Disputou-se, no último domingo, a 2º mão do “play-off” de acesso à Liga Portugal Betclic. Neste sentido, a vitória na 1ª mão, em Portimão, fez com que o AVS SAD entrasse com algum favoritismo para o jogo decisivo, jogada em sua casa.

Desta forma, observou-se um jogo com nuances táticas bastante interessantes apresentadas pelos treinadores. Neste caso, o Portimonense tentou desde cedo “comandar” o jogo (apresentava mais razões para querer marcar e o mais cedo possível), e as opções de Paulo Sérgio indicavam isso mesmo.

Contudo, e apesar de algumas hipóteses por parte do Portimonense, o AVS SAD mostrou-se regularmente mais confortável no jogo, conseguindo assim aplicar a sua estratégia. O golo inaugural deu-se por John Mercado e assim veio dar corpo a esta mesma estratégia lançada pelo técnico Jorge Costa, que praticamente terminava com as ambições do Portimonense na sua manutenção.

Jorge Costa e a nova nuance tático-estratégica

Na 1ª mão, no Estádio Municipal de Portimão, Jorge Costa apresentou um 1x3x5x2. No entanto, na Vila das Aves optou pelo sistema tático 1x3x4x3, com a introdução de Edson Farias como extremo-esquerdo e com a colocação de Benny ao lado de Jonatan Lucca, no lugar que foi ocupado por Fábio Pacheco no primeiro jogo.

Com a introdução de Edson Farias e com a colocação de John Mercado na posição de extremo-direito, Jorge Costa pareceu antever a entrada de Igor Formiga e Gonçalo Santos por parte de Paulo Sérgio (defesas-laterais com características mais ofensivas) e com isto tentou tornar desconfortável para os laterais a sua projeção constante no campo. Ainda na primeira Parte, Jorge Costa, para acentuar esse desconforto, pediu a Edson Farias e John Mercado que permutassem de lado para que os contra-ataques lançados em velocidade pudessem terminar de forma mais objetiva e vertical, principalmente, com chegadas a zonas de finalização através de cruzamentos para servir Nenê e Benny.

Com o decorrer do jogo, Nenê foi variando o seu posicionamento entre avançado-centro e médio-ofensivo (fazendo um pouco de Benny na 1ª mão) para que fosse possível criar desconforto nos defesas-centrais e Lucas Ventura e com isto abrir mais espaço para que Edson Farias e John Mercado pudessem a atacar a profundidade com maior eficácia.

O 1-0, apesar de surgir de um pontapé longo de Anthony Correia sem grande critério, acabou por ser a demonstração do acerto de Jorge Costa na escolha da estratégia utilizada, porque Nenê num confronto direto com Lucas Ventura consegue ganhar o duelo, de seguida incomoda Pedrão, sobrando a bola para a velocidade de John Mercado que concretiza o golo. Seguidamente, na ponta final do jogo, e com a entrada de alguns jogadores mais ofensivos por parte do Portimonense, o técnico Jorge Costa voltou a utilizar o 1x3x5x2, colocando o Gustavo Mendonça ao lado de Jonatan Lucca, fazendo com que Benny se posicionasse como médio-ofensivo e Yair Mena juntamente com Stênio formaram a dupla atacante.

A nível psicológico, o AVS SAD ao longo dos dois jogos mostrou-se sempre mais seguro e tranquilo do que o Portimonense e a prova disso é a vitória em ambos os jogos sem grande margem para discussão. Contudo, torna-se necessário enumerar alguns destaques individuais deste “play-off”. Primeiramente, Jorge Costa e a sua equipa técnica. Neste caso, a forma como estrategicamente prepararam este “play-off” é de realçar, porque em ambos os jogos deram conforto à equipa para conseguir não só atacar com qualidade, mas também para suprimir as mais valias do Portimonense. E, posteriormente, porque conseguiu surpreender o adversário levando a que este tivesse sempre de se adaptar em andamento e com uma estratégia montada. No campo, Benny e Nenê foram os grandes destaques. O médio-ofensivo Benny pela forma como se adaptou a duas funções nos dois jogos deste “play-off”, mas também por ter marcado golo em ambos os jogos. O ponta de lança Nenê realizou um trabalho de ligação do meio-campo com o ataque fantástico, bem como no momento defensivo, sendo sempre o primeiro a pressionar de forma intensa e com predisposição para reagir à perda da bola.

Paulo Sérgio e uma equipa mais ofensiva

Para esta 2ª mão, o técnico Paulo Sérgio realizou cinco alterações na sua equipa titular. Iniciou na baliza, optando por utilizar Vinicius Silvestre em detrimento de Kosuke Nakamura. De seguida, reintroduziu Filipe Relvas ao lado de Pedrão no centro da linha defensiva e, por último, trocou Ronie Carrillo por Midana Cassamá.

A grande mudança, que trouxe consigo uma alteração estratégica, surgiu nos defesas-laterais. Em detrimento de Guga e Moustapha Seck, Paulo Sérgio colocou no lado direito Igor Formiga e Gonçalo Santos na esquerda. Com estas alterações, já como havia realizado ao intervalo do jogo da 1ª mão, Paulo Sérgio quis promover um jogo mais ofensivo e vertical nos corredores laterais. Com esta modificação, o risco de desequilíbrio defensivo tornou-se maior, tendo sido importante o papel de Lucas Ventura nestes momentos.

O “design” tático ofensivo da equipa não se alterou, as peças deste “design” é que se alteraram.  A construção continuou a ser feita com 3 homens, mas desta feita foi Lucas Ventura que se colocava mais próximo dos defesa -centrais, e não o defesa-esquerdo. Existiu uma maior ocupação dos corredores laterais, principalmente do esquerdo com a projeção do Gonçalo Santos, dando assim uma maior liberdade de movimentos a Hélio Varela.

Deste modo, Taichi Fukui tentou sempre ligar a equipa, tendo exibido melhor performance na 2ª parte do que na 1ª. Além disso, Carlinhos foi sempre um jogador com bastante liberdade posicional, e apesar de ter acrescentado qualidade sempre que tocava na bola, desta vez não conseguiu ser tão eficaz como noutros momentos da época.

No início da 2ª parte, o Portimonense sofre o 1-0 e é forçado a trocar Midana Cassamá por lesão. Se o impacto do 1º golo não foi positivo (a equipa tornou-se ainda mais ansiosa e desconfortável no jogo), a entrada de Sylvester Jasper veio na tentativa de dar irreverência, verticalidade e amplitude lateral à equipa. De facto, o Portimonense conseguiu chegar mais vezes à área do AVS SAD, principalmente através de cruzamento, o que levou à entrada de Ronie Carrillo. Até ao final do jogo, Paulo Sérgio lançou todas as “peças” ofensivas que tinha disponíveis, mas nem assim o Portimonense conseguiu criar mais perigo ou mudar o rumo dos acontecimentos.

Mais uma vez, o destino tratou de ser fatídico para a equipa primodivisionária, algo que já acontece pelo 4º ano consecutivo, após Rio Ave, Moreirense e Marítimo sofrerem do mesmo fado.

O AVS SAD regressa à 1ª Liga após 5 anos de ausência, fazendo novamente da Vilas das Aves “Uma Vila de Primeira”. O trabalho e os próximos passos serão na direção da manutenção, para que a sua estadia seja o mais longa possível. Porém, existirão alguns constrangimentos a curto prazo, sendo o principal a contratação de um novo treinador, pois Jorge Costa integrará a estrutura diretiva do FC Porto.

No sentido inverso, o Portimonense desce de divisão após sete anos de estadia no conluio dos grandes do nosso país. Um clube histórico do nosso futebol, que trabalhará para que o seu regresso esteja para o mais breve possível. A sua massa adepta e as gentes algarvias merecem que o seu futebol seja representado pelo maior número possível de clubes na 1ª Liga.

Fecha-se assim a cortina do futebol português, mas que nos deixa já com boas expectativas para a época 2024/2025.