Chama-se Marc Fortuny, é um judoca espanhol e na prateleira conta com seis medalhas em campeonatos espanhóis (ouro em juniores, prata e bronze em sub-23 e dois bronzes em tudo), e duas medalhas internacionais. Foi um dos melhores judocas espanhóis no escalão de menos de 100 kg, mas acabou por deixar o desporto federado. Porquê? Por ser gay.

Em entrevista ao jornal espanhol 'Marca', Fortuny contou a sua história e como a sua sexualidade o afastou dos tapetes durantes três anos.

"Tive de deixar o desporto de elite porque não estava bem, precisava de um período para refletir e dar um passo em frente ao nível pessoal. Eu estava a fazer o que sempre fizera em toda a minha vida, mas em alguns dias era uma tortura. Sabia que era gay, mas não sabia como lidar com isso. Vi que seria difícil assumir-me e continuar a competir. Por isso decidi sair", começou por explicar o espanhol.

Por ser um desporto que implicava contactos com outros atletas, Marc Fortuny preferiu desistir da sua paixão, para conseguir assumir finalmente a sua orientação sexual. "Quando fazia judo pensava: 'se me assumo, durante os combates os meus companheiros podem pensar que estou a tocar-lhes de outra forma...' Felizmente esses medos passaram", desabafou.

"Este assunto é totalmente tabu no desporto. É uma coisa que não se fala e o problema é de raiz porque decidiu-se que o desporto é algo masculino, de machos. E isso criou um dilema na minha cabeça, pois sinto-me atraído por rapazes mas não me sinto menos homem por causa disso", afirmou.

No entanto, Fortuny acredita que existe uma solução para o 'problema'. Para que os estereótipos e a discriminação parem, o judoca considera que os atletas homossexuais têm de se assumir.

"Faltam desportistas que são uma referência e que se assumam como gays. Eu não me sentia identificado com os gays que conhecia. O gay mais conhecido por toda a gente é sempre efeminado, que se dá com mulheres... Isso não tem nada de mal, mas eu não me vejo assim. Quando houver mais referências no desporto, tudo mudará", garantiu.

Depois de muitos anos no mundo do desporto, Marc Fortuny acredita que as estatísticas falam por tudo aquilo que presenciou. "Estatisticamente tem de ser assim. Que os futebolistas e as pessoas influentes se assumam e aí tudo mudará! Até que um futebolista importante admita ser homossexual, ninguém vai mudar este estigma. Uma pessoa é homossexual mas não perde a sua masculinidade por causa disso. Alguém acredita que em mais de 600 jogadores na 1ª Divisão não há um homossexual? Por favor... É uma questão estatística. Há muitos tabus porque estas pessoas têm medo. Há muita pressão dos clubes, dos adeptos, até pela imagem porque se associou à homossexualidade, como sendo algo mau", acrescentou.

Mas, ainda antes de os atletas se assumirem, Fortuny acredita que têm de ser educados para tal. "Temos que começar com educação e pelos pequenos detalhes. É importante alterar o idioma que é usado porque isso é uma condição não intencional. Por exemplo, a palavra "bicha!", explicou ainda.

Apesar de uma época mais negra, Marc Fortuny voltou ao desporto. "Agora sou mais feliz. Posso ser eu mesmo em todos os momentos sem me preocupar e sem ter que fingir ser uma pessoa que não sou. Em diferentes situações anteriores, sentia-me obrigado a fazer comentários sobre os quais não pensava, mas evitei sentir-me excluído. Agora voltei para aproveitar o judo".