O selecionador português Francisco Neto admitiu hoje que a seleção feminina de futebol é uma “locomotiva” para o desporto entre as mulheres, enaltecendo que esta é já uma área de trabalho apetecível.
“Sem dúvida, porque há cada vez mais clubes a tempo inteiro e mais agentes desportivos relacionados com o futebol feminino a serem profissionais e a poderem fazer carreira. É algo que tem crescido muito nos últimos tempos e para os alunos esta é uma oportunidade de entrarem no mercado de trabalho e no profissionalismo, que acredito que seja o que muitos sonham”, afirmou Francisco Neto.
O selecionador português participou hoje na sessão de abertura do mestrado em treino desportivo da Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM), atestando o crescente interesse pelos alunos relativamente ao futebol feminino.
“Nota-se que há mais interesse. Nota-se no número de conferências pelas quais vamos passando, pelo número de alunos envolvidos, pelo número de estagiários que encontramos nos clubes e pela maior capacidade de ficarem retidos no futebol feminino desses clubes, que também sentem maior necessidade pelo aumento do número de praticantes”, confirmou.
O técnico, de 42 anos, natural de Mortágua, comandou a seleção feminina nas duas primeiras presenças em campeonatos da Europa, em 2017 e 2022, e na estreia em mundiais, já este ano, reconhecendo que a visibilidade da equipa nacional tem promovido várias modalidades e não apenas o futebol.
“Sem dúvida que estamos a ser uma locomotiva para o desporto feminino. Não é só o futebol e o futsal, felizmente há outras modalidades a fazerem trabalhos incríveis e a também divulgarem e puxarem pelo desporto no feminino. Mas, acima de tudo, é uma mudança de mentalidades nestas novas gerações de pais que olham para estes desportos ditos mais masculinos de uma forma igual para os que seriam mais femininos”, enalteceu Neto.
O selecionador salientou também que “felizmente, também acontece o inverso”: “Acho que é a evolução da sociedade. Acho que tem de ser assim e as pessoas têm de fazer o que mais gostam, seguir as suas paixões, independentemente dos estereótipos do passado”.
Igualmente presente na sessão, o presidente da Federação Portuguesa de Canoagem (FPC) elogiou o trabalho desenvolvido pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) no setor, calculando em cerca de 17 mil o número de federadas em futebol e futsal, o que, caso fosse, separado do masculino poderia fazer dessa instituição a segunda ou terceira do país em número de praticantes.
Vítor Félix aproveitou a ocasião e a presença de Francisco Neto para clarificar que as suas críticas sobre as presenças da seleção feminina em Belém se destinavam ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e não à equipa das ‘quinas’.
“Em agosto, fiz uma publicação em que lamentava que a seleção feminina tinha sido três vezes recebida sem nenhum resultado desportivo”, referiu Félix, ressalvando que a observação se dirigia à atitude populista do Chefe de Estado.
Na altura, o líder da FPC lamentava que atletas como o nadador Diogo Ribeiro, o canoísta João Batista ou a seleção masculina de hóquei em patins não tivessem sido recebidos pelo Presidente da República.
“Se o resultado desportivo for só ganhar, concordo, mas temos de ver de onde vimos e para onde vamos”, vincou Neto, em resposta a Félix, com desportivismo.
Antes, Vítor Félix tinha recordado uma das suas ‘batalhas’, com a falta de “peso político do desporto”, que, segundo o dirigente, custa 0,004% do Orçamento do Estado, apontando para a necessidade de reforço do investimento para aumentar a oferta de emprego e também da qualidade.
“O trabalho no desporto é ainda muito assente na benevolência e sem isso não havia desporto em Portugal – como não havia sem o apoio das câmaras municipais. Esta gratuitidade é boa porque os clubes mantêm a sua atividade sem encargos, mas desvaloriza a função dos gestores, dirigente e treinadores, sendo que o profissionalismo também aumentaria a exigência”, assegurou.
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