"O sentimento é de perplexidade e de preocupação, mas ao mesmo tempo de muita coragem e muita resiliência e fundamentalmente de muito espírito de entreajuda", afirmou o diplomata, ao fazer hoje, em Maputo, o balanço de vários encontros que manteve nos últimos dias com representantes da comunidade portuguesa, incluindo empresas.
"Eu estou convencido seriamente de que, com o apoio quotidiano da embaixada, do consulado-geral, com o resguardo e o apoio institucional por parte do Governo, das autoridades portuguesas em Lisboa, que continuam muito atentas à evolução desta realidade, nós seremos capazes de, se e na medida em que os nossos irmãos moçambicanos aqui assim o entenderem, podermos ajudar e contribuir para uma solução", disse o embaixador.
Não há dados consolidados de portugueses a viver e trabalhar em Moçambique, mas as autoridades nacionais estimam que se situem na ordem das dezenas de milhares, além de cerca de 400 empresas com ligação a Portugal a operar no país.
Moçambique vive desde 21 de outubro um momento de forte contestação ao processo em torno das eleições gerais de 09 de outubro, com paralisações consecutivas e manifestações, algumas a degenerarem em confrontos com a polícia, incluindo em Maputo e essencialmente convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não aceita os resultados anunciados da votação, que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.
"Desde que se iniciou este período mais conturbado da vida político-social em Moçambique, nós temos redobrado os cuidados com a segurança da comunidade e temos seguido com especial acuidade as movimentações das forças políticas, dos atores políticos, sociais, económicos deste país. Eu digo redobrados porque isso faz parte do nosso dia-a-dia, a segurança da comunidade e o seguimento da situação política interna, faz parte do dia a dia, quer da vida da Embaixada, quer do consulado-geral", enfatizou António Costa Moura.
Nas últimas semanas, a Embaixada e o consulado-geral de Portugal em Maputo realizaram vários encontros com representantes da comunidade portuguesa, o último dos quais no sábado.
"O que nós extraímos é que há uma preocupação, que é uma preocupação latente, mas há também a convicção forte de que a comunidade portuguesa é uma comunidade muito bem integrada neste país, é uma comunidade que já deu provas noutras ocasiões, também elas muito complicadas, de grande resiliência", sublinhou, garantindo que continua a "seguir os acontecimentos".
"Há uma grande expetativa em que os irmãos moçambicanos, as instituições públicas deste país, sejam capazes de, por elas próprias, resolver o problema que têm em mãos. Nós acreditamos seriamente de que vai ser possível chegar a um entendimento e de que passo a passo os próprios moçambicanos, a quem compete em primeira linha resolver os seus próprios problemas, serão capazes de o fazer", disse.
O consulado-geral de Portugal em Maputo integra a equipa multidisciplinar criada pela Embaixada e tem vindo a fazer a monitorização da situação de segurança e a avaliação dos impactos e riscos para a comunidade.
"Durante todo este período de manifestações, o consulado-geral esteve aberto todos os dias, incluindo no dia 07 de novembro, que foi o dia talvez mais tenso até ao momento. Este fim de semana, tentámos ter uma abrangência maior, para além das consultas que normalmente fazemos e regularmente fazemos com figuras que representam de uma forma mais volumosa a comunidade portuguesa, e fizemos uma sessão de porta aberta a quem quisesse participar, com cerca de uma centena e meia de cidadãos nacionais presentes", explicou o cônsul-geral em Maputo, Fernando Morgado.
Acrescentou que após estas consultas à comunidade portuguesa a conclusão é de uma "grande capacidade para perceber o meio que os rodeia" e adaptação.
"Até, apesar da volatilidade da situação, alguma serenidade diria mesmo. Naturalmente, é uma situação que inspira de todos cuidados redobrados, as pessoas têm consciência disso e do nosso lado, o que tentaremos continuar a fazer é manter esta porta aberta para a nossa comunidade e mantermos também o contacto permanente com as recomendações que são úteis e pertinentes para a segurança de todos os portugueses", concluiu Fernando Morgado.
PVJ // VM
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