A equipa de ‘walking handball’ do Xico Andebol, em Guimarães, começou a treinar em 07 de abril e já reúne 13 jogadores com mais de 60 anos, para contactarem com “coisas novas” ou para recordarem uma ‘velha conhecida’ modalidade.
Emília Pinto, de 66 anos, conduz a bola entre os cones para rematar à baliza e confessa que é a “primeira vez” na vida que está a “pegar numa bola de andebol”, dizendo, para já, “gostar de tudo” nos exercícios e assumindo-se disposta a levar ainda “mais amigas” para os treinos.
“É uma nova etapa da minha vida. [Isto] é divertido. Sinto-me bem, ‘esqueço-me de tudo’ e as minhas amigas igualmente. Quem eu trouxe está contente. Estou convicta de que vamos crescer. Isto faz-nos bem à mente, e estou a gostar muito”, realça à agência Lusa uma das nove mulheres inscritas na primeira equipa de andebol a passo reunida em Portugal.
Depois de ter aprendido a nadar com mais de 40 anos e de ter começado a frequentar um ginásio quando se reformou, a jogadora vinca que a iniciativa do Xico Andebol, clube com equipa no principal campeonato masculino, lhe dá a vertente do “convívio”, algo que considera “muito importante”, até pelo efeito na amiga Zeferina Salvador.
“Não me posso comprometer a 100%, porque há quintas-feiras em que não vou poder vir. Posso faltar. Enquanto venho, estou contente. Estava um bocadinho abatida, e isto faz-me bem. Nunca tinha tido contacto com o andebol. Nem na televisão vejo”, diz a jogadora de 71 anos.
Criada em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, nomeadamente os que respeitam à “saúde de qualidade” e à “redução das desigualdades”, a modalidade está, para já, aberta a 20 jogadores acima dos 60 anos – oito homens e 12 mulheres -, com treinos à quinta-feira.
O presidente do clube vimaranense, Mauro Fernandes, adianta à Lusa que o andebol a passo quer servir “um público-alvo vulnerável”, especialmente afetado pela pandemia de covid-19, com o apoio de exames médicos, se consumado um possível acordo com “um parceiro”, e também de serviços de psicologia e de nutrição, disponibilizados pelo Xico.
“Se tivermos pessoas com determinadas fragilidades sob o ponto de vista cognitivo, vamos trabalhar isso com a psicóloga e com a treinadora. Se tivermos pessoas obesas ou magras, a nossa nutricionista vai dar aconselhamento”, detalha.
O dirigente espera ainda que o ‘walking handball’, para já só “enraizado” nos Países Baixos, envolva mais os jogadores com o Xico Andebol, até como “espaço de encontro”, e emblemas vizinhos a aderirem à modalidade, em articulação com a Federação de Andebol de Portugal e com a Associação de Andebol de Braga.
Mauro Fernandes enfatizou ainda o contributo do elemento mais velho da equipa, Lázaro Nunes, jogador federado entre 1972 e 1982, no Vitória de Guimarães e no Xico, para a “adaptação” dos outros membros do plantel ao andebol.
“Já lhes disse que isto é muito fácil. A regra principal é a de que só podem dar três passos e passar a bola ou rematar. Essa é uma regra básica. Não podemos andar a passear com a bola, senão é falta. Pode-se andar depressa, mas não se pode correr”, sintetiza o guarda-redes, de 74 anos.
Depois de ver a pandemia interromper os encontros de ‘veteranos’ em que participava, o antigo jogador e árbitro aderiu ao projeto por causa do “bicinho” e do “convívio”, até porque já pratica atividade física “todos os dias”, para além de ler, para “ter o cérebro ativo”.
“Isto é uma brincadeira, mas a atividade física é sempre importante para a nossa capacidade intelectual. (…) Apesar dos meus 74 anos, ainda me mexo bem. Faz-me bem o desporto, quer física, quer psicologicamente”, referiu ainda o antigo relator de futebol.
Para a treinadora, Sara Guimarães, o andebol a passo é um contributo para os praticantes se tornarem “menos sedentários”, para o “combate às doenças crónicas” e até para o envolvimento social em torno do Xico Andebol, através, por exemplo, da ligação entre “avós”, na nova modalidade, e “netos”, nos escalões de formação.
“Queremos retirá-las de casa e envolvê-las no clube a nível desportivo. Poderemos criar ações de voluntariado, fazendo com que gostem de estar aqui, se sintam em casa. (…) Temos uma formação muito grande de atletas ‘minis’ [nove a 11 anos] e queremos trazer os avós dos nossos atletas, envolvendo-os todos aqui”, perspetiva.
No treino, Emília Pinto remata mais uma vez à baliza, confessando, de seguida, que o cansaço prevalece ao fim de um dia com ginásio e andebol.
“De manhã, faço a vida de casa. À tarde, faço ginásio e andebol. Chego a casa às 18:00, cansada. Dá para comer e já não faço mais nada”, resume.
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