A busca da terceira participação olímpica é a mais especial e diferente para Joana Vasconcelos, atleta que contrariou a tendência no alto rendimento em Portugal ao manter-se no ativo enquanto cuida da filha, que a acompanha tanto nos estágios como nas principais provas internacionais.

“Agora é uma fase decisiva para mim e, psicologicamente, tê-la por perto é fantástico. Como ela ainda depende de mim, pois amamento, não ia ser tão fácil para mim. Assim, estou mais tranquila”, conta, à Lusa,

A missão de Joana é facilitada pelo facto do marido, Hélder, dedicar-lhe boa parte do seu tempo, dividido entre a companheira, o cuidar da bebé de ambos e do físico da seleção, à qual dá também o seu contributo.

“Tenho aqui o meu marido, o Hélder, que me tem ajudado bastante e tem ficado com ela nestes momentos em que preciso focar-me. Não está cá, mas com ela no hotel. E ela está tranquila e eu também, pois sei que está bem entregue. É um amor que não tem explicação e assim estou muito tranquila para encarar estas competições”, admite.

Joana Vasconcelos desconhece exemplos semelhantes ao seu em Portugal, contudo aponta alguns, cirurgicamente, no desporto internacional, incluindo uma canoísta australiana que se foi mantendo com a seleção, mesmo enquanto estava grávida, e persiste no seio da equipa nacional com a sua criança.

Admite a sorte de ter uma criança “super-tranquila”, que lhe permite noites serenas e que até “gosta do ambiente” que a rodeia na canoagem, reagindo quando vê as embarcações a passar.

“O resto da seleção gosta de brincar com ela. Neste momento não está na pista pois temos de estar focados, mas em estágio interagem, brincam, dançam… assim temos outro foco além da canoagem”, ilustra.

A atleta elogia a atitude da Federação Portuguesa de Canoagem que apoiou a sua opção – “também querem que eu esteja bem” – e desafia outras desportistas lusas a seguir o seu exemplo, instando-as a não deixar o desporto.

“Este é o ano em que me sinto melhor. Recuperei muito bem depois de ser mãe, nem esperava vencer a seletiva de K1 em Portugal. Neste momento, o meu principal foco é a minha filha e é ela quem me dá maior motivação para conseguir aqui bons resultados. Darei tudo por tudo para apurar o K2 e K4 500”, prometeu.

Joana Vasconcelos acrescentou ainda que quando se quer “muito” algo, é possível consegui-lo, não se devendo hesitar sempre que é necessário pedir ajuda.

“Se não tivesse o marido que me pudesse ajudar, teria de procurar alguém, para eu estar mais estável. Para o ano ela vai ser maior e não me vai custar tanto, não dependerá tanto de mim, não vou estar a amamentar. Nesta fase para estar mais tranquila, é ela estar cá”, concluiu.

Fernando Pimenta entende perfeitamente Joana Vasconcelos, pois é pai da Margarida há dois anos e seis meses e de Santiago há meio ano, filhos que não o acompanham nas provas internacionais, mas com quem convive, sempre que possível, nos estágios em Portugal.

“Este suporte familiar é, sem dúvida, muito importante em termos emocionais. Eu e o meu treinador temos isso definido, na última fase da época ter a família mais por perto por causa dos meus dois filhos. Pelo menos acordar e vê-los e antes de dormir estar novamente com eles. É diferente de fazer videochamadas. É mais cansativo, mas compensa em temos emocionais”, vincou.

O melhor canoísta português de todos os tempos sublinha o facto da presença familiar não interferir com o planeamento delineado pelo técnico Hélio Lucas e de haver regras também para a sua presença em estágio.

“É importante e vantajoso termos a família o mais próximo possível. Em Portugal temos muito que evoluir no aspeto do apoio familiar e aos atletas na parentalidade. São pequenos pormenores que fazem grande diferença”, assegura.

Clara, de 14 meses, é a menina de João Ribeiro, que revela que nas provas “até é mais fácil” gerir a saudade, pois os atletas estão sempre “muito focados nas competições e os dias passam a voar”.

Nos estágios orientados pelo técnico Rui Fernandes, agradece o facto de ir a casa praticamente todos os fins de semana, ainda assim sentido que está a perder “alguns momentos” importantes do crescimento da sua filha, pelo que “ponderar ter o segundo filho não será para já, para poder acompanhá-lo mais”.

Quanto a Joana Vasconcelos, entende que “tem sabido gerir bem as coisas com o marido” e que, pelo que tem feito na canoagem em simultâneo com a maternidade, garante que estamos na presença de uma “autêntica guerreira”.