A associação cívica Transparência e Integridade saudou hoje o “maior envolvimento da justiça na investigação de suspeitas de corrupção” no futebol, na sequência da recente operação ´Jogo Duplo´.

Em comunicado, a associação sublinhou que o episódio, que resultou na detenção de 15 jogadores e dirigentes de clubes da II Liga, vem demonstrar “as fragilidades da governança do futebol português e as estruturas de oportunidade para a corrupção” que continuam a existir na modalidade.

“A prisão de 15 jogadores e dirigentes de clubes de futebol da II Liga, no passado sábado, por suspeitas de viciação de resultados, é um desenvolvimento positivo no sentido em que indicia um maior envolvimento da justiça na investigação de suspeitas de corrupção, mas não surpreende quem tem vindo a apontar as fragilidades da governança do futebol português e as estruturas de oportunidade para a corrupção que continuam a existir nesta modalidade”, pode ler-se.

Citado no comunicado, Marcelo Moriconi, o investigador da representante portuguesa da rede global anti-corrupção ´Transparency International´ observou que “há muito tempo que correm rumores sobre suspeitas de viciação de resultados nos jogos da II Liga, relacionados com as máfias internacionais de apostas desportivas”.

“Nesse sentido, as detenções deste fim de semana não são surpreendentes e chamam mais uma vez a atenção para a necessidade urgente de apertar os controlos e prevenir riscos de corrupção no futebol português", afirmou.

No comunicado, a associação recorda um estudo realizado há dois anos, que incluía um inquérito a árbitros portugueses, 23 por cento dos quais confessou ter ouvido relatos de resultados viciados e 48 por cento admitiu ter tido notícias de situações em que teriam sido oferecidas prostitutas a árbitros de futebol.

Os 15 detidos no âmbito da operação ‘Jogo Duplo’, por suspeitas de manipulação de resultados de jogos da II Liga de futebol, com recurso ao aliciamento de jogadores, começaram hoje a ser ouvidos em primeiro interrogatório judicial, em Lisboa.

As detenções pela Polícia Judiciária ocorreram no sábado, e entre os detidos estão quatro jogadores do Oriental de Lisboa, quatro futebolistas da Oliveirense, o presidente e o diretor do Leixões, além de outras cinco pessoas com ligações ao negócio das apostas desportivas.

Num comunicado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) explicava que no processo investigam-se “factos suscetíveis de integrarem crimes de corrupção passiva e ativa na atividade desportiva”, envolvendo como suspeitos “dirigentes e jogadores de futebol” e outras com “ligações ao negócio das apostas desportivas”.

A operação ‘Jogo Duplo’ resultou nas detenções de quatro futebolistas do Oriental (João Pedro, André Almeida, Rafael Veloso e Diego Tavares), outros tantos da Oliveirense (Luís Martins, Pedro Oliveira, Ansumane e Hélder Godinho) e mais dois que alinharam na equipa de Oliveira de Azeméis esta época (Moedas e João Carela), agora no Estarreja.

O presidente da SAD do Leixões, Carlos Oliveira, e o diretor desportivo, Nuno Silva, o ex-futebolista Rui Dolores. ‘Aranha’ e Custódio, dois elementos associados aos SuperDragões, claque do FC Porto, também foram detidos pela Polícia Judiciária.

Os detidos são suspeitos de “manipulação de resultados de jogos da II Liga de Futebol, com recurso ao aliciamento de jogadores”, esclarece ainda a nota da PGR.

A operação ‘Jogo Duplo’ realizou buscas em 30 locais e envolveu mais de 70 inspetores e as detenções aconteceram depois dos jogos da última jornada da II Liga.