Até que ponto um simples olhar para um resultado pode ser enganador? O Benfica passou aos oitavos-de-final com uma vitória folgada, por 4-1, sobre o Paços de Ferreira e quem olhar apenas para os números finais exibidos no placar eletrónico do Estádio da Luz após o fecho do encontro não imaginará o quanto foi suado (apesar de folgado) o triunfo das 'águias'.

Num jogo em que Jorge Jesus (em parte devido a lesões, em parte para poupar alguns jogadores com vista ao importante jogo de terça-feira com o Barcelona) apresentou um 'onze' inicial com significativas mexidas em todos os setores, menos no ataque, o Benfica até criou algumas situações para marcar, mas a pontaria, até ao minuto 78, esteve bem longe de ser a mesma que a equipa havia demonstrado no seu anterior jogo, frente ao SC Braga (vitória por 6-1).

Perante a ineficácia demonstrada pelas 'águias' na concretização das ocasiões de golo que, amiúde, ia criando, o Paços aproveitou para ganhar vantagem quando a oportunidade surgiu, no arranque do segundo tempo. E, com os minutos a passar e a ansiedade entre adeptos e jogadores da casa a crescer, chegou a pensar-se que poderia mesmo haver surpresa na Luz. Puro engano: Jesus mexeu na equipa, lançou as armas que tinha no banco à sua disposição, entre elas Haris Seferovic, que não jogava desde agosto, e o resultado virou por completo a partir do momento em que Grimaldo, na superior transformação de um livre direto, restabeleceu a igualdade.

O jogo: Final diabólico valeu triunfo depois do tudo-por tudo de Jorge Jesus

Com André Almeida e Morato ao lado de Vertonghen no centro da defesa, Radonjić na ala direita e Gedson ao lado de Weigl no meio-campo, foi um Benfica muito diferente aquele que entrou em campo frente ao Paços, embora Jorge Jesus não tenha querido abrir mão do trio da frente, formado por Everton, Darwin e Rafa, que tão boa conta de si tinha dado contra o Braga.

Os três tiveram boas oportunidades para marcar no primeiro tempo. Vekic, guarda-redes do Paços de Ferreira, negou o golo a Darwin aos 17 minutos, Rafa acertou no poste aos 19 e Everton também viu o guardião adversário negar-lhe o golo já perto do intervalo.

Apesar dessas ocasiões de golo para o Benfica (à qual se somou outra, num cabeceamento de André Almeida), o Paços mostrava-se seguro a defender e tentava sempre sair para o contra-ataque com jogadas bem delineadas. E, numa dessas jogadas, a abrir a segunda parte, marcou mesmo. Estavam decorridos 52 minutos de jogo quando Lucas Silva escapou pela esquerda, tirou um cruzamento que Vertonghen cortou na direção de Nuno Santos e o médio-defensivo, emprestado pelo Benfica aos 'castores', atirou colocado para o 1-0, gelando ainda mais a Luz numa noite de muito frio.

Foi então que Jorge Jesus - que já tinha feito uma substituição forçada, por lesão de Radonjić - resolveu mexer na equipa e no sistema tático. Primeiro arriscou um pouco, com as entradas de Pizzi e Taarabt para os lugares de André Almeida e Gedson. Darwin cabeceou à trave, mas o jogo caminhava para o quarto de hora final com o Benfica em desvantagem e Jesus teve de arriscar mesmo o tudo por tudo. Lançou, então, Gonçalo Ramos e Seferovic para os lugares de Weigl e Darwin. O Benfica ficou então a jogar com Grimaldo, Vertonghen, Morato e Lazaro na defesa, Pizzi e Taarabt no meio-campo, Rafa e Everton como extremos e Gonçalo Ramos e Seferovic na frente.

E resultou. Sobretudo a partir do momento em que, decorridos 78 minutos de jogo, Grimaldo teve um momento de grande inspiração e, na transformação de um livre a 25 metros doo alvo, colocou a bola 'onde a coruja dorme' e fez o empate. Estava dado o mote para um final de jogo verdadeiramente diabólico por parte das 'águias', motivadas pelo golo frente a um adversário que via começar a fugir-lhe por entre os dedos um triunfo com o qual chegou a sonhar. Assistido por Taarabt, Seferovic fez o 2-1 pouco depois (num golo fabricado por dois homens vindos do banco) e, com o Paços depois balanceado para a frente, Seferovic assistiu Rafa para o 3-1 antes de Everton fechar as contas, já nos descontos, confirmando a passagem do Benfica aos oitavos-de-final da Taça de Portugal.

O momento: Golaço de Grimaldo abre caminho à reviravolta

Minuto 78. O Benfica perde por 1-0 e a ansiedade vai crescendo no Estádio da Luz. Mas o jogo está prestes a mudar. Na cobrança de um livre, ligeiramente à direita, acerca de 25 metros do alvo, Grimaldo bateu forte e em arco, com a bola a entrar "na gaveta". Vekic bem voou, mas era indefensável. Foi o segundo jogo seguido do lateral espanhol a marcar, desta vez com um golaço que alterou por completo o rumo do encontro.

O melhor: Seferovic voltou aos relvados e aos golos

Apenas 16 minutos em campo chegaram para Seferovic fazer a diferença no jogo com um golo e uma assistência. O suíço ainda só tinha jogado dois jogos esta temporada, com uma lesão a mantê-lo afastado dos relvados desde finais de agosto, mas, coincidência ou não, quatro minutos depois de ele entrar em campo o Benfica conseguiu, enfim, chegar ao golo. Foi, depois, dele, o golo que ditou a cambalhota no marcador, com um bonito cabeceamento, e foi também ele que fez a assistência para o golo com que Rafa desfez as dúvidas quanto ao desfecho da eliminatória.

O pior: Darwin bem tentou, mas não estava nos seus dias

O avançado uruguaio não foi feliz frente ao Paços de Ferreira. Depois de, frente ao Braga, ter brilhado com um golo e duas assistências, Darwin foi um dos mais perdulários do lado do Benfica. Não conseguiu bater Vekic quando surgiu isolado na cara do guarda-redes do Paços a meio da primeira parte, minutos mais tarde não cabeceou da melhor forma no seguimento de um canto e quando, na segunda parte, cabeceou bem, viu a trave da baliza dos visitantes negar-lhe o golo.

As reações

Jesus admitiu que as mudanças "foram fundamentais". Seferovic feliz pelo regresso e pelo golo

Jorge Simão considerou o resultado penalizador, Nuno Santos referiu que golo de Grimaldo foi decisivo para a reviravolta

O resumo