O SAPO Desporto continua a sua viagem pelo mundo das artes marciais, mais propriamente pelo MMA (sigla inglesa da artes marciais mistas). O The Cage pretende desmistificar a modalidade e dar voz aos atletas portugueses que vivam esta modalidade ao máximo.

‘You talking 'bout me, I don't see a shade
Switch up my style, I take any lane
I switch up my cup, I kill any pain
Look what you've done
I'm a motherfuckin' starboy
Look what you've done
I'm a motherfuckin' starboy’

[Estás a falar de mim, não vejo uma sombra
Mudo o meu estilo, agarro qualquer pista
Troco a minha chávena, mato qualquer dor
Olha o o que fizeste
Eu sou um filho da p*ta do car*lho]

É em estilo musical [The Weeknd - Starboy ft. Daft Punk] que apresentamos Manel 'StarBoy' Kape, ele que nasceu em Luanda, Angola, mas cedo veio para Portugal, para o norte, tendo ficado a morar em Rio Tinto, no concelho de Gondomar, até bem pouco tempo [saiba mais na entrevista abaixo].

O lutador luso-angolano conquistou, no passado 31 de dezembro, o título de campeão na categoria peso-galo do Rizin FF, a maior organização de MMA no Japão, após derrotar Kai Asakura por KO, no início do segundo assalto.

"É com grande entusiasmo e alegria que anúncio que sou o novo atleta do UFC. Sou extremamente grato a todas às pessoas que fizeram e fazem parte da minha carreira desportiva, pois sozinho não estaria onde estou nem alcançado o que já alcancei. Um muito obrigado a todos. A estrada foi longa dura e cruel, mas com toda persistência dedicação e trabalho duro todos nós conseguimos alcançar nossas metas. Basta acreditar acreditar mesmo nos dias mais cinzentos da nossa vida vamos acreditar. E quando todos duvidarem de ti (como já aconteceu comigo milhares de vezes) prova-os com factos que eles estiveram errados e sim só deram combustível para mostrares quem tu és . Meu trabalho meu foco e minha determinação serão redobrados pois tenho como objetivo ainda este ano ou o próximo de me tornar campeão mundial novamente", foi desta forma que o StarBoy anunciou, nas redes sociais, que tinha acabado de assinar pelo Ultimate Fighting Championship, a maior organização de MMA no mundo. Para aqueles que estão familiarizados com outras modalidades mais conhecidas, como o futebol, o UFC é como se fosse a Liga dos Campeões dos desportos de combate.

Agora, no UFC, Kape vai integrar o elenco de peso-mosca (até 57kg). Manel chega ao UFC com 15 vitórias e quatro derrotas na carreira, tendo batido os seus três últimos adversários. O atleta soma quatro cinturões (Portugal/61kg; França/61 kg; Espanha/57 kg e no Japão/61 kg). Como amador, amealhou dez triunfos, sem qualquer derrota. Foi ainda eleito, por três vezes, o melhor lutador dos torneios amadores quando participava em Portugal.

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Além de StarBoy, o lutador também é conhecido como o ‘Prodígio’ ou ‘EasyMoney’, vivendo atualmente em Phuket, representando a equipa AKA Thailand. Aos 26 anos, Manel Kape faz história ao tornar-se o segundo português a integrar a lista de UFC, depois de Yorgan de Castro, lutador luso-caboverdiano.

O SAPO Desporto conversou, seguindo as regras do distanciamento social, com Manel Kape, até porque o atleta vive atualmente na Tailândia.

SAPO Desporto - Como eras na infância?
Manel Kape - O Manel, na infância, era um miúdo insurreto, contraditor, brincalhão, feliz, sonhador, mulherengo e sempre metido em confusões (risos). Cresci em Rio Tinto, no Porto, juntamente com os meus irmãos [tem quatro], onde tivemos uma educação bastante privilegiada, apesar das dificuldades que muitas vezes passávamos... Uma infância bem agitada e cheia de emoções positivas e negativas.
Manel Kape, o lutador português no UFC

SD - Como se deu a transição para Portugal? Em que ano te naturalizaste português?
MK - Foi aos 3/4 anos de idade. Eu, os meus irmãos e a minha falecida mãe imigramos para Portugal por causa do meu pai. O meu pai (Manuel Gomes), ex-campeão mundial de boxe e atleta olímpico, esteve em competições de boxe em Portugal, onde se sagrou campeão. então deu-se a oportunidade de o Boavista Futebol Clube o contratar para trabalhar e representar o clube e a bandeira portuguesa. O meu pai aceitou a oferta e trouxe a família para viver em Portugal.

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SD - Consideras-te mais angolano ou português? É uma pergunta injusta?
MK - Não é uma pergunta injusta. É óbvio que me considero mais português (sem culpa) porque eu abandonei Angola muito cedo e não me lembro de nada do que vivi enquanto criança. Ao contrário de Portugal. É o país onde eu cresci, onde fiz os meus amigos, onde tive os meus romances... É o lugar que sinto saudades e chamo de lar.

SD - Primeiro contato com desportos de combate?
MK - Com 6 anos de idade, através do boxe.

SD - Quando eras mais novo era mais do estilo bem comportado ou rufia?
MK - Sempre fui um rufia (risos). Era o mauzão da escola, que roubava os lanches aos outros, que ocupava o campo de futebol e que nunca soube perder.

Manel Kape, o lutador português no UFC
Imagem: Reprodução Facebook Manel Prodígio Kape

SD - Começaste a lutar em que ano?
MK - Comecei a competir Jiu-jitsu com 14 anos de idade, depois passei para o MMA (amador) aos 16 anos.

SD- Estás na Tailândia desde quando? Foste por convite ou foi decisão tua?
MK - Estou na Tailândia há dois anos e tal. É uma história engraçada, porque fui para a Tailândia de férias e aproveitei para fazer uns treinos na AKA. No final do treino, os treinadores pediram-me para ficar e fazer parte da equipa. Aceitei com muito bom gosto.

SD - Ponderas sair da Tailândia para treinares noutro país? Portugal está fora dos planos?
MK - Eu amo Portugal. Estive o ano passado a ponderar a possibilidade, mas para já não. Num futuro próximo quem sabe... Pelo menos, este ano, continuarei em Phuket, mas o futuro eu não sei.

O SAPO Desporto desafia Manel Kape a mostrar-se fora do octógono. Veja o vídeo abaixo.

SD - Consegues descrever a sensação de assinar pelo UFC?
MK - Foi um sentimento de realização. Assinar pelo UFC sempre foi uma das minhas metas e consegui torná-la em realidade.

SD - Como se deu o primeiro contato, e todo o processo, até ao momento de assinares?
MK- Todo o contato se deu depois de 31 de dezembro, onde me sagrei o primeiro campeão português/angolano num mundial de MMA, no Japão RIZIN [antigo pride], onde estavam 30 mil pessoas no famoso Saitama Arena. Foi de loucos, porque depois da vitória recebi imensas chamadas de todas as ligas e convites com ofertas de bolsas de valores inéditas para combates.

SD - Quais as tuas referências?
MK - O meu pai, eu, Cristiano Ronaldo e Floyd Mayweather Jr.

SD - Com quem gostarias de combater no teu primeiro duelo do UFC?
MK - Qualquer um, desde que seja um do top 3 do ranking.

SD - Já tens algum combate agendado?
MK - Tinha em abril, mas devido ao vírus foi cancelado. Certamente devo lutar em junho.

SD - Nos desportos de combate, o quão importante é a confiança?
MK - Confiança é o ponto mais importante nos desporto de combate e na vida, seja em qualquer situação. A confiança leva-nos à maior grandeza, é um super poder, que devemos saber dominar e quando se domina, tornamo-nos intocáveis.

SD - Como se lida com uma derrota? Achas que é mais difícil superar do que em modalidades coletivas?
MK - Na minha opinião, devemos ver a derrota como uma aprendizagem e estudar onde erramos, para depois conseguir dar a volta, sempre aceitando a derrota. Porque a frustração não nos leva a lado nenhum, aliás leva à queda de um atleta.

SD - Sente-se humilhação na hora da derrota?
MK - Depende da tua postura antes da derrota, mas isso depende das personalidades.

SD - O que teria de acontecer para deixares de vez o MMA?
MK - Um acidente grave.

Manel Kape, o lutador português no UFC
Imagem: Reprodução Facebook Manel Prodígio Kape

SD - Qual a pior dor que alguma vez sentiste (Não precisa de ser física)?
MK - A morte da minha mãe.

SD - Achas que para ter boas oportunidades no MMA precisas de sair de Portugal?
MK - Não. Para termos oportunidades basta ter bons contatos e trabalhar seriamente.

SD - Quais as tuas rotinas?
MK - Meu dia a dia é passado, basicamente, dentro do ginásio a treinar. Amo ler livros. E muitas das vezes a jogar PlayStation.

SD - Qual o melhor conselho que te deram?
MK - O melhor conselho foi tomar as minhas decisões pelo que sinto e pelo que acho certo para a minha vida. Não irei viver de arrependimentos.

SD- Do que sentes mais falta estando aí na Tailândia?
MK - Sinto falta do bacalhau e dos meus amigos.

Se és lutador de MMA ou conhece alguém que gostaria de fazer parte desta série de entrevistas, envie-nos um email para desporto_hp@co.sapo.pt.

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