A manifestação frente ao BCP no Tagus PArk, Oeiras, começou ao início da tarde e está a ficar mais ruidosa à medida que se aproxima a hora da assembleia-geral às 14:30. Agora, já se ouvem apitos e as palavras de ordem "Maya, escuta, bancários estão em luta" e "lucros de milhões, aumentos de tostões".

Os manifestantes têm cartazes a criticar "aumentos indignos" e há uma carrinha com um grande cartaz no qual se lê "Exigimos decência nos aumentos dos salários e pensões dos bancários ativos e reformados".

O presidente do SNQTB, Paulo Marcos, disse à Lusa que o protesto é "pela justa distribuição não só aos acionistas, mas também aos trabalhadores" dos resultados do banco e contra a atualização dos salários nuns "míseros 2,25%".

O dirigente sindical disse que chegaram trabalhadores de todo o país em autocarros e que espera que também funcionários do BCP se juntem ao protesto na pausa de almoço.

Paulo Marcos vai participar na assembleia-geral representando sócios do SNQTB que têm ações do banco e disse à Lusa que pedirá a palavra para questionar o esforço de redistribuição dos resultados entre dividendos, remuneração da administração e trabalhadores.

"Vamos saudar o ano excelente de 2023 e pôr em causa os valores que trabalhadores não recebem numa sociedade que se quer justa e equitativa e quando se soube que o presidente executivo [do BCP] tem uma remuneração 22 vezes superior ao trabalhador médio, diferença que pode ser esbatida", afirmou à Lusa.

Questionado sobre a não presença de outros sindicatos bancários, nomeadamente os afetos à UGT, respondeu que foram convidados.

"Provavelmente estamos em níveis de maturidade e consciencialização sindical diferentes, representamos cerca de metade dos trabalhadores bancários no ativo e querem postura assertiva. Não contem connosco para passividades", disse.

Hoje decorre a assembleia-geral do banco BCP, marcada para as 14:30. O BCP tem mais de 100 mil acionistas, sendo os maiores a chinesa Fosun com 20% e a angolana Sonangol com 19,49% do capital.

Entre os pontos em cima da mesa estão a eleição da mesa da assembleia-geral para o quadriénio 2024/2027 (sendo a proposta manter como presidente Pedro Rebelo de Sousa), a aprovação do relatório de gestão, balanço e contas de 2023 (ano de lucros recorde de 856 milhões de euros) e a aprovação da proposta de aplicação de resultados, desde logo a distribuição de 256,9 milhões de euros em dividendos.

O presidente executivo do BCP, Miguel Maya, tem dito que não fala em público sobre aumentos salariais. Ainda assim, na conferência de imprensa de apresentação dos resultados do primeiro trimestre (lucros de 234,3 milhões de euros), disse que quando toma decisões destas tem de ter "visão de sustentabilidade" do banco no futuro e que ninguém mais que a sua equipa quer pagar melhor aos trabalhadores.

Maya considerou ainda que não se pode falar em aumentos salariais justificando com os lucros recorde de 2023, pois estes resultados são de um ano, ao passo que o aumento salarial permanece todos os anos enquanto o trabalhador estiver no banco.

A última proposta do BCP para aumentos salariais em 2024 é de 2,25%, um valor rejeitado pelos sindicatos. Aliás, os sindicatos também rejeitam as outras propostas existentes no setor por considerarem muito baixas face ao aumento do custo de vida e aos lucros da banca (a proposta dos bancos que subscrevem o Acordo Coletivo de Trabalho do setor é de 2,5% e a proposta da Caixa Geral de Depósitos é de 3,4%).

No final de março, o BCP tinha 6.269 trabalhadores em Portugal.

Segundo o relatório e contas de 2023, o ano passado, o BCP pagou aos membros do Conselho de Administração não executivos 1,56 milhões de euros, sendo que para o presidente, Nuno Amado, foram 691 mil euros. Aos membros da Comissão Executiva foram pagos 3,0 milhões de euros, cabendo a Miguel Maya 649 mil euros.

Alem dos salários, os administradores recebem remuneração variável (em dinheiro e ações) e complementos de reforma.

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