Alguns covilhanenses têm sido surpreendidos quando recebem em casa a refeição encomendada e é o subcapitão do Sporting da Covilhã, Joel Vital, da II Liga de futebol, o estafeta que a vai entregar.
A pensar no futuro, mas também fruto do seu gosto pela cozinha, o defesa central, de 32 anos, inaugurou um restaurante, de gama média-alta, no final de fevereiro, longe de imaginar que a covid-19 viria a obrigar a encerrar o espaço poucos dias após a inauguração.
Com um "investimento muito significativo" feito, "um projeto de raiz montado", sem acesso a apoios e com salários para pagar aos funcionários, teve de agir como no relvado: ler o jogo, tomar decisões rápidas, aliviar a pressão e tentar recuperar o controlo.
"Chutámos a bola para a frente", frisa. A ementa foi "toda reestruturada", foram dos primeiros na Covilhã a adaptarem-se ao ‘take-away’ e apostaram também nas entregas ao domicílio.
Com a II Liga parada, e para não ter de contratar mais ninguém em tempos de incerteza, passou a ter um papel mais ativo do que o inicialmente previsto, ainda que continue a cumprir o plano de treino. Com o carro particular, faz as entregas e, mesmo com o equipamento de proteção, é reconhecido.
"Algumas pessoas ficam surpreendidas por me verem a mim a entregar as refeições. Há dias um senhor perguntou-me se já deixei o futebol e expliquei-lhe que é uma situação temporária", conta, a rir, em declarações à agência Lusa, sentado na cadeira aveludada onde minutos antes negociava a compra de vinhos e com as propostas da empresa de consultoria em higiene em cima da mesa, já a pensar na reabertura da sala.
No G.TREZE, mistura do número que ostenta nas costas com o nome do sócio e chef Gerson Oliveira, com experiência em espaços com estrela Michelin, o presidente do Sporting da Covilhã "é cliente assíduo".
"Já fui servir o presidente e vários colegas de equipa", refere o subcapitão serrano, natural do Porto e há sete temporadas no clube.
Joel Vital esperava, nesta fase, ser, sobretudo, o rosto do restaurante, estar presente às refeições, conversar com os clientes. Deu consigo num curso intensivo de restauração e gestão. Vai às compras de manhã, contacta fornecedores, ajuda na cozinha e, na rua, tem sentido o carinho de adeptos.
"Fui recebido, numa entrega, ao som do hino do Sporting da Covilhã", descreve o central, à Lusa.
A pandemia foi como se tivesse sido desarmado e deixado um corredor aberto para a baliza. Ficou muito apreensivo, admite. Nem puderam usufruir na plenitude do efeito novidade.
"Somos tão novos, gastámos aqui tanto dinheiro, fiquei muito preocupado, mas não podíamos deixar cair o negócio", sublinha o defesa, que há duas épocas já tinha sentido a adversidade, quando fez uma rutura do ligamento cruzado anterior e esteve um ano sem jogar.
O novo coronavírus fê-lo sentir-se sem linha de passe e arriscou fintar o cerco da covid-19.
"O que me meteu mais medo foram os empregados, que têm família e têm os seus compromissos", vinca.
Se no início se notava o receio dos clientes, "começaram a ganhar confiança" e agora "já dá para pagar as despesas".
A prioridade agora é preparar a reabertura da sala e voltar à carta do restaurante.
Com mais um ano de contrato com os ‘leões da serra’, a sentir "saudades do relvado" e sem saber quando começa o campeonato, vai continuar a treinar todas as tardes e a pensar no regresso, tal como a esposa, a trabalhar num centro de saúde e também médica no Sporting da Covilhã.
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