Numa jornada em que o australiano da Israel-Premier Tech se estreou a vencer no Tour aos 35 anos, à frente dos seus companheiros de fuga Taco van der Hoorn (Intermarché-Wanty Gobert) e Edvald Boasson Hagen (TotalEnergies), o ‘milagre’ protagonizado pelo belga permitiu à formação neerlandesa manter viva a esperança de destronar Tadej Pogacar (UAE Emirates), ainda que apenas com Jonas Vingegaard, e continuar a liderar a geral individual, algo que parecia impossível a uma dezena de quilómetros da meta.
O dia negro da Jumbo-Visma, com quedas de Van Aert e de Roglic (cedeu cerca de dois minutos para os restantes favoritos) e uma inoportuna avaria de Vingegaard, foi o mais feliz de Clarke, ainda incrédulo com a vitória alcançada hoje, na quinta (e mais emocionante) etapa da 109.ª Volta a França.
“No inverno, não tinha equipa. A Israel-Premier Tech contactou-me e disse que me dava uma oportunidade. Isto demonstra que devemos aproveitar ao máximo cada oportunidade […] Ainda não consigo acreditar…”, disse Clarke, que se mudou há duas décadas para a Europa para perseguir o sonho de uma vida, o de ser ciclista profissional e ganhar no Tour.
Era uma das etapas mais aguardadas da 109.ª edição e os 157 quilómetros entre Lille e Arenberg Porte du Hainaut não defraudaram; logo nas primeiras pedaladas, lançaram-se à aventura o totalista Magnus Cort (EF Education-Easy Post), primeiro corredor a integrar quatro fugas consecutivas desde Thomas de Gendt em 2017, Van der Hoorn (Intermarché-Wanty Gobert) e Boasson Hagen, aos quais se juntaram, ao quilómetro 21,5, Clarke, Neilson Powless (EF Education-Easypost) e Alexis Gougeard (B&B Hotels-KTM).
Os fugitivos mantiveram uma diferença curta, mas estável para o pelotão, onde o camisola amarela haveria de assumir um protagonismo involuntário, ao cair a cerca de 100 quilómetros da meta – escapou por pouco a uma segunda queda, já que, num momento de distração, quando tentava recolar, quase embateu num carro de apoio.
Ainda Wout van Aert tentava regressar à dianteira do grupo e já este iniciava o périplo pelos temidos 19,4 quilómetros de ‘pavé’, 10,2 dos quais comuns ao percurso deste ano da Paris-Roubaix (apenas quatro dos 11 setores percorridos hoje eram iguais aos da última edição do ‘Inferno do Norte’), num momento de grande nervosismo e de luta por colocação, que deixou o bicampeão Tadej Pogacar (UAE Emirates) novamente sem proteção.
Sabia-se que nem todos os candidatos à geral sairiam ilesos do empedrado e Ben O’Connor (AG2R Citroën) foi a primeira ‘vítima’, ao sofrer uma avaria à entrada do setor 9 – o quarto classificado do Tour2021 perdeu 04.12 minutos para o vencedor e está ‘afundado’ no 67.º lugar da geral.
Os setores de paralelo, que não pouparam nem o ‘super’ Mathieu van der Poel (Alpecin- Deceuninck), o grande favorito ao triunfo no dia de hoje, que mostrou estar muitos ‘furos abaixo’ da forma que exibiu esta temporada, foram particularmente impiedosos com a formação mais forte deste Tour, nomeadamente com Primoz Roglic.
Já depois de Jonas Vingegaard, o ‘vice’ de 2021, sofrer uma avaria e ter de trocar três vezes de bicicleta, e de os diretores da Jumbo-Visma terem decidido ‘abdicar’ da amarela ao mandar ‘parar’ Van Aert para ‘rebocar’ o dinamarquês, o esloveno caiu e, muito provavelmente, hipotecou a possibilidade de sagrar-se vencedor da prova, em 24 de julho, em Paris, uma vez que chegou à meta a mais de dois minutos de Pogacar.
Numa derradeira hora de prova frenética, pautada por recorrentes quedas, furos e avarias, e por diferentes situações de corrida, nomeadamente um ataque de ‘Pogi’ que o levou a ganhar tempo (mas pouco) a todos os favoritos, foi a bravura dos fugitivos a perseverar, com Clarke, que cortou a meta após 03:13.35 horas, a levar a melhor no ‘sprint’ final, diante de Van der Hoorn, Boasson Hagen, terceiro a dois segundos, e Powless, que chegou a surgir como camisola amarela virtual, depois de ser quarto a quatro segundos.
Mas o inesgotável Van Aert ainda encontrou forças para trabalhar nos derradeiros quilómetros na frente do grupo dos candidatos à geral, onde também seguiam os portugueses Nelson Oliveira (Movistar) e Ruben Guerreiro (EF Education-EasyPost), de modo a diminuir ainda mais as diferenças para o vencedor da etapa e para Pogacar, cifrando a primeira em 01.04 minutos e a segunda em 13 segundos, e, sem querer, defendeu a amarela.
‘WVA’ terá, assim, a honra de envergar a amarela no seu país, na etapa mais longa da 109.ª edição, que vai ligar Binche e Longwy, no total de 219,9 quilómetros, sendo expectável que conserve os 13 segundos de vantagem que tem sobre Powless, segundo, e 14 sobre Boasson Hagen, terceiro.
Apesar de ganhado tempo à concorrência, Pogacar desceu ao quarto lugar da geral, agora a 19 segundos de Van Aert, numa classificação em que Vingegaard é sétimo, a 40 segundos, à frente de um trio da INEOS: Adam Yates, Thomas Pidcock e Geraint Thomas.
Nelson Oliveira é 36.º, a 01.55 minutos do belga da Jumbo-Visma, enquanto Ruben Guerreiro prosseguiu a ascensão na geral, após as quedas das duas primeiras jornadas, e está no 147.º lugar.
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