Dois dos cinco agentes da Polícia Metropolitana de Londres que abordaram o atleta português Ricardo Santos e a sua companheira em Londres a 05 de junho de 2020 foram demitidos após serem considerados culpados de prática danosa. Os outros três agentes foram ilibados.

A Polícia Metropolitana de Londres decidiu hoje pela destituição dos agentes, após as conclusões de uma comissão disciplinar considerar que Jonathan Clapham e Sam Franks mentiram ao afirmar que detetaram odor a canábis quando o casal foi detido, em 04 de julho de 2020, durante uma operação rodoviária.

O atleta português de 27 anos, especialista dos 400 metros, e a velocista britânica  de 28 anos foram detidos em 04 de julho de 2020 no oeste de Londres enquanto viajavam de automóvel com o bebé de três meses.

Ricardo Santos preparava-se para ir para casa, quando, devido ao trânsito e a cinco minutos do local, resolveu mudar o trajeto num percurso que acabou em perseguição pela polícia.

No momento em que parou o carro à porta de casa, Ricardo dos Santos e Bianca Williams foram obrigados a sair, num incidente em que o atleta português acusa a polícia de ter tirado os bastões e de o acusar de cheirar a canábis, antes de o algemar.

Na altura, Bianca Williams, especialista dos 200 metros, disse que Ricardo dos Santos já tinha sido parado cerca de 15 vezes desde que adquiriu um carro de marca Mercedes.

"É sempre a mesma coisa com o Ricardo. Eles pensam que ele está a conduzir um carro roubado, ou que esteve a fumar canábis. É discriminação racial. A forma como falaram com o Ricardo, como se ele fosse ralé, tivesse feito alguma coisa mal, foi chocante", disse ao jornal Sunday Times.

Vídeos da operação partilhados nas redes sociais causaram escândalo e a atleta acusou a polícia de ter parado o casal por causa da cor de pele.

Ricardo Santos e Bianca Williams apresentaram queixa, por entenderem que foram vítimas de racismo. A investigação viria a dar-lhes razão, já que concluiu que os dois atletas foram detidos na altura "por serem negros", e que a operação dos agentes foi "excessiva, irracional e injustificada".

A 08 de julho de 20220, durante uma audição com a comissão parlamentar para a administração interna, a comissária da polícia de Londres, Cressida Dick, tinha apresentado um pedido de desculpas à atleta britânica Bianca Williams e ao português Ricardo dos Santos pelo "sofrimento" causado durante uma 'operação stop'.

O Gabinete Independente de Comportamento Policial (IOPC) lançou em julho de 2020 uma grande investigação sobre a dimensão da discriminação racial na polícia britânica, na sequência do movimento ‘Black Lives Matter’.

Como parte das manifestações antirracistas desencadeadas em todo o mundo pela morte de George Floyd, um norte-americano asfixiado por um polícia nos Estados Unidos, vários casos de possível violência policial contra minorias provocaram indignação no Reino Unido.

A ex-comissária da Scotland Yard, Cressida Dick, anunciou a demissão em fevereiro de 2022 após um relatório negativo do IOPC que denunciava o comportamento racista, misógino e discriminatório dentro da força policial, com o autarca de Londres, Sadiq Khan, a saudar a investigação então lançada.

Dois anos depois do incidente, a 27 de abril de 2022, os cinco agentes foram alvos de um processo disciplinar por parte do Gabinete Independente de Comportamento Policial (IOPC), órgão responsável pelas denúncias contra a polícia. Um oficial da polícia de Londres, Bas Javid, disse que "lamentava a angústia que o incidente causou a Williams e a Santos".

Em 1999, um relatório qualificou a polícia de Londres como "institucionalmente racista" devido às irregularidades cometidas durante a investigação do homicídio de um adolescente negro, Stephen Lawrence, provocando protestos que levaram a uma reformas na polícia.

De acordo com um estudo da London School of Economics (LSE) publicado em 2018, no Reino Unido os negros têm oito vezes mais probabilidades de serem presos e revistados do que os brancos.

*Artigo atualizado