
É neste sábado, dia 14 de junho, que arranca a 93ª edição das 24 horas de Le Mans, uma das mais míticas provas do desporto motorizado mundial.
A prova francesa compõe a chamada 'Triple Crown' das provas de resistência mundiais, ao lado das 24 Horas de Daytona e as 12 Horas de Sebring.
A corrida
Ao contrário da esmagadora maioria das corridas, as 24 horas de Le Mans procura, não o carro mais rápido, mas antes o mais resistente. Ao longo da prova, as equipas procuram gerir da melhor maneira os consumíveis do seu carro (combustível, pneus, travões)
O período escolhido para o evento também não é por acaso; uma corrida disputada no verão significa que as noites são mais curtas...mas também aumenta a temperatura dentro dos monolugares, totalmente vedados.
Em média, os pilotos percorrem cerca de 5.000 quilómetros, sendo que as regras impõem que cada monolugar seja distribuído por três pilotos ao longo das 24 horas. Cada um dos pilotos corre frequentemente mais de duas horas consecutivas antes de uma pausa.
Quanto aos carros, estes estão divididos em três categorias: os protótipos desportivos ou 'hypercar' (veículos de alto nível, construídos com o propósito de competição), os 'Le Mans Prototypes (LMP)', e os 'Grand Touring' (GT), carros mais aproximados dos que são vendidos ao público.
É na categoria de 'hypercar' que encontramos as marcas mais mediáticas, como a Porsche, BMW, Aston Martin ou Ferrari. Ao todo, são 63 o número de carros que irão arrancar da grelha de partida do circuito de Le Mans.
Os carros competem todos ao mesmo tempo, procurando a melhor posição, não só na sua própria categoria, como também a nível global. A corrida arranca precisamente às 16 horas, terminando, naturalmente, às 16 horas do dia 16 de junho.
História
A primeira corrida deu-se entre 26 e 27 de maio de 1923, tendo passado para junho. As exceções ocorreram em 1956, quando foi disputada em julho, em 1968 quando ocorreu em setembro devido a instabilidade política em França, tendo tal data sido repetida em 2020 por causa da pandemia.
Apenas por dez vezes as 24 Horas de Le Mans não se realizaram, em 1936 devido a uma greve durante a Grande Depressão e entre 1940 e 48, durante a Segunda Guerra Mundial.
Tom Kristensen, o “Mr. Le Mans”
Natural de Hobro, Dinamarca, Tom Kristensen (nascido a 7 de julho de 1967) é uma das figuras mais lendárias da história das 24 Horas de Le Mans. Ao longo da sua carreira, alcançou um feito inigualável: venceu a mítica prova francesa por nove vezes, um recorde absoluto que lhe valeu o epíteto de “Mr. Le Mans”.
As suas vitórias aconteceram nos anos de 1997, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2008 e 2013, com destaque especial para a impressionante série de seis triunfos consecutivos entre 2000 e 2005 — um domínio sem precedentes numa das provas mais exigentes do automobilismo mundial.
Além do sucesso em Le Mans, Kristensen teve também uma carreira de destaque na Deutsche Tourenwagen Masters (DTM), o competitivo campeonato alemão de carros de turismo, onde foi piloto oficial da Audi, marca com a qual assinou alguns dos seus maiores triunfos.
O seu legado vai além dos troféus conquistados: Kristensen tornou-se sinónimo de excelência, resistência e inteligência estratégica em pista, sendo ainda hoje uma referência para pilotos e equipas que ambicionam escrever o seu nome na história de Le Mans.
Um circuito lendário moldado pela velocidade e pela segurança
Com uma extensão total de 13.626 metros, o traçado de Le Mans é uma combinação única de pista permanente — parte do Circuito Bugatti — e estradas nacionais, utilizadas no quotidiano fora dos dias da prova. Esta fusão entre o urbano e o desportivo confere à corrida um carácter muito próprio, reforçado por curvas icónicas como Tertre Rouge, Mulsanne, Arnage, Maison Blanche e, claro, a famosíssima reta de Hunaudières.
Este último segmento, com cinco quilómetros de extensão, foi durante décadas sinónimo de velocidade pura. Até ao final dos anos 1980, os protótipos conseguiam ali manter velocidades superiores a 400 km/h durante cerca de um minuto, um cenário impressionante mas também perigoso. O recorde absoluto foi estabelecido em 1988, quando o WM-Peugeot atingiu os 405 km/h — um feito tão espetacular quanto arriscado.
A ausência de carga aerodinâmica em alguns carros, para favorecer a velocidade de ponta, fazia com que se tornassem instáveis, chegando mesmo a levantar voo. Para além disso, os pneus, sujeitos a esforços extremos, eram levados a deformações que podiam causar rebentamentos, especialmente preocupantes em condições noturnas e no meio de carros GT muito mais lentos, com diferenças de velocidade que chegavam aos 150 km/h.
Foi precisamente por isso que, em 1990, as autoridades introduziram duas chicanes na reta de Hunaudières, dividindo-a em três secções e travando os excessos de velocidade. Uma decisão polémica na altura, mas que se revelou essencial para a segurança e longevidade da prova mais icónica do endurance mundial.
Hoje, Le Mans mantém o seu fascínio intacto, equilibrando tradição e modernidade, velocidade e segurança, num traçado onde a história se escreve a cada curva e a cada noite em claro.
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