Mais de 40% dos 811 atletas olímpicos portugueses vivos, sofrem ou sofreram de problemas de saúde mental. Esta é uma das conclusões que estará em debate no II Seminário Nacional de Saúde Mental no Desporto de Alta Competição, que se realiza na próxima quarta-feira, no Centro de Artes do Estoril.
O encontro pretende normalizar o tema da saúde mental e acabar com o estigma.
O seminário acolhe 400 inscritos, entre as quais diversas personalidades e atletas olímpicos, como Maria de Belém, Francisco George ou Nélson Évora, e irá apresentar os resultados de um estudo científico, conduzido pelo observatório de saúde mental e com o patrocínio científico da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM) SPPSM, realizado com base num inquérito feito a mais de 200 atletas de alto rendimento.
Quando a ginasta Simone Biles (19 vezes campeã mundial e tetracampeã Olímpica) surpreendeu o mundo, nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, ao anunciar, com coragem olímpica, que não iria participar na final individual de ginástica artística por questões de saúde mental, lançou o debate que há muito estava por fazer.
Não sendo a primeira grande campeã olímpica e mundial a abordar a questão da importância da saúde mental para os desportistas, a ginasta norte-americana foi, sem dúvida, a atleta de alta competição que teve mais capacidade para pôr este tema-tabu na agenda mediática. Uma realidade que afeta muito mais atletas do que, à partida, se imagina.
Num estudo de 2019 realizado pelo próprio Comité Olímpico Internacional e divulgado no 'British Journal of Sports Medicine', cerca de 50% dos atletas olímpicos inquiridos assumiram que já se sentiram afetados por sintomas de depressão, ansiedade e ligados ao stress. Também a Universidade de Amesterdão concluiu, num trabalho de 2018, a partir de uma revisão feita a 20 artigos científicos, que 34% dos atletas olímpicos podem apresentar sintomas de depressão ou ansiedade.
Com o objetivo e compromisso de manter o tema na agenda e continuar a sensibilizar o público para a importância desta temática e de combater o estigma que está sempre associado à saúde mental, a Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal (AAOP), em parceria com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM), realiza já na próxima quarta-feira, 22 de maio, o II Seminário Nacional sobre Saúde Mental no Desporto de Alta Competição, que conta já com mais de 400 inscrições.
"Temos o compromisso de manter este tema vivo. Não basta falar da saúde mental apenas uma vez, é preciso abordar o tema de forma sustentada. A saúde mental tem de ser normalizada e é preciso afastar o estigma... assumir que se tem um problema é uma atitude de força, não é uma atitude de fraqueza. A percentagem de 40 a 50 por cento de atletas que têm problemas de saúde mental peca por escassa", comentou Luís Alves Monteiro, presidente da AAOP.
O objetivo foi obter informação sobre o estado de saúde mental dos atletas alto rendimento portugueses em ciclo ativo ou pós carreira (> 18 anos), de modo a caracterizar as suas necessidades de saúde mental e contribuir para melhorar o seu bem-estar, saúde e performance. Em Portugal, de entre os 811 atletas olímpicos vivos, mais de 40% sofrem ou já sofreram de problemas de saúde mental nas várias fases da carreira. A amostra integra mais de 150 respostas, entre atletas no ciclo ativo e no pós-carreira - 49 em ciclo ativo e 94 no pós carreira; sendo 46% mulheres e 54% homens.
Com a presença de várias entidades ligadas ao sector desportivo e sociedade civil, tendo como palestrante principal Maria de Belém, ex-ministra da Saúde, ou ainda Francisco George, e ex-atletas olímpicos como Nélson Évora, Mário Aníbal ou Marta Onofre, o seminário reúne ainda diversos especialistas de saúde mental, bem como treinadores de alta competição, e pretende identificar os desafios e oportunidades que se colocam atualmente neste âmbito, contribuindo para cumprir um dos objetivos para o desenvolvimento sustentável definido pela ONU na sua Agenda 2030: o do bem-estar físico, mental e social.
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