França e Irlanda vão tentar, a partir de sexta-feira, esquecer campanhas traumáticas no último Mundial de râguebi, vencendo um torneio das Seis Nações marcado, este ano, pela ausência do brilho de algumas das maiores estrelas da modalidade.

As duas seleções europeias melhor classificadas no ranking mundial enfrentam-se no encontro de abertura, que pode 'matar' desde logo a incerteza quanto ao favorito para conquistar a 130.ª edição, apesar de a quantidade de ausências na generalidade das equipa aconselhar prudência nas apostas.

Os franceses, quartos classificados do ranking, não contam com a sua principal referência, Antoine Dupont, uma vez que o melhor jogador do mundo em 2021 decidiu focar-se na preparação da seleção de sevens, com a qual vai disputar os Jogos Olímpicos de Paris'2024.

O objetivo é evitar uma desilusão semelhante à sofrida pelos bleus no recente Mundial, onde o fator casa não impediu a eliminação logo nos quartos de final, perante a África do Sul, que viria a vencer a competição.

Já a Irlanda, atual segunda classificada do ranking, vai defender o título privada do seu icónico capitão Jonathan Sexton, que se retirou do râguebi internacional após a também dececionante campanha no França'2023, onde chegou como líder mundial, mas caiu, igualmente nos quartos de final, frente à Nova Zelândia.

São as duas principais estrelas que não emprestam o seu brilho ao torneio neste ano, para além dos lesionados Romain Ntamack, Thibault Flament, Emmanuel Meafou e Anthony Jelonch, pelos 'bleus', e Dave Kilcoyne, Mack Hansen, Jimmy O’Brien e Keith Earls, este último também retirado, como Sexton, no lado irlandês.

Apesar das inúmeras contrariedades em ambos os conjuntos, é difícil não reconhecer que o vencedor do embate de sexta-feira, em Marselha, ficará com a via aberta para festejar o título.

Ainda por cima, ambas disputam, este ano, três encontros em casa. E se a Irlanda parece ter os adversários mais complicados nas duas deslocações, a França e a Inglaterra, os gauleses vão deixar o conforto do Stade de France, em obras de requalificação para os Jogos Olímpicos, e andar com a casa às costas durante toda a competição.

Por 'fora' corre a Inglaterra, com a confiança restaurada após o terceiro lugar no último Mundial, que contrariou a maioria das previsões, mas ainda ‘ensombrada’ pelas prestações nas últimas três edições do Seis Nações, nas quais terminou, sucessivamente, em quinto, terceiro e quarto lugar.

Além disso, também o seu capitão, Owen Farrell, 'sucumbiu' ao seu próprio estilo controverso e decidiu fazer uma pausa na carreira internacional para "dar prioridade à saúde mental e à família", após ser alvo de vários insultos e ameaças por parte de alguns adeptos.

Prosseguindo no caminho das estrelas ausentes, o País de Gales também ataca o torneio sem a sua maior referência dos últimos anos, o ponta Louis Rees-Zammit, que chocou o país ao anunciar, horas antes da primeira convocatória, que iria fazer uma pausa no râguebi para perseguir o sonho de jogar na NFL, a principal competição de futebol americano dos Estados Unidos.

Autor de 14 ensaios em 31 internacionalizações, um dos quais festejado ao estilo de Cristiano Ronaldo, frente à seleção portuguesa, no último Mundial, o ponta galês aumentou ainda mais as dificuldades para montar uma equipa competitiva ao selecionador Warren Gatland, já privado de Alun Wyn Jones, Justin Tipuric, Dan Biggar e Leigh Halfpenny, estrelas que penduraram as botas desde a última edição.

Perante todas estas ausências, ganha força a tese de que a Escócia, terceira classificada em 2023, pode voltar a ser a grande surpresa do torneio em 2024. O Chardon XV não chegou aos quartos de final no Mundial, mas tem como atenuante ter disputado o grupo com as superfavoritas Irlanda e África do Sul.

E ao contrário dos principais candidatos ao título, até chega ao torneio com todos os olhos postos na sua principal estrela, Finn Russell, que se autointitulou recentemente como "o Lionel Messi do râguebi" no documentário "Six Nations: Full Contact", que estreou esta semana no Netflix.

Para manter alguma normalidade, a Itália, agora treinada por Gonzalo Quesada, volta a ser a principal candidata a arrecadar a 'colher de pau', troféu imaginário atribuído ao último classificado de cada edição do Seis Nações.

Mas os transalpinos visitam o País de Gales na última jornada e, caso se confirmem as piores previsões para a equipa que venceu Portugal (28-8) no último Mundial, podem chegar a Cardiff motivados pela possibilidade de ceder a 'colher' pela primeira vez desde 2015.

O torneio das Seis Nações de 2024 começa na sexta-feira e prolonga-se até 16 de março, em cinco jornadas disputadas no formato 'round robin' (todos contra todos a uma volta).