O diretor da Volta a Portugal, Joaquim Gomes, defendeu hoje que o ciclismo deve aproveitar a confissão de Lance Armstrong para promover o debate profundo sobre o fenómeno do doping, mesmo que para isso tenham de «rolar mais cabeças».

«Há que aproveitar este momento e se tiverem de rolar mais cabeças, mesmo nas mais altas instâncias do ciclismo, elas que rolem», observou Joaquim Gomes em declarações à agência Lusa, em reação à entrevista de Armstrong, na qual o norte-americano admitiu pela primeira vez que se dopou durante toda a carreira de ciclista.

O diretor da Volta a Portugal assinalou que a modalidade «já há alguns meses estava em estado de alerta à espera desta entrevista», concedida à apresentadora de televisão Oprah Winfrey e emitida na quinta-feira nos Estados Unidos, exigindo que retirem consequências da admissão de culpa de uma das maiores figuras do ciclismo.

«Agora é importante promover um debate profundo sobre a questão da dopagem, e perceber que o fenómeno não se restringe ao ciclismo e que é motivado pela feroz competitividade que caracteriza as sociedades atuais», considerou Joaquim Gomes, vencedor da Volta a Portugal em 1989 e 1993.

O ex-corredor lembrou que «Lance Armstrong arrastava milhares de adeptos, que agora se sentem defraudados por este ídolo com pés de barro», mas advertiu que existem mais lesados: «Os organizadores das provas em que participou e os adversários também se devem sentir fortemente prejudicados».

Joaquim Gomes defendeu que «uma modalidade transversal a três séculos vai ser capaz de resistir a mais este golpe», assinalando que a razão pela qual o ciclismo tem sido a mais atingida por casos de doping é também porque os seus responsáveis «são os mais fazem na luta contra a dopagem».

Lance Armstrong venceu, entre 1999 e 2005, sete edições consecutivas da Volta a França, a principal competição velocipédica do mundo, mas as mesmas foram-lhe retiradas pela União Ciclista Internacional (UCI), na sequência de um inquérito da Agência Antidopagem dos Estados Unidos (USADA).

As conclusões apontavam para o recurso ao doping, que sempre negara, ao longo de quase toda a carreira e, por isso, o seu palmarés desde 01 de agosto de 1998 foi “apagado”, sendo que na quinta-feira, o Comité Olímpico Internacional (COI) também exigiu a Armstrong a devolução do bronze conquistado em 2000.