Entre os estudos ou as atividades profissionais, os jogadores do Torreense marcam golos nos tempos livres e já eliminaram Gil Vicente e Rio Ave da Taça de Portugal de futebol. Sem fazer pressões, o treinador diz-se surpreendido com o plantel.

Sem especial gosto em ser apelidados de “tomba gigantes”, os jogadores amadores do Sport Club União Torreense, da II divisão, «mostram alegria e prazer de jogar futebol e estão a ficar viciados em ganhar», disse à agência Lusa o treinador António Pereira.

Na terceira eliminatória, o Gil Vicente caiu em Torres Vedras, perdendo por 1-0. No domingo, o Torreense foi a Vila do Conde vencer por 3-2, após prolongamento, e deixou o Rio Ave pelo caminho na quarta ronda.

O segredo, segundo o técnico, está em não impor pressões sobre o resultado a jogadores que, depois da escola ou do trabalho, dedicam os tempos livres ao futebol, treinando diariamente e marcando presença nos jogos para os quais são convocados.

Um fator que leva António Pereira a afirmar que o clube «está preparado» para enfrentar qualquer equipa nos oitavos de final da Taça de Portugal, cujo sorteio está marcado para terça-feira.

«Não vou ganhar de certeza a Taça de Portugal. É o que o sorteio ditar. Vamos até onde nos deixarem ir e, quando formos eliminados, sairemos de cabeça erguida, porque enquanto equipa da II divisão já fizemos a nossa obrigação, ao dar um bom espetáculo ao mundo do futebol», explicou.

O técnico, de 55 anos, sublinhou que «quando se ganha a uma equipa da Liga principal é sempre surpreendente», porque um clube da II divisão está sempre desvantagem.

Para a próxima eliminatória da Taça de Portugal, tem apenas um único desejo: «Gostava de jogar em casa, porque os jogos têm sido todos fora e longe e os nossos adeptos não têm possibilidades financeiras para acompanhar o Torreense».

Modesto nas ambições, António Pereira, que há quatro anos comandava o Atlético que nessa altura eliminou o FC Porto da Taça de Portugal, não quis elevar expetativas quanto a uma possível subida de divisão, pelo menos enquanto não garantir 35 pontos no campeonato da II Divisão - Série Sul, que lidera com 20 pontos e apenas uma derrota em nove jogos.

Depois de ter conduzido o Atlético à Liga de Honra na época passada, após 30 anos de afastamento do clube de Lisboa dos escalões profissionais, este natural de Grândola abdicou de acompanhar a equipa de Lisboa na subida de divisão.

Pouco ou nada incomodado com o estatuto “secundário”, António Pereira não gosta da alusão ao treinador do Real Madrid, quando é apelidado de “Mourinho dos Pobres”, nem sonha em liderar a equipa técnica de um clube da Liga, preferindo manter-se «na II ou III divisão e sustentar a família».