Aconteça o que acontecer este fim de semana, uma coisa é certa: o Benfica jogará o clássico na liderança. E pode agradecê-lo a Raúl Jiménez. O eterno suplente dos 'encarnados', tantas vezes solução para desbloquear jogos, assumiu de início o lugar de Jonas, que se lesionou no aquecimento, e fez os dois golos com que o emblema da Luz venceu o Vitória de Setúbal, já nos descontos. A equipa de José Couceiro, que ainda não havia perdido no seu terreno em 2018, entrou com tudo - Costinha inaugurou o marcador logo aos 3 minutos -, fez um segundo tempo de grande qualidade, mas teve em Luís Felipe - recém-entrado e a estrear-se na Liga - todo o azar do mundo.

Mas recuemos 90 minutos no relógio.

O jogo ainda não tinha começado no Bonfim quando Rui Vitória sofreu a primeira contrariedade. Jonas abandonou o aquecimento com dores na região lombar, levando o técnico dos 'encarnados' a chamar Jiménez para a frente de ataque. O avançado mexicano não era titular desde a visita das ‘águias’ a Old Trafford, para a Liga dos Campeões. Ficou ainda a dúvida se o brasileiro estará em condições de defrontar o FC Porto, na próxima jornada.

O treinador das 'águias' viu-se assim obrigado a desfazer um onze com cem por cento de vitórias, e que não sofria mexidas desde a lesão de Salvio - voltou a começar a partida no banco -, há praticamente dois meses. A saída de Jonas foi, de resto, a única mudança na equipa benfiquista, mesmo com Ljubomir Fejsa e Jardel em risco de não jogarem o clássico. 

Quanto ao Vitória de Setúbal, destaque para a não inclusão de João Amaral na ficha de jogo. Para os lugares de Patrick e João Teixeira, que não puderam alinhar esta noite por estarem cedidos pelo Benfica, José Couceiro apostou em Arnold e Wallyson (jogador emprestado pelo Sporting).

O jogo ainda mal tinha começado quando Rui Vitória sofreu a segunda contrariedade. Costinha só precisou de três minutos para inaugurar o marcador, e fê-lo no primeiro remate dos sadinos à baliza, a aproveitar uma entrada frouxa do emblema da Luz. Nuno Pinto cruzou tenso para as costas da defesa encarnada, onde surgiu o extremo, a rematar de primeira de pé direito para o fundo das redes.

Em desvantagem e órfão da sua estrela maior, o Benfica não teve outra hipótese se não correr atrás do prejuízo. Ao minuto 7, Jiménez levantou em balão para a área, onde estava Franco Cervi, mas o remate de primeira saiu ao lado da baliza de Cristiano. Aos 14’, na sequência de um canto, a equipa ‘encarnada’ pediu mão na bola de José Semedo na área. O árbitro Luís Godinho não marcou qualquer infração.

O golo madrugador deixou o Vitória mais confortável no jogo, mas este nunca deixou de ameaçar, criando sempre algum desconforto na defesa adversária quando saía em transições rápidas para o ataque. Já o Benfica começava a revelar alguma intranquilidade, incapaz de abrir linhas de passe na defesa adversária. José Couceiro montou uma estratégia para anular o jogo interior de Pizzi e Zivkovic, obrigando as 'águias' a jogar quase exclusivamente pelos flancos.

Ainda assim, o Benfica foi subindo de rendimento e, a partir do minuto 27, foram quase de rajada as três oportunidades de que dispôs até ao empate. Primeira: Pizzi cruza bombeado para a entrada de Jardel; o cabeceamento do central ainda saiu com força, mas travado por Cristiano. Segunda: cruzamento de Zivkovic para o coração da área, Cervi estava em boa posição, mas Nuno Reis atrapalha o lance e a bola sai ao lado do segundo poste.

À terceira marcou mesmo. Aos 29’, Raúl Jiménez aproveitou a maré ofensiva do Benfica e a desatenção da defesa sadina para voltar aos golos. Rafa cruzou para o segundo poste, onde estava o mexicano, livre de marcação, que só teve de encostar para o fundo das redes. Há sete meses que o ponta de lança não marcava como titular no Benfica - a última vez tinha sido na Taça da Liga frente ao SC Braga, em setembro de 2017.

Seguiram-se momentos de alguma tensão nas bancadas - adeptos do Benfica que estavam a ver o jogo numa bancada da equipa da casa travaram-se de razões com apoiantes sadinos - que obrigaram à intervenção das forças policiais, mas nem assim o jogo 'arrefeceu' dentro das quatro linhas. Aos 39', Edinho colocou a bola dentro da baliza de Bruno Varela, mas o juiz assistente assinalou fora de jogo ao avançado vitoriano. No minuto seguinte, jogada de envolvimento pelo corredor esquerdo, com Cervi a cruzar para Jiménez. O mexicano amorteceu no peito, mas adiantou demasiado a bola, permitindo o corte da defesa adversária.

Fez mal o intervalo à equipa de Rui Vitória. Isto porque, ao contrário do que seria expectável, houve bem mais Vitória do que Benfica no segundo tempo. Uma vez mais, os 'encarnados' procuraram desequilibrar pelo corredor esquerdo, mas faltava-lhes o génio de Jonas. Não só pelos golos que marca, mas pela forma como mete os companheiros a jogar. Ao minuto 53', uma boa combinação entre Zivkovic e Cervi só não deu em algo mais, porque Semedo estava atento e afastou para canto. Pouco depois, foi a vez de Jiménez chegar atrasado a um cruzamento de André Almeida.

Face ao desacerto ofensivo do Benfica, o Vitória de Setúbal aproveitou para recuperar o fôlego e aos 63', Edinho falhou a oportunidade mais flagrante do jogo. Nuno Pinto deixou Grimaldo nas covas e cruzou atrasado para o avançado, aquele mesmo que apontou um póquer contra o Desp. Aves na última jornada, mas que desta vez atirou para as nuvens. No lance seguinte, André Pereira, jovem cedido pelo FC Porto, caiu na área com Jardel e pediu grande penalidade, mas Luís Godinho assinalou falta do jogador do Vitória, decisão muito contestada pelos adeptos da equipa da casa. 

Seguiram-se mais duas oportunidades para os setubalenses, com André Pereira e Wallyson a mostrarem muito futebol nos pés mas pouca pontaria. Rui Vitória não esperou mais e lançou Seferovic para o lugar de Rafa (66') - Zivkovic caiu para a esquerda - fazendo ainda entrar Salvio por troca com Grimaldo (77'). As substituições não surtiram qualquer efeito e o jogo do Benfica passou a assentar mais na fé do que na razão. Jiménez ainda tentou a sorte de 'bicicleta' (84'), mas Cristiano estava atento. Pouco depois, foi a vez de Salvio, isolado na cara do guarda-redes, rematar por cima da baliza.

Nesta altura, o Vitória estava mais preocupado em segurar o empate do que garantir os três pontos. Foi nesse sentido que Couceiro lançou em campo Pedro Pinto, Podstawski e, por fim, Luís Felipe, antigo jogador do Benfica. O lateral brasileiro tinha acabado de entrar quando resolveu puxar Salvio na área, já em cima do minuto 90, o que fez o árbitro apontar para a marca dos 11 metros. Raúl Jiménez, o homem que nunca falhou um penálti, manteve a estatística e acabou como o herói de um triunfo quase caído do céu, mas que deixa os 'encarnados' a quatro pontos do FC Porto, que só joga este domingo.