Um grupo de homens armados e com capacetes avança lentamente atrás de um veículo blindado em direção à escola de polícia de Draveil, nos arredores de Paris, durante uma simulação de um ataque terrorista em grande escala organizado na semana passada.
Uma hora antes, quatro agressores encapuzados e armados com espingardas de assalto entraram no edifício principal da escola, um castelo do século XIX agora fustigado por gás lacrimogéneo e pelo estrondo de granadas.
Quando a equipa de alerta da polícia de elite do RAID deixa a sua base localizada a cerca de 30 quilómetros de distância, unidades intermédias já foram mobilizadas para o local.
Num relatório de situação no estacionamento da escola, o capitão Romain, que comanda a coluna, transmite aos chefes de equipa as informações recolhidas pelos primeiros agentes destacados, como a localização dos assaltantes, o número de vítimas e de reféns.
Um membro das unidades intermédias junta-se aos policiais de elite do RAID para orientá-los no ataque.
"A ideia é trabalhar na interoperabilidade entre todos os serviços da polícia e de bombeiros" envolvidos neste exercício de "assassinato em massa", explica o major Stéphane, que dirige as operações.
O treino não acontece apenas em função do evento olímpico programado para Paris, de 26 de julho a 11 de agosto, mas é realizado pelo menos uma vez por ano. Mas a possibilidade de um ataque desta natureza está na mente de todos antes do grande evento desportivo do verão.
A França "está particularmente ameaçada" durante os Jogos Olímpicos, disse na segunda-feira o ministro do Interior, Gérald Darmanin, cujo país decretou o nível máximo de alerta após o ataque de sexta-feira a uma sala de concertos de Moscovo, que resultou em 139 mortos.
Este ataque, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), lembrou as cenas de terror vividas em novembro de 2015, quando três comandos jihadistas mataram 130 pessoas em bares e na casa de concertos Bataclan, em Paris, e perto do Stade de France, ao norte da capital.
Por enquanto, "não estamos diante uma ação em grande escala", disse à AFP o diretor do gabinete antiterrorista, Jean-François Ricard.
Mas há "uma ameaça projetada que não é de todo negligenciável, especialmente aquela que está ligada ao EI", alertou.
Durante a quinzena olímpica, 200 soldados RAID serão mobilizados diariamente. Serão cem agentes só para a cerimônia de abertura no Sena.
Prontos para os Jogos
Ao entrar no prédio, a unidade de elite dá de caras com uma visão devastadora, com os corpos de estudantes da polícia atuando como figurantes caídos no chão manchados com sangue falso no chão e nas escadas em espiral que levam aos andares superiores.
Atrás de uma porta, no final de um corredor, um agressor mantém 15 reféns. Foi estabelecida uma ligação de vídeo com os negociadores do RAID, instalados dois andares abaixo.
Quando as negociações para conseguir a rendição falham, a intervenção é lançada.
Os agentes deslizam uma câmara com cabo e cabeça giratória por baixo da porta para garantir que o agressor não prepare uma emboscada.
Depois, graças a um engenhoso sistema de cordas, um especialista abre a porta silenciosamente, sem se colocar ao alcance dos tiros.
"Tango número 4", apelido do quarto agressor, é finalmente "neutralizado" e os reféns são libertados em segurança.
Mas, ao mesmo tempo, um último elemento "hostil" leva o terror aos quartos. Os gritos das crianças que brincam durante o recreio de uma escola próxima pintam um clima de surrealismo.
Na entrada do prédio, o operador de drones da equipe manobra a aeronave, cujas imagens são transmitidas ao vivo.
Uma vez confirmado que o acesso aos corredores está "livre" e sem ameaças imediatas, a coluna de elite entra acompanhada por "Patton", um pastor belga especializado em assaltos.
O agressor é morto após troca de tiros e a operação é concluída.
"É um ensaio. Fazemos esse tipo de exercício com muita regularidade [obs: desde os ataques de 2015] para que o sistema esteja o mais bem oleado possível e agora funcionou perfeitamente", comemora Pierre, chefe adjunto da seção de apoio operacional do RAID.
"É um tema que já está bem trabalhado na Polícia Nacional e que está pronto para ser aplicado nos Jogos Olímpicos", afirma.
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