O ténis de mesa português ao mais alto nível atravessa uma fase de mudança geracional, com novos nomes gradualmente integrados numa seleção sénior de consagrados, uma mistura notória nos Jogos do Mediterrâneo Oran2022.

Em Oran, na Argélia, um dos porta-estandartes da missão portuguesa na cerimónia de abertura é João Monteiro, um ‘veterano’ do ténis de mesa português que participou em quatro Jogos Olímpicos, a partir de Pequim2008, e ainda pensa em Paris2024.

À agência Lusa, os mais experientes destacam a necessidade de aproximar os jovens do nível de uma geração que marcou a modalidade, com Monteiro, Marcos Freitas e Tiago Apolónia, nos masculinos, a elevarem o nível, enquanto nos femininos foi pela mão das também olímpicas Fu Yu e Jieni Shao.

Na 19.ª edição dos Jogos do Mediterrâneo, estão presentes João Monteiro, João Geraldo e Diogo Chen, em masculinos, e Jieni Shao, Inês Matos e Matilde Pinto, em femininos.

Se Jieni Shao, com 28 anos, é uma atleta olímpica experiente, a jogar por uma equipa estrangeira, e que procura regressar a esse palco em Paris2024, Inês Matos é campeã nacional aos 17 anos, enquanto Matilde Pinto tem apenas 16.

Em Oran, a equipa feminina tem como objetivo “uma medalha”, admite a selecionadora Xie Juan, e a inclusão das atletas mais jovens prende-se com a necessidade de as incluir para “evoluírem mais rápido e acompanharem a equipa sénior”.

“Normalmente, temos sempre uma ou duas jogadoras mais experientes, que ajudam as jovens a ganhar experiência. Assim funciona bem”, realça a técnica.

Juan levou Inês Matos para o CTM Mirandela, que também treina, porque o clube “tem interesse em ter jogadoras que possam tentar ganhar campeonatos”, mas sobretudo porque a jovem “está a jogar bem, tem futuro e evoluiu muito rápido”.

“Acho que tem muita vontade de ser jogadora, trabalha bem e pode ser o futuro em termos olímpicos”, afirma.

Portugal entra hoje em ação por equipas e nos próximos dias em singulares, com Inês Matos, 252.ª jogadora do ‘ranking’ mundial, a destacar o “grande privilégio” de poder aproximar-se e mesmo trabalhar com nomes como Jieni Shao e Fu Yu.

“Elas são um exemplo para Portugal e quero sempre tentar seguir os passos delas para ver se consigo ter os resultados que elas têm”, atira.

Entre o Boa Hora, em Lisboa, em que joga nos escalões jovens, e o CTM Mirandela, para que se mudou nos seniores, e viver em Vila Nova de Gaia, no Porto, para poder treinar no Centro de Alto Rendimento.

“Não vai ser fácil. Para o ano vou começar a faculdade também e sempre que posso vou de fim de semana a Lisboa para ver os meus pais. Não é fácil, claro que tenho sempre saudades, tenho conseguir gerir isto muito bem”, desabafa a aspirante a ciências farmacêuticas.

Ainda antes da faculdade, há exames para fazer, ao abrigo do estatuto de alto rendimento nas escolas, e ainda antes desses exames, o Europeu de jovens.

Do lado masculino, João Monteiro foi, aos 38 anos, um dos porta-estandartes da missão portuguesa na cerimónia de abertura de sábado, numa carreira em que passou por quatro Jogos Olímpicos, de olho nos quintos, mas ainda assim teve um momento que “ficará para sempre guardado” no Estádio Olímpico de Oran.

“A minha motivação está sempre alta, eu sou um apaixonado pela modalidade. Se não trabalhasse bastante e tivesse um grande amor pela modalidade, hoje não poderia estar entre os melhores”, destaca o jogador, manifestando um exemplo para os mais novos.

A esses, “cabe-lhes trabalhar”, para poderem “olhar para os jogadores mais velhos”, como Monteiro, Apolónia e Freitas, para poderem “fazer o seu caminho”. A receita, diz, é mesmo “trabalhar bastante e ser paciente”.

“Se calhar, têm a sorte de terem referências. Na nossa altura não havia referências. (...) Nós conseguimos fazer uma grande viragem no ténis de mesa, conseguimos colocá-lo como modalidade de referência no país”, lembra.

João Monteiro vê o feminino a “começar aquilo que também foi feito em masculinos”, isto é, “partir do zero, trabalhar muito, ser paciente”, e os resultados começam a aparecer, mostrando que estão “no bom caminho”.

“No masculino é igual. O João Geraldo já faz bons resultados, o Diogo Chen está um pouco mais atrás. Cabe-lhe a ele continuar a trabalhar e tentar ser cada vez melhor”, resume.

Certo é que esta mudança geracional não tem de ‘empurrar’ os mais velhos, explica Monteiro, que “se não tivesse objetivos em termos internacionais”, já tinha “abdicado da seleção”.

Paris2024 está no horizonte, e o ‘trio maravilha’, isto é, os pioneiros em participações olímpicas no ténis de mesa português, Marcos Freitas, Tiago Apolónia e João Monteiro, ainda se encontram “ao nível dos melhores”, mesmo que João Geraldo esteja “praticamente” lado a lado.

Os Jogos do Mediterrâneo Oran2022 arrancaram no sábado e decorrem até 06 de julho, com mais de três mil atletas de 26 países diferentes, incluindo 159 portugueses em 20 disciplinas, com 20 atletas olímpicos entre o contingente luso.