O ano de 2024 no Benfica foi marcado por várias turbulências no que diz respeito ao futebol profissional. Roger Schmidt, que assumiu o comando da equipa em julho de 2022, começou por conquistar os adeptos e a direção, com o bom futebol praticado que culminou no título conquistado em 22/23, após o título do FC Porto.
O treinador germânico implementou um estilo bastante ofensivo no futebol encarnado, com pressão alta sobre o adversário. O exigente estilo do germânico exigia um grande comprometimento tático e físico por parte da sua equipa. Schmidt começou muito bem nas águias, fruto de um futebol fluído e ofensivo, conquistando vitórias importantes, e implementando um jogo atraente.
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À frente da equipa encarnada, o alemão conseguiu chegar aos quartos de final da Liga dos Campeões, onde só caiu frente ao Inter, em duas mãos, depois de uma derrota na Luz (0-2), e de um empate em Itália a três bolas (3-3).
Em 22/23, os encarnados venceram o campeonato com 87 pontos, com apenas mais dois pontos de vantagem sobre o FC Porto, depois da baixa de forma das águias no último terço da época desportiva.
Face ao grande arranque de Schmidt, liderava na altura o Benfica o campeonato, com vários pontos de avanço sobre o segundo classificado, e com os quartos de final assegurados, Rui Costa avançou para a renovação do técnico, explicando mais tarde a decisão aquando da saída do germânico. "Em relação ao futebol, fiz uma aposta de renovação do treinador [Roger Schmidt] que tínhamos. Renovei o contrato quando tínhamos 10 pontos de avanço e jogaríamos os quartos de final da Liga dos Campeões com o Inter. Nessa semana, estávamos todos orgulhosos... Pergunto quem apostaria que o Benfica não seria campeão a nove jornadas do fim como estávamos a jogar e antes dos quartos de final, quando talvez nunca tenha havido tanta esperança de chegar à final [da Liga dos Campeões]? Quem duvidava naquele momento do trabalho que estava a ser feito e que iríamos ser campeões?", atirou.
No arranque da época seguinte, e com o estatuto de campeão nacional, esperava-se que o Benfica continuasse no mesmo nível. A verdade é que Roger Schmidt não foi capaz de manter o rumo da nau encarnada. Independentemente do grande desempenho do rival Sporting, e que levaria os leões à conquista do título, a verdade é que o futebol que tanto entusiasmava os adeptos encarnados ficou guardado em 2022/23.
Houve várias razões que justificaram a queda de Roger Schmidt: A falta de rotatividade do plantel que levou ao desgaste físico e mental dos titulares; o alemão teve também dificuldade em adaptar a estratégia a nível tático, depois dos adversários terem começado a perceber de que forma o Benfica atuava. Mesmo na época de 22/23, em que o Benfica acabou por se sagrar campeão, o último terço da competição acabou por ser algo sofrível para as águias, e a eliminação da Champions e os empates em alguns jogos acessíveis na Liga portuguesa acabaram por terem peso na perda de credibilidade do timoneiro. Schmidt também foi alvo de pressão interna e externa e enfrentou duras críticas por parte da imprensa.
No início da época de 23/34, a direção liderada por Rui Costa decidiu dar um voto de confiança ao treinador, mesmo apesar da decepcionante época e do 'pouco futebol' colocado em campo pela equipa encarnada.
Contudo, ao cabo de quatro jornadas, Rui Costa acabou por tomar a decisão de despedir o técnico, saída culminada após o empate em Moreira de Cónegos, depois da derrota na estreia do campeonato frente ao Famalicão (2-0), e mesmo que pelo meio tivesse vencido Casa Pia (3-0) e Estrela da Amadora (1-0).
Foi Schmidt que acabou com o hiato de conquistas de campeonatos nacionais, tendo ainda vencido a Supertaça perante o FC Porto.
A segunda temporada ficou muito aquém do expectável, com uma quebra considerável no futebol praticado, uma queda abrupta na Liga dos Campeões, depois de quatro derrotas, um empate e uma vitória e depois a eliminação nos quartos de final da Liga Europa frente ao Marselha. As águias ficaram-se pelo segundo lugar do campeonato, a 10 pontos do campeão Sporting. A época ficou ainda naturalmente marcada pela goleada sofrida frente ao FC Porto, uma das mais pesadas dos últimos anos, em março deste ano, que claramente teve peso no desgaste da imagem do treinador.
Contestação à direção de Rui Costa
Com as próximas eleições no horizonte (em 2025) Rui Costa terá naturalmente que apresentar resultados desportivos e financeiros, se se quiser manter no cargo no próximo mandato.
Ao nível da equipa de futebol 'chicotada psicológica' acabou por ter efeitos, com o regresso de Bruno Lage e já a apresentar resultados. Para já, o técnico leva 16 vitórias, dois empates, e duas derrotas, com o destaque para goleada imposta frente ao FC Porto de Vítor Bruno, uma espécie de 'revenche' aplicada aos azuis e brancos depois da 'mão cheia' no Dragão. O técnico luso recuperou o plantel a nível amimico, colocou as pedras nos sítios certos, e rentabilizou algumas das maiores figuras, como foram os caso de Aursnes, mas sobretudo de Di María que se está a exibir a grande nível no arranque da época.
Para já, Lage teve o mérito de conseguir unir a melhor estratégia às características dos jogadores, fez o Benfica acreditar e pode colocar um 'pouco água na fervura' no que diz respeito à contestação interna, servindo de balão de oxigénio para esta direção. Veremos o que acontece daqui para a frente, sabendo-se de antemão que no futebol só vale o momento, que o diga o Amorim, que de autêntico Deus em Alvalade, atravessa ao virar do ano uma situação muito complicada ao serviço do Manchester United. Contudo, continuam faltar soluções a este Benfica, que teima em não acertar no que diz respeito a reforços, sobretudo na posição de ponta de lança. Antes do virar do ano, os encarnados não conseguiram segurar a liderança do campeonato, depois da derrota em Alvalade frente ao Sporting, o que coloca algumas interrogações em relação ao que poderá fazer a equipa no que resta da temporada.
Ao longo de 2024, o presidente das águias foi alvo de muita contestação, fosse pela saída de João Neves, ou nas Assembleias-Gerais, onde foi confrontado por diversas vezes, ouvindo também, alto e a bom som, pedidos que reclamavam a sua demissão. Em julho de 2024, Rui Costa sofreu a ira dos sócios devido ao desempenho desportivo da equipa principal de futebol e à gestão no clube. O presidente do Benfica reconheceu que o desempenho do Benfica ficou aquém das expetativas. "Sim, foram cometidos erros que já estão identificados e vão certamente ser corrigidos para esta nova temporada", referiu.
Em setembro de 2024, o ex-presidente Luís Filipe Vieira criticou publicamente Rui Costa, questionando a sua liderança e as decisões tomadas à frente ao clube. "Não era delfim. Peço desculpa aos benfiquistas porque enganei-me", referiu, sobre o facto de o ter apontado como futuro presidente.
Casos de Justiça a 'assombrarem' o Benfica
Em 2024, o Benfica enfrentou também desafios no âmbito judicial. Investigações relacionadas com alegadas irregularidades financeiras e contratos desportivos envolveram o clube, resultando em processos que afetaram a imagem institucional. Embora a direção tenha colaborado com as autoridades, os casos judiciais contribuíram para um ambiente de instabilidade e de críticas por parte dos sócios e adeptos.
Esquemas de desvio de fundos
Em maio de 2024, surgiram na imprensa notícias em torno de uma investigação do MP sobre um alegado esquema de desvio de dinheiro de cerca de seis milhões de euros dos cofres do Benfica, através de falsos contratos de intermediação, na compra e venda de jogadores. Rui Costa foi apontado como suspeito, juntamente com Luís Filipe Vieira, Domingos Soares de Oliveira e Paulo Gonçalves.
Acusações de Corrupção Desportiva e Fraude Fiscal
Em outubro de 2024, o Ministério Público (MP) acusou a SAD do Benfica e o ex-presidente Luís Filipe Vieira de corrupção desportiva e fraude fiscal. As acusações referem-se a alegados esquemas de manipulação de resultados entre 2016 e 2019, envolvendo operações fictícias com o V. Setúbal. O MP solicitou a suspensão do Benfica de todas as competições desportivas em caso de condenação.
Em 2025, deverá ter início o julgamento do chamado caso dos emails, depois do Benfica ter confirmado que não vai requerer a fase de instrução no processo dos e-mails pelo que este avança de imediato para julgamento. Recorde-se que Benfica SAD, o antigo presidente Luís Filipe Vieira e o ex-assessor jurídico da SAD encarnada Paulo Gonçalves foram acusados de corrupção pelo Ministério Público no âmbito do caso dos emails.
Em resumo, 2024 foi um ano de desafios para o Benfica, com mudanças na equipa técnica, contestação à liderança de Rui Costa e questões judiciais que impactaram o clube.
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