Só a conta de Rafa, foram quatro golos cantados que não terminaram no fundo das redes de Ricardo Velho, autor de uma exibição memorável na Luz.

O empate do Benfica com o Farense, na 13.ª ronda da I Liga, deixa os encarnados no segundo posto, com 30 pontos, mas com a possibilidade de caírem para terceiro se o FC Porto vencer o Casa Pia este sábado. O Sporting, com 31, pode aumentar para quatro a vantagem para os campeões nacionais.

O segundo empate consecutivo na I Liga vem numa má altura, já que na próxima terça-feira o Benfica precisa de vencer na Áustria o Salzburgo com dois golos de diferença para terminar no 3.º posto do seu grupo de Champions e continuar na UEFA via Liga Europa.

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O Jogo: Benfica a criar, Ricardo Velho a defender

Para entender, em parte, o empate do Benfica diante do Farense, é preciso olhar para o lado estatístico do jogo. E aí recorremos aos dados do site de análises GoalPoint, elucidativos daquilo que se passou na noite de sexta-feira, na Luz.

Foi o jogo onde foi batido vários recordes, entre eles o de ocasiões flagrantes perdidas (os 4 de Rafa Silva), de remates (37 do Benfica), de remates enquadrados (14 do Benfica), de ações com bola na área adversária (67 do Benfica), de ações defensivas (115 do Farense). Foi ainda batido o máximo de passes para golo para os colegas (nove passes de Di Maria) e o recorde de defesas de um guarda-redes nesta Liga (13, de Ricardo Velho).

O Benfica só não venceu porque foi ineficaz ofensivamente a um nível pouco visto em Portugal. O festival de golos falhados começou ainda antes do primeiro minuto (34 segundos), como João Mário a desperdiçar o primeiro da noite, proporcionando uma grande defesa a Ricardo Velho. Esta seria, aliás, a história do jogo: Benfica a criar, Ricardo Velho a defender.

O Farense, que tinha vendido muito cara as derrotas com FC Porto e Sporting, perdendo apenas pela margem mínima, tentou sempre jogar, com Matheus Oliveira a comandar as operações. É dele os principais lances de perigo no primeiro tempo, e o canto que que Cláudio Falcão aproveitou para fazer o 1-0, após pequeno desvio de Otamendi, aos 51.

Se é verdade que os algarvios passaram por um sufoco para manter o resultado, face à pressão e às muitas ocasiões criadas pelo Benfica, também é verdade que o Farense até podia ter arrancado com um resultado mais histórico se tivesse tido mais calma a decidir no último terço. Marco Matias esteve isolado perante Trubin, houve ainda uma situação de ataque de superioridade numérica no segundo tempo. Mas aí já seria demasiado pesado para o Benfica.

Schmidt até leu bem o jogo no segundo tempo, quando trocou o apagado João Neves por Gonçalo Guedes, recuando Kokcu para o meio, ao lado de João Mário, e ainda Petar Musa no posto de Tengstedt, numa altura em que o Benfica estava a meter muitas bolas na área. Os adeptos não gostaram e deixaram isso claro com uma assobiadela tão barulhenta que surpreendeu Schmidt. O técnico olhou para as bancadas, de onde foram atirados alguns objetos em direção ao banco do Benfica. Foi preciso reforço policial na zona. Cenas lamentáveis.

Só à nona tentativa do Benfica é que Rafa acertou no alvo, aos 71 minutos, a dar seguimento a mais uma jogada iniciada em Di Maria.

Com dificuldades para criar por dentro, onde havia muitos jogadores do Farense, os encarnados tentaram sempre, por fora, encontrar alguém na área para finalizar, como mostram os 42 cruzamentos feitos ao longo do jogo (um novo máximo na Primeira Liga). Faltava o essencial: meter a bola lá dentro.

No final, as contas do desperdício são fáceis de fazer: o segundo empate consecutivo (o Benfica empatou 0-0 na ronda anterior com o Moreirense) deixa o campeão nacional com 30 pontos, mas pode ser ultrapassado pelo FC Porto (tem 28), e ver o Sporting disparar na frente (tem 31) se leões e dragões vencerem Vitória de Guimarães e Casa Pia, respetivamente, nesta jornada.

Para a semana, há um Braga-Benfica e um FC Porto-Sporting. Os minhotos tem menos um ponto que os encarnados na tabela.

Antes, o Benfica precisa de vencer com dois golos de diferença os austríacos do Salzburgo para continuar na UEFA via Liga Europa,  minimizando assim os estragos na Liga dos Campeões.

Momento-chave: Também tu, Musa?

Musa podia ter saído da Luz como um herói, se tivesse acertado no alvo no último dos sete minutos de compensação dados pelo árbitro Miguel Nogueira. Recebeu na área, na zona de penálti, disparou com força mas... para fora. Desespero nas bancadas e no relvado da Luz. Era a última hipótese de dar justiça ao jogo.

Os Melhores: Ricardo Velho foi uma muralha, Di Maria merecia companhia

Quase tudo o que foi lance de perigo do Benfica nasceu dos pés de Di Maria. Quando não era o último passe, era uma jogada iniciada pelo craque argentino. Ao todo, fora nove situações de remate aos colegas, mas que foi tudo desperdiçado.

Muito do desperdício do Benfica foi culpa de Ricardo Velho. O guardião do Farense já tinha brilhado diante de FC Porto e Sporting e, na sexta-feira, voltou a faze-lo, com 13 defesas. De acordo com o GoalPoint, evitou 2,7 golos mais que esperados, o máximo num só jogo em todas as principais Ligas europeias em 2023/24. É o terceiro guarda-redes com mais golos evitados nas principais ligas europeias (6.4 de média), apenas batido por Thomas Kaminski do Luton Town (6.6 em 15 jogos) e Arthur Desmas do Le Havre (7.9 em 14 partidas).

Em noite 'não': Rafa falha, adeptos descarregam em... Schmidt

Rafa empatou para o Benfica mas podia ter saído da Luz com cinco golos na conta pessoal, já que desperdiçou quatro oportunidades flagrantes. No duelo com Ricardo Velho, o guarda-redes do Farense venceu por 4-1. O extremo do Benfica não deverá esquecer este jogo tão cedo.

A assobiadela monumental e o atirar de objetos para o banco do Benfica em direção a Roger Schmidt por parte dos adeptos do Benfica não dignificam o clube. Não havia razões para estarem tão insatisfeitos com a exibição (a equipa estava a criar várias ocasiões de golo) e a saída de João Neves justificava-se, já que o jovem médio não estava a acrescentar nada ao jogo dos campeões nacionais e até tinha tido umas perdas de bola comprometedoras. Schmidt avisou que se é ele o problema, sairá para dar lugar a quem coloca os jogadores que os adeptos querem.

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