Vítor Bruno deve sair e evitar que lhe peçam para sair?

Abel Ferreira deve sair ou ainda tem motivação e espaço para continuar?

Pepa, subiu de divisão. Deve ficar e continuar no projeto do clube ou sair e procurar novo projeto?

Artur Jorge ganha a Libertadores e está a um passo de ganhar o Brasileirão, deve permanecer ou partir?

Pedro Caixinha devia ter saído no fim de uma época estrondosa em 2023/2024 ou fez bem esperar, mesmo tendo sido despedido.

Ruben Amorim, saiu a meio de uma época que se estava a tornar, talvez, a melhor da história do Sporting Clube de Portugal para evitar, talvez, a pior época da história do Manchester United.

José Peseiro, que levou a Nigéria à final da AFCON contra tudo e outra todos, deveria ter ficado e aproveitado o feito, ou fez bem em sair?

Estes são dilemas incríveis e desafiantes que passamos em todos os nossos projetos.

A vida de Treinador passa muito por ter a capacidade de ler humildemente os momentos que determinam os contextos. Ou seja, cada espaço de interação é regido pelas vontades de cada um. Estas ganham uma dimensão tremendamente complexa por não serem estanques, lineares nem matemáticas.

Não são preditas, não são matemática, não são Inteligência artificial. São emoções, são pessoas a gerirem os seus espaços internos em constante avaliação e reavaliação através da interação com os outros membros desse contexto.

Este ponto da constante interação é tão subtil que mecanismo internos de sobrevivência são acionados e por vezes perdemos a clareza da razão.

Falo de ego, orgulho, medo, agressividade. Emoções primárias que nos levam a adotar comportamentos interativos no contexto, que por vezes (menos) nos ajudam, e outras (muito mais) nos prejudicam.

E atenção, este espaço de perda de clareza acontece em todos os cargos onde, principalmente, existe uma expressão e impacto na sociedade. Política e desporto no topo dos cargos.

Vejamos o caso de Vítor Bruno. Treinador na sua primeira aparição como principal. Contexto que conhece bem, clube, pessoas, culturas, mas com o presidente, diretores e linhas orientadoras diferentes. Será então que conhece assim tão bem a casa? Neste momento, ninguém conhece. Só podem projetar a reação da nova cultura do Clube e, passo a passo, ir sustentando essa ideia de cultura clubista onde o treinador se manifesta. Mas pergunto, esta assim tão bem definida essa cultura? Por onde deve caminhar o treinador em sintonia com a cultura do clube?

Antes de qualquer decisão de continuidade, há este trabalho a ser feito, principalmente pela presidência e direção e depois em uníssono expressar-se por todos, incluindo o treinador.

Posto isto, a questão é, Vítor Bruno tem o perfil para a cultura que a nova direção quer criar e estruturar? Se sim, é continuar, com tranquilidade e foco. Se não, não há espaço de continuidade. Mas no momento do FCP, o mais importante é unicidade da linguagem entre todos.

Para o Abel Ferreira, o contexto é claramente a expressão do treinador, da presidência e cultura do clube. Desde o momento de união, onde houve uma análise profunda do perfil do treinador e a da sua adequação à cultura do clube, a interatividade entre ambos resultou. Os resultados surgiram e, neste momento do Palmeiras, a presidência, treinador e adeptos estão em sintonia. É resultado de uma interatividade positiva, com foco, respeito e confiança. A tal unicidade.

Naturalmente que os resultados apoiam este caminho de Abel no clube, mas sem esta unicidade, não seria possível o repetir do sucesso desportivo e económico.

Agora, há um momento em que nós treinadores temos de perceber se a nossa missão e expressão da nossa essência se concretizou. Ou seja, o professor desaparece quando o seu aluno se torna mestre. Quando o sábio partilha o conhecimento e este é assimilado, aplicado, analisado, partilhado, deve partir e procurar outro local para a sua missão e essência se expressarem.

Muitos falam de Alex Ferguson, dos anos incríveis que teve no Manchester United mas fiquei com imensa pena de não o ver em outro clube do mundo do futebol. Outra organização e contexto a usufruírem da sabedoria do mestre.

Será este o contexto de Abel?

Será este o contexto que levou José Peseiro a sair da Seleção da Nigéria?

O concretizar da missão, deixar o seu legado e partir?

Se assim for o caminho do Abel e se assim foi a razão da decisão do José Peseiro, então, sejam respeitada as suas decisões; e concretizadas as suas missões, palmas para eles porque o que fizeram teve impacto positivo na sociedade.

Como participei na caminhada da Nigéria de José Peseiro deixem-me partilhar que o que me preencheu mais, a sensação de missão concretizada, foi quando ao passar num shopping em Abuja, Capital da Nigéria, vários cidadãos nigerianos nos agradeceram por, em momentos difíceis como os que passaram no país, o futebol ter-lhes dado o sentido de Nação, de respeito pelo outro, de perceção de competência e esperança por algo melhor. Missão cumprida.

Por último, Artur, Pedro e Pepa, momentos idênticos, espaços temporais diferentes. O Sucesso do Pedro Caixinha foi o de estar próximo de ser campeão contra todas as expectativas. Trabalho fantástico. Resultou numa saída na época seguinte sem que tal se justificasse. Os resultados não devem, nem podem ser o único fator que determina o despedimento de um treinador. Naturalmente escrevo sem saber qualquer pormenor da situação que levou à situação de rutura, mas a questão que levanto é? Não existiam já indicadores de interatividade com ruído naquele contexto?

E neste ponto deveremos ser muito pragmáticos e diretos. Uma formiga no meio da sala não pode tornar-se num elefante.

É este ponto que agora mesmo, Artur Jorge e Pepa, podem analisar, sem a poeira do sucesso, mas com a crueldade e frieza de que a razão se acompanha sempre. Há formigas ou unicidade?