Mais de cem dirigentes, árbitros, antigos jogadores, treinadores e gestores de clubes foram presos ou detidos desde Novembro passado por suspeita de "manipulação de resultados", apostas ilegais, subornos e outras "graves fraudes".

O próprio ministro dos Desportos chinês, Liu Peng, reconheceu que o futebol, na China, estava minado "por um cancro".

Liu Peng prometeu "manter uma firme disposição para combater a corrupção no futebol e regular a modalidade" e disse que as autoridades "não terão piedade com os que quebrarem a lei".

Entre os suspeitos figuram dois antigos vice-presidentes da Associação Chinesa de Futebol (ACF).

Um antigo dirigente da associação, Liu Xiaoning, atribuiu a origem do "cancro" à falta de democracia interna.

"Um pequeno número de altos funcionários toma todas as decisões sobre o futebol chinês e determina o futuro da modalidade. Não havia suficiente discussão ou processo de decisão democrática, e muito menos de supervisão", disse.

A corrupção no futebol chinês não é um fenómeno inédito no mundo, mas a sua propagação parece ter sido muito mais rápida que noutros países.

Há apenas 18 anos, o futebol era uma modalidade amadora e os jogadores ganhavam segundo a tabela em vigor na função pública, que no seu caso dependia da Comissão Estatal para a Educação Física e Desportos.

A profissionalização começou em 1993: "A reforma do futebol está ligada à situação geral da China. O país, agora, rege-se pela economia de mercado e, no caso do futebol, o profissionalismo revelou-se a opção correcta", explicou na altura um responsável da ACF.

Em 2002, sob a direcção do sérvio Bora Milutinovic, a China qualificou-se, pela primeira vez, para a fase final de um Mundial.

A qualificação, obtida pouco depois de Pequim ter ganho a candidatura aos Jogos Olímpicos de 2008, elevou ao rubro o orgulho nacional.

"Participar no Mundial é um impulso vital para o desenvolvimento da China. Se a nossa selecção for apurada para os oitavos de final isso mostrará ao mundo a força da China", proclamou então um jornalista desportivo de um jornal nacional.

Por coincidência, a China ficou no grupo do Brasil, Turquia e Costa Rica, acabando a sua estreia num Mundial com três derrotas e sem marcar um único golo.

O actual treinador, Gao Hongbo, 44 anos, foi nomeado em Maio passado.

Desde então, no ranking da FIFA, a China subiu do 97.º para o 87.º lugar e há três semanas, pela primeira vez, ganhou à Coreia do Sul, uma das mais fortes selecções da Ásia.

Aparentemente, os problemas na Associação Chinesa de Futebol não afectaram a selecção: "isso diz respeito aos líderes (…) Nós concentramo-nos no jogo", disse Fu Bo, treinador-adjunto.

Quanto ao jogo de quarta-feira frente a Portugal, em Coimbra, Gao Hongbo diz que a China pretende, acima de tudo, "aprender".