Horácio Piriquito apresentou a demissão do cargo de vogal do Conselho Fiscal Federação Portuguesa de Futebol esta quarta-feira, na sequência da divulgação de emails em como terá facultado documentos internos da FPF à Pedro Guerra antigo diretor de conteúdos da BTV.

Num comunicado onde explica a decisão de deixar o cargo, Horácio Piriquito negou ter facultado documentos confidenciais ao comentador desportivo afeto ao Benfica.

"Tomei esta decisão [de se demitir] não porque considere ter praticado algum ilícito, mas porque é esta a forma de melhor defender o prestígio e o bom nome da instituição em causa. Nenhuma informação confidencial foi passada para a praça pública", escreveu Horácio Piriquito.

Pedro Guerra terá recebido documentos internos da FPF durante meses
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No entanto, nos emails divulgados pela revista ´Sábado`, a palavra ´confidencial` aparece várias vezes, inclusive nalguns títulos dos emails. Numa das mensagens eletrónicas, de 30 de setembro de 2016, divulgado pela revista, Piriquito envia a Pedro Guerra o resumo da auditoria à FPF, que ainda nem tinha sido aprovada, com o título ´Confidencial`.

"Segue superconfidencial. Nem sequer foi ainda aprovado. Aprovaremos hoje à tarde", escreveu o antigo vogal da FPF, sobre o resumo de uma auditoria ao organismo que rege o futebol português.

No dia 15 de março do mesmo ano, e com igual título, já Pedro Guerra recebera em anexo e também o assunto "confidencial" uma cópia da auditoria da Crowe Horvath à Federação Portuguesa de Futebol relativa ao segundo trimestre de 2015/16. O documento continha, entre outros, salários dos membros dos Órgãos Sociais federativos, incluindo o do presidente Fernando Gomes e, até, alguns detalhes financeiros da relação entre clubes e a FPF, de acordo com dados de ´OJogo`.

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Noutro email trocado entre Horácio Piriquito e Pedro Guerra, em setembro de 2015, depois de receber mais um relatório da auditoria interna, Pedro Guerra, agradece o envio do documento "que guardarei religiosamente e de forma confidencial, claro!", escreveu - e depois quis saber a opinião do membro do ex-membro do Conselho Fiscal quanto a "uns devedores manhosos" que iriam deixar a Federação Portuguesa de Futebol "pendurada".

"Há ali uns devedores manhosos e que acho que a FPF vai ficar pendurada. Não achas?", escreveu Pedro Guerra.

Na resposta, Piriquito escreveu: "Muitas vezes são as associações que estrangulam ou beneficiam os clubes, conforme os alinhamentos ‘clubísticos’. Por isso as corridas do SLB e do FCP ao domínio das associações. Se uma associação é portista pode atrasar os pagamentos a um clube alinhado com o Benfica, e vice-versa. Agora estas coisas nunca se podem escrever, só dizer e com pouca gente a ouvir. E os desmentidos serão imediatos. É óbvio!!!", respondeu Horácio Piriquito.

O comentador Pedro Guerra, antigo diretor de conteúdos da BTV, terá recebido, durante vários meses, documentos internos da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) relacionados com auditorias trimestrais, que não eram de divulgação pública, de acordo com a revista ´Sábado`.

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O comentador afeto ao Benfica só teve acesso a tais documentos graças a colaboração com o amigo Horácio Piriquito, gestor e membro do Conselho Fiscal da FPF. Depois da divulgação de alguns emails por parte da revista, a Federação Portuguesa de Futebol decidiu apesentar uma queixa-crime na Polícia Judiciária e na Procuradoria-Geral da República contra Horácio Piriquito e pedir a sua destituição.

“Por em causa poder estar a violação de segredo, a FPF denunciou o referido facto à Polícia Judiciária, disponibilizando-se para os procedimentos entendidos por convenientes”, lê-se num comunicado da FPF, que disse ir propor a destituição de Piriquito.

A FPF “decidiu remeter nesta data o conteúdo do artigo publicado para o Conselho de Justiça da FPF, apresentar queixa à PGR, por se tratar de eventual crime desta dependente, e requerer a realização de uma Assembleia-Geral extraordinária para discussão e votação da proposta de destituição de titular de órgão social da FPF, por violação grave de deveres estatutários”.

Piriquito, que assume amizade com Pedro de Guerra “há mais de 20 anos”, garante que “nenhuma informação confidencial foi passada para a praça pública”.

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O dirigente diz que troca “regularmente” emails com Pedro Guerra “na sequência das minhas participações ocasionais em painéis de debate na BenficaTV, ou do Pedro nos canais em que colabora”, considerando-os como “troca normal de informações e esclarecimentos”.

Horácio Piriquito entende que está a ser vitima “do atual registo de guerra aberta no futebol português, em que vale tudo, em que se tenta espalhar o ódio e o medo, e pretendem criar ruído e fazer vítimas”.