o passar do tempo, o número e tempo das interrupções baixaram drasticamente. "Agora os árbitros só vão ver o que realmente interessa. Mas o que dizemos é: 'Se está a demorar imenso tempo para ver a jogada, demasiadas repetições, à procura de algo, é porque não há nada", disse Greg Barkey. As 'zonas cinzentas' continuam a ser o principal obstáculo, mas o responsável recorda que o VAR não vai acabar com os erros de arbitragem. Por isso, só deve intervir em situações onde é claro o erro do árbitro. Situações dúbias ficam nas mãos do árbitro principal.

Alemanha: da confusão inicial à especialização

A experiência alemã não difere muito da norte-americana. Antes da implementação, foi preciso dar formação a árbitros, mas também aos clubes, jogadores e ainda adeptos.

No início havia muitas interrupções, muitas paragens, mas, com o tempo, o tempo e número de interrupções por causa do VAR diminuíram drasticamente.

Na sua intervenção, Florian Goette, responsável pelo departamento de arbitragem na Federação Alemã de futebol, explicou que as muitas intervenções do VAR no início estavam a frustrar o público, tanto no estádio como os que viam os jogos pela televisão. A interrupções de jogo baixaram tanto no número como no tempo, numa média de um minuto por cada paragem.

O responsável frisou que o futuro passa também por uma maior especialização dos vídeo-árbitros.

O VAR em Portugal: menos faltas, menos amarelos, mais vermelhos

Em Portugal, a experiência inicial foi um pouco similar a alemã, com muita formação. José Fontelas Gomes, Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, garantiu que os árbitros continuam a ter treinos três vezes por semana. Tal como na Alemanha (onde está tudo centrado em Colónia), há um centro de VAR situado na Cidade do Futebol. Ao todo, 22 árbitros de primeira categoria têm desempenhado a função de vídeo-árbitro, sendo que há 44 árbutos assistentes com a função de auxiliar de VAR.

Em termos de números, Fontelas Gomes explicou que já foram acompanhados 319 jogos com VAR, 243 na Primeira Liga. Ao todo foram visionados 1575 vídeos, com 79 decisões revertidas nos 243 jogos. Há uma decisão revertida em cada quatro jogos.

Desde a implementação do VAR na Primeira Liga, a Federação verificou que há menos cartões amarelos, menos faltas e mais situações de cartões vermelhos detetados, graças a tecnologia.

Futuro do VAR passa por numa maior e melhor comunicação

O futuro da tecnologia passa por mostrar nos ecrãs dos estádios as mesmas imagens que estão a ser vistas pelo árbitro, de forma a que o público no estádio possa ter a mesma experiência de quem vê o jogo em casa pela televisão. Florian Goette, responsável pelo departamento de arbitragem na Federação Alemã de futebol, explicou que outra decisão poderá passar por exibir um texto com as comunicações entre o árbitro principal e o VAR ou então que seja o próprio árbitro a falar para um microfone, explicando a sua decisão aos adeptos, envolvendo-os mais no jogo.

Esta experiência de mostrar as imagens nos ecrãs do estádio já foi levada a cabo nos Estados Unidos, em alguns jogos da MLS, mas ainda em fase experimental.

Outra questão levantada é o das câmaras em cada jogo. E aqui não é tanto os números, mas a posição, como explicou Lukas Brud, presidente do International Board.

"Vamos analisar e ver quais as câmaras recomendadas. O número não é tão importante, mas sim a sua posição em campo, ter câmaras mais afastadas. Também há produtores diferentes, cada um oferece uma imagem diferente. Mas é preciso uniformizar as coisas, queremos regulamentar a posição das câmaras em campo e também o seu número", disse o responsável da International Board.

Uma das grandes questões em que tem dominado as discussões sobre as decisões tomadas pelo árbitro com auxilio do VAR é o facto de muitos nem precisarem de ver as imagens para decidir. Algo que nem sempre é compreendido pelos adeptos. Florian Goette lembra que o papel do árbitro e do VAR são diferentes, logo é preciso separar as 'águas'.

"O papel do árbitro e o papel do vídeo-árbitro são diferentes. Quando os árbitros tomam decisões baseadas em comunicações com o VAR sem consultar as imagens, há menos aceitação por parte do público do que quando vai ao ecrã ver a jogada. É preciso haver a perceção do público que o árbitro principal é campo é quem toma as decisões e não por alguém fechada numa sala escura", frisou.
O IV Congresso 'O Futuro do Futebol', organizado pelo Sporting, decorre entre 21 e 22 de março, no Pavilhão João Rocha.