Mais um caso de racismo a manchar o futebol. O clássico boliviano entre Blooming, de Santa Cruz de La Sierra, e o Jorge Wilstermann, de Cochabamba, não terminou da melhor maneira. O avançado brasileiro Serginho foi insultado, várias vezes, pelos adeptos do Blooming. Fartou-se e, aos 80 minutos, deixou o relvado, saindo em direção ao balneário, passando pelo árbitro, colegas e jogadores adversários, sem mudar a sua decisão. Como a equipa já tinha esgotada as substituições, ficou a jogar com dez.

Tudo foi presenciado por Alex Silva, defesa central, irmão do benfiquista Luisão, que estava no banco. O companheiro de Serginho também foi expulso e ouvir insultos racistas.

"A situação deu em confusão entre os bancos das duas equipas e, ao sair do relvado, todos os adeptos gritaram 'huuu, huuu, huuu', imitando um macaco, como fizeram sempre que Serginho tocava na bola. Ele não voltou ao relvado. Estava muito mal. Os filhos e a mulher dele estavam em minha casa com a minha mulher a ver o jogo e choraram muito, disse-me ela. E aqui na Bolívia já não é a primeira vez", contou este antigo internacional brasileiro.

Serginho já tinha ameaçado deixar o relvado do Estádio Ramón Aguilera, depois de ouvir cânticos racistas por parte dos adeptos adversários. Queixou-se ao árbitro mas Latorre, jogador uruguaio do Blooming, pediu aos adeptos que parassem com os cânticos. Mas não ouviram o capitão de equipa.

A decisão de Serginho recebeu apoio do seu treinador, Miguel Ángel Portugal, colegas de equipa e até do presidente da Bolívia, Evo Morales.

"A nossa solidariedade para com Serginho, jogador que abandonou o campo em protesto, após receber insultos racistas da parte de maus adeptos. O futebol é um desporto que une os povos. Não devemos permitir que se manche com estes atos discriminatórios" disse o presidente da Bolívia.

O jogo foi ganho pelo Blooming, com golos dos brasileiros Rafinha e Rafael Barros. A equipa, que é treinada pelo antigo jogador do Benfica e do Boavista, Erwin Sánchez, é segunda na Liga Boliviana.

Entretanto o Jorge Wilstermann já anunciou que vai apresentar uma queixa contra o Blooming pela situação.

"O protesto que vamos fazer é profundo e sério: O que aconteceu em Santa Cruz não é inédito. Temos documentos que apresentámos à federação (Federação Boliviana de Futebol) pelo que fizeram com os nossos jogadores e, especialmente, com o Serginho. Faremos uma pressão forte para que isso não volte a acontecer. Queremos o máximo castigo para essa gente", disse o presidente do Jorge Wilstermann, Gróver Vargas.

O presidente do Jorge Wilstermann sublinhou que o clube vai basear-se no artigo 58 do Código Disciplinar da FIFA, no qual se estabelecem sanções em casos de atos racistas e discriminatórios durante os jogos.

Não foi a primeira vez que Serginho recebeu insultos racistas na Bolívia. Em maio de 2018, no jogo da segunda-mão dos quartos-de-final do torneio Apertura, o jogador e o então técnico do mesmo Blooming, Erwin Sánchez, entraram numa discussão ainda no relvado em que o atacante brasileiro de 34 anos terá sido insultado com expressões de índole racista. Na altura as palavras de Sanchez foram filmadas por alguém que estava perto, com um telemóvel.

Três meses depois, já no Torneio Clausura boliviano, Serginho recebeu insultos xenófobos dos adeptos do Destroyers, no estádio Samuel Vaca Jiménez, na cidade de Warnes, depois de uma discussão com o central Erwin Melgar.