O Fundão, há 12 anos consecutivos no primeiro escalão do futsal nacional, tem sido "um trampolim" para jogadores e treinadores, com cinco elementos da comitiva campeã europeia a terem ligação ao clube.

"Este tem sido lugar de passagem para grandes treinadores e jogadores. O clube tem sido um trampolim e ficamos satisfeitos ao ver jogadores que estiveram no Fundão serem campeões europeus", sublinha Rui Quelhas, o presidente da Associação Desportiva do Fundão, em declarações à agência Lusa.

Do lote de jogadores campeões europeus em Ljubljana, Márcio Moreira faz parte do plantel beirão, e Pany Varela, Tunha e André Sousa foram jogadores do Fundão, enquanto José Luís Mendes levou o clube do Distrital à I Divisão, até ocupar o lugar de adjunto do selecionador nacional, Jorge Braz.

Com o presidente a fazer também referência a Joel Rocha, que saiu para treinar o Benfica.

O momento mais alto "da Desportiva", como o clube é conhecido na cidade, foi a conquista da Taça de Portugal, na temporada 2013/14. Nos últimos anos disputou também uma final do campeonato e outra da Taça, além de ter estado nos encontros decisivos das duas primeiras edições da Taça da Liga.

A grande mudança tem sido ao nível das condições de trabalho e numa cada vez maior profissionalização. Hoje apenas três jogadores, estudantes, não estão a tempo inteiro. "A seriedade" com que o projeto é encarado faz com que o grupo tenha as mesmas unidades de treino que as grandes equipas, Benfica e Sporting, com orçamentos cerca de dez vezes superiores.

"Agora temos um clube para onde os jogadores gostam de vir. Onde gostam de jogar, com um trabalho sério", vinca Rui Quelhas, que acredita ser esse o fator que se sobrepõe aos constrangimentos da interioridade, como as deslocações constantes nos dias de jogo e o desgaste que implicam.

"Os nossos jogadores treinam sete vezes por semana. Nos restantes clubes treinam três, quatro, cinco vezes. Um jogador que vem de fora, que quer ser profissional, que se quer dedicar a 100%, escolhe o Fundão", acrescenta o presidente.

Foi o que convenceu o agora campeão europeu Márcio Moreira, formado no Freixieiro e a cumprir a terceira época no clube.

"Vim com a intenção de evoluir como jogador e isso tem acontecido, senão não tinha ido à seleção. O Fundão ajudou-me a mim e eu também ajudei o Fundão", acentua o ala.

O clube tem formação em todos os escalões, tem equipa sénior feminina e os juniores a disputarem o nacional, num total de 136 federados, mas a base de recrutamento é limitada na região e os campeonatos pouco competitivos, o que dificulta a transição para a equipa principal. Neste momento, são três os jogadores formados no clube no plantel principal. Isso obriga a procurar jogadores jovens com a ambição de vestirem as cores nacionais, por não existir capacidade financeira para atrair jogadores em final de carreira e "mais acomodados".

"Nós temos claramente um jogador-alvo, que é um jogador ambicioso, que acredite na sua carreira de futsalista e olhe para o Fundão, que é uma equipa que trabalha bem, como um trampolim para outras equipas, Benfica, Sporting ou estrangeiro", enfatiza Rui Quelhas.

O projeto é possível graças ao apoio do município, de 75 mil euros anuais, que representava cerca de 80% da receita em 2010 e atualmente ronda os 35% do orçamento, de cerca de 200 mil euros. O restante é conseguido com a ajuda de empresas locais.

Nuno Couto vestiu a camisola da Desportiva durante 15 anos. Durante esta temporada deixou de jogar para treinar a equipa, procura implementar metodologias técnicas transversais a todos os escalões e pede um maior apoio por parte da Federação Portuguesa de Futebol.

"Se querem clubes com pergaminhos que continuem com o bom trabalho e a potenciar jogadores que podem ser o futuro da seleção nacional, certamente terão de nos apoiar de outra maneira e dar uma visibilidade diferente", preconiza.

Para Rui Quelhas, o futuro do Fundão, sexto classificado da Liga, passa por "cimentar a equipa nas quatro melhores do futsal português".