O adversário metia respeito. Havia quem, entre ´leões`, que temesse uma goleada feia. E não era para menos. O Sporting vinha de um empate frente ao Moreirense, numa exibição cinzenta e entrava logo na dimensão Champions, frente a um dos candidatos a vencer a prova. Ainda por cima, uma equipa que vinha com Messi (dispensa apresentações). Mas, tal como há um ano em Madrid frente ao colosso Real, o Sporting mostrou que também sabe estar em ´festas de gala`: mostrou personalidade, dividiu o jogo quando teve oportunidade, obrigou os catalães a saírem da sua zona de conforto, mas, tal como no ano passado frente aos merengues na mesma prova, faltou um bocadinho assim para chegar aos pontos. O ´leão` não merecia a infelicidade de Coates, autor do único golo da partida, na própria baliza.
O jogo: Mudar para adaptar-se ao gigante e dividir o jogo
Não foi surpresa a aposta de Jesus no 4-3-3, com Doumbia no lugar de Bas Dost. Frente a uma equipa onde o Sporting ia ter pouca bola, era importante saber o que fazer quando esta estivesse em posse leonina. E a melhor forma de chegar mais rápido e com mais hipóteses perto da baliza de Ter Stegen era queimando linhas, através da velocidade com e sem bola. Coisa que Doumbia dá (apoiado por Gelson, Acuña e Bruno Fernandes) mas que Bas Dost não consegue.
E Valverde já sabia o que vinha encontrar em Alvalade: uma equipa muito arrumada atrás, de sacrifício e luta, mas com poder de fogo para ´ferir` o Barcelona, caso aparece a oportunidade. A Entrada de Sergi Roberto para jogar no meio-campo, com Busquets, Rakitic, e Iniesta mostrava isso mesmo, com Suárez e Messi a ser os homens mais adiantados. Nélson Semedo era o único português em campo, já que André Gomes ficou no banco.
Com as ´peças` estendidas no ´tabuleiro`, era altura de ver quem seria o primeiro a chegar ao ´Xeque-mate`. O Barcelona tomou conta da bola como gosta e foi naquele carrossel próprio dos blaugrana, envolvendo todos os jogadores desde a defesa até à área contrária, com aquele futebol tricotado, de passes curtos, movendo as peças, mas também todo o tabuleiro a medida que avançava. O Sporting ia travando essas investidas com organização, paciência, interajuda e capacidade de sofrimento. Daí não ser estranho que o ´extraterrestre` Lionel Messi tenha sido apenas um comum mortal nos primeiros 45 minutos, que o letal Luis Suárez só tenha tido duas hipóteses de bater Patrício. A habitual avalanche ofensiva do Barcelona resumia-se a três oportunidades de golo ao intervalo. O Sporting tinha visto Piccini e Bruno Fernandes tentar a sorte de longe... mas sempre longe do golo.
Depois de perder Doumbia, por lesão, no final do primeiro tempo, Jesus sabia que era preciso mudar a estratégia em termos ofensivos, já que defensivamente o Sporting estava muito bem. Só não contava com o azar de Coates que viu um desvio de Suárez bater-lhe no corpo e entrar na baliza, após livre de Messi. Com apenas cinco minutos disputados no segundo tempo, pior era impossível.
E além de ter de marcar ao Barcelona, o Sporting tinha de ser superior ao Ovidiu Hategan. O árbitro romeno foi ´empurrando` o Sporting para a sua área, retirando agressividade aos jogadores leoninos, com o rol de cartões que foi distribuindo durante o jogo, num critério difícil de entender. E a esmagadora maioria dos 48.575 espetadores presentes no estádio mostraram o seu descontentamento com uma monumental assobiadela que deve ter deixado o juiz com as ´orelhas a arder`. Quase tudo o que era falta do Sporting era amarelo e as mesmas faltas do Barcelona, lá ia ele dizer que dá próxima não deixava escapar.
Com Bruno Fernandes mais perto de Bas Dost, Jorge Jesus sabia que estaria mais perto do golo. A ideia era tirar partido da visão de jogo do jovem médio, mas, acima de tudo, do seu excelente jogo exterior. Só que os remates de jogador que ´não sabe marcar golos fáceis` encontravam sempre uma ´floresta de pernas` e por aí ficavam. A melhor de todas foi-lhe oferecida por Bas Dost aos 71 (o holandês devia ter rematado já que estava só) mas Ter Stegen deixou o grito de golo preso na garganta das 48.575 almas que não se cansaram de apoiar o Sporting, do início ao fim.
É verdade que o Barcelona também podia ter marcado no segundo tempo, primeiro por Messi aos 57 (enorme corte de Mathieu a corrigir asneira de Coates) e depois por Paulinho (defesa fantástica de Rui Patrício a travar o remate do brasileiro) mas a equipa blaugrana acabou o encontro a fazer o que não gosta: preso no seu meio-campo, a defender com quase todos os jogadores, a aguentar o resultado com tudo. Ao Sporting terá faltado, se calhar, um pouco mais de calma nas saídas para o ataque, principalmente quando conseguiu arranjar espaços na defensiva contrária. Apesar da derrota, a exibição foi boa, o que abre boas perspetivas para o clássico de domingo com o FC Porto.
Momento-chave: Faltou instinto de matador a Bas Dost
Corria o minuto 71 quando Bas Dost recebeu na área em posição privilegiada para marcar. Mas, em vez disso, preferiu passar a Bruno Fernandes, mais descaído para a direita. O médio ainda estoirou, mas Ter Stegen estava no caminho da bola e defendeu para a frente. Demasiado altruísmo do ´matador` holandês. O 1-1 colocava alguma justiça no marcador.
Os Melhores: Mathieu merecia mais
Mathieu disse, na antevisão do jogo, que não gostou da forma como deixou o Barcelona. E fez questão de mostrar, no primeiro duelo frente a sua anterior equipa. Ganhou muitos duelos com Suárez e Messi, fez cortes providenciais, correu, lutou... Foi o melhor em campo, numa exibição que merecia outro resultado.
Battaglia e William foram enormes no meio-campo. O primeiro, a ´pisar` terrenos de Messi quando argentino recuava, ´mordendo-lhe os calcanhares` e travando a progresso do craque blaugrana. Defensivamente esteve irrepreensível, muito ajudado por William. O Barcelona, que é muito forte pelo meio, sentiu dificuldades em criar perigo por essa zona.
Os Piores: Ninguém viu as estrelas do Barça mas todos viram o árbitro
A arbitragem do romeno Ovidiu Hategan condicionou e muito o jogo do Sporting, numa dualidade de critérios gritante. Mostrou seis amarelos a jogadores do Sporting na primeira hora de jogo, alguns deles sem justificação. Pior, quando os jogadores do Barça faziam as mesmas faltas, optava pelo diálogo, avisando que da próxima dava amarelo. Para o Sporting nunca houve um ´para a próxima`.
Messi e Suárez estiveram muito apagados em Alvalade. O craque argentino esteve muito vigiado, ora por Mathieu, ora por Battaglia, pelo que sentiu dificuldades em colocar em campo a sua magia. A organização defensiva do Sporting não deixou que brilhasse, tal como Suárez. O uruguaio teve duas oportunidades de golo, mas, de resto, não se viu.
Reações
Jorge Jesus: "Árbitro tirou agressividade ao Sporting"
Jorge Jesus: "Com esta qualidade, de certeza que vamos ganhar ao FC Porto"
Rui Patrício: "Estamos de parabéns pelo jogo que fizemos"
Battaglia: "Jesus pediu-me para ter atenção especial a Messi"
Fábio Coentrão: "Merecíamos, pelo menos, um ponto"
Nélson Semedo: "Apesar de ser benfiquista ferrenho, não desejo mal ao Sporting"
Jordi Alba: "Mathieu é uma grande pessoa e está em grande forma"
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