Poderá uma vitória ser um problema para quem ganha? Poderá uma equipa vencer fora nas provas da UEFA, quatro anos depois, e isto constituir um problema para o treinador que ganha? Pode. No Sporting pode. Os 4-2 aplicados pelos “leões” ao Lokomotiv de Moscovo na Rússia deixaram Jesus com um "pé atrás" e criaram-lhe um dilema sobre o que fazer no derradeiro encontro: apostar tudo e tentar vencer o Besiktas para passar à próxima fase, ou continuar a colocar os "miúdos" em campo, poupando os titulares para o jogo da Liga.

Ninguém percebe como pode Jorge Jesus achar que uma vitória tão histórica como a que foi alcançada na Rússia (onde o Sporting venceu pela primeira vez em quatro jogos), pode ser um problema. Se o treinador não queria ganhar, então não seria mais fácil colocar em campo alguns elementos da equipa B juntamente com outros jogadores menos utilizados? Os que jogaram deram uma boa resposta e disseram ao treinador que este pode contar com eles para as próximas batalhas. Montero, Gelson Martins e Matheus Pereira encheram o campo em Moscovo e estes sim, são um verdadeiro problema já que ameaçam os lugares dos que tem jogado a titular.

A goleada do Sporting começou a desenhar-se num rabisco torto, feito fora do quadro. Adrien tentou afastar uma bola mas acabou por coloca-la nos pés de Maicon. O brasileiro galgou alguns metros antes de bater Marcelo Boeck, logo aos cinco minutos. Podia-se pensar que a partir daí seria o descalabro, mas a verdade é que o Lokomotiv não tinha feito nada para merecer o resultado.

O que se viu depois foi o melhor Sporting europeu da época, mesmo sem sete dos habituais titulares (Rui Patrício, João Pereira, Paulo Oliveira, Jefferson, William Carvalho, Téo Gutiérrez e Slimani. A tão defendida nota artística das equipas de Jesus subiu ao palco, encadeando os russos que apenas se limitaram a ver o controle do jogo por parte do Sporting. Num futebol de passes curtos, tabelinhas, muito jogo interior e entrelinhas, muita aceleração quando era preciso, por Gelson e Matheus Pereira, muita movimentação de Montero, todo o poder tático de Bryan Ruiz, o Sporting desenhou uma teia que prendeu por completo o Lokomotiv de Moscovo. Os 3-1 ao intervalo era o corolário do domínio leonino.

Convém dizer que o caminho para a vitória histórica foi encontrada no meio das pernas de Guilherme, guarda-redes brasileiro naturalizado russo, já que três dos quatro remates certeiros dos "leões" passaram por baixo das pernas do gigante de 1,97 metros. Aos 20 minutos, Montero respondeu a um cruzamento de Esgaio e cabeceou por entre as pernas de Guilherme. Aos 38 foi Bryan Ruiz a driblar dois adversários, antes de combinar com Montero para "picar" a bola por cima do guarda-redes (o único golo que não passou por entre as pernas de Guilherme). Aos 43, novamente Montero a sair da sua posição e a lançar Gelson no lado direito. O internacional sub-21 correu para a área e meteu a bola no meio das pernas de Guilherme, fazendo o 3-1 com que se chegou ao intervalo.

Os russos esboçaram uma reação no regresso aos balneários, com Esgaio a desviar um cruzamento para a barra de Boeck. Mas aos 60, Gelson mostrou visão e timing certos para isolar Matheus Pereira. O luso-brasileiro correu para a área e, perante a saída de Guilherme, colocou-lhe a bola no mesmo sítio onde Montero e Gelson tinham direcionado os seus remates. O 4-1 "acabou" com o que restava dos russos, apesar de terem reduzido aos 86 minutos por Aleksey Miranchuk, numa bola em que Esgaio ficou a "dormir". Ainda houve tempo para descansar João Mário e refrescar a equipa com Slimani, André Martins e Aquilani (saíram Matheus Pereira e Montero).

A história estava escrita, com o Sporting a vencer fora nas provas da UEFA, quatro anos e 17 jogos depois. Foi também a primeira vitória na Rússia, ao cabo de quatro jogos. Os três pontos deixaram o Sporting com sete pontos e a depender de si para passar à próxima fase. Para tal terá de vencer o Besiktas em casa ou então empatar e esperar que o Lokomotiv perca com Skenderbeu. O Besiktas (venceu o Skenderbeu por 2-0) tem nove pontos, o Lokomotiv oito, o Sporting sete e o Skenderbeu apenas três.

No final do encontro Jorge Jesus parecia não estar satisfeito com a vitória, já que classificou a mesma de um problema. Tudo porque joga com o Besiktas na quinta-feira, 10 de dezembro, e depois no domingo, 13, jogará também em casa com o Moreirense. O técnico não sabe se, frente ao Besiktas, coloca a equipa habitualmente titular ou se volta a poupar os elementos mais importantes, dando minutos aos miúdos que esta quinta-feira deram espetáculo em Moscovo.

No final o técnico elogiou ainda a atuação de Gelson Martins, Bryan Ruiz e Montero.

Jesus já disse mais que uma vez que a prioridade é o campeonato mas há jogadores para formar uma equipa suficiente forte capaz de vencer o Besiktas em casa e, três dias depois, jogar com o Moreirense.

Jogar com a equipa B, como ameaçou Jesus, não parece ser a solução. No futebol vencer nunca devia ser um problema.

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