A judoca Rafaela Silva, que conquistou na segunda-feira a medalha de ouro em -57 kg, categoria em que Telma Monteiro arrecadou o bronze, levantou na quarta-feira a voz contra o racismo e a discriminação.
A atleta brasileira, uma mulher negra, lésbica e oriunda de uma favela, deu a cara numa campanha contra o racismo no desporto.
“Estou muito feliz por estar a realizar o meu sonho, mostrar às pessoas que me criticaram em Londres [2012], que disseram que eu era uma vergonha para a minha família, que o lugar para o macaco era numa jaula e não nos Jogos Olímpicos”, afirmou a judoca na apresentação da campanha.
Rafaela recorda a infância como uma “menina que não gostava de estudar e que nunca pensou em sair da favela” e incentiva os jovens a procurar motivação e a aproveitar as oportunidades, dando o exemplo da medalha de ouro que agora exibe e que inspira jovens e adolescentes de zonas marginais, não só do Brasil, mas de todo o mundo.
“O macaco que teria que estar numa jaula em Londres, saiu da jaula e foi campeã olímpica aqui no Rio de Janeiro”, continuou a atleta brasileira.
Rafaela lembra que vencer as resistências à condição de mulher numa modalidade como o judo não foi fácil, mas a seleção feminina brasileira deu grandes passos e conta já com medalhas de ouro olímpicas e cinco em campeonatos mundiais.
A atleta assumiu-se também como uma feminista: “Estamos a conseguir conquistar o nosso espaço e temos que aproveitar isso, porque temos ficado muito tempo esquecidas e espero que outras mulheres possam ter esta iniciativa, continuar o legado e que o feminismo cresça no Brasil”.
Para a secretária brasileira de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Luislinda Valois, os feitos da população negra são o resultado de “muita luta, muitos sacrifícios, muitas mortes e sofrimento”, um país onde 52 por cento da população é negra.
Os Jogos Olímpicos são um “grande espelho” e “uma oportunidade extraordinária”, disse Valois.
Rafaela Silva ainda acrescentou: “Geralmente, quando sai um tema acerca da raça negra é só para falar de que um negro assaltou alguém. Agora não é um negro que está a assaltar alguém, mas sim a dar uma alegria ao povo brasileiro.”
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