Acabou o Mundial 2018 e a Rússia voltou ao normal. E no futebol, significa o regresso do racismo aos estádios. O Torpedo Moscovo viu-se 'obrigado' a cancelar a transferência de um jovem russo, de origem congolesa, após protestos dos adeptos. Os ultras do clube, conhecidos como Zapad-5, mostraram-se contra a chegada de Erving Botaka-Yoboma e deixaram isso bem claro numa faixa exibida na rede social Vkontakte.

Adeptos do Torpedo Moscovo protestam contra contratação de jogador negro
Adeptos do Torpedo Moscovo protestam contra contratação de jogador negro créditos: DR

"Pode haver preto nas cores do clube, mas só há brancos entre os adeptos", podia-se ler.
“Nosso clube, nossas regras”, escreveram ainda.

Roman Avdeyev, presidente do clube começou por condenar estas atitudes: "São uns idiotas. A cor da pele nunca foi e nunca será um critério para contratarmos jogadores", sublinhou.

Também o presidente do Sindicato dos Jogadores de Futebol da Rússia, Alexander Zotov, condenou o comportamento dos ultras do Torpedo Moscovo: "O grupo que fez isso não representa os adeptos da Rússia. Pessoas assim existem em todos os países. O Mundial mostrou que somos um povo aberto e acolhedor", atirou.

Mas em menos de 24 horas e perante os protestos dos adeptos, o clube acabou por cancelar a transferência, apesar de ter dado uma explicação diferente para essa decisão.

Adeptos do Torpedo Moscovo protestam contra contratação de jogador negro
Adeptos do Torpedo Moscovo protestam contra contratação de jogador negro créditos: DR

"A transferência do jogador Erving Botaki para o clube foi cancelada devido à nossa política de não pagar por transferências de jogadores. Mais uma vez, reiteramos que a cor de pele nunca foi critério para escolhermos os jogadores do clube. O racismo não tem o direito de existir", escreveu o clube, em comunicado.

Erving Botaka-Yoboma tem 19 anos, é defesa central e jogava na equipa B do Lokomotiv Moscovo. O jovem nasceu na Rússia, mas tem origens na República Democrática do Congo.

Esta não é a primeira vez que os adeptos do clube da Segunda Divisão do futebol mostram o seu lado mais negro. Em março de 2015 o clube foi punido com dois jogos à porta fechada e multa de 4600 euros, depois de os adeptos terem entoado cânticos racistas contra o brasileiro Hulk, num jogo contra o Zenit, na altura, clube do craque brasileiro.

A Rússia tem sido palco de várias manifestações contra jogadores de origem africana e não só. Em 2018 o Zenit foi castigado pela UEFA com um jogo a porta fechada e multa de 50 mil euros, depois de manifestações racistas contra um jogador do RB Leipzig.

Em abril deste ano também o Spartak Moscovo foi castigado pela Federação Russa de Futebol, por causa dos cânticos racistas dos seus adeptos para com o cabo-verdiano Nuno Rocha, jogador do FK Tosno. Os campeões russos vão jogar na Taça, esta época, com o estádio parcialmente fechado.

Ainda no mesmo mês, a FIFA tinha aberto um processo disciplinar à Federação Russa de Futebol (RFU) por cânticos racistas ouvidos durante o particular entre a Rússia e a França, em 27 de março. Em São Petersburgo, onde a França venceu por 3-1 os russos em amigável antes do Mundial 2018, vários adeptos entoaram cânticos racistas direcionados ao avançado francês Ousmane Dembélé e ao médio Paul Pogba.