O que é afinal o antijogo?

O dicionário de português afirma que o antijogo é a "ação de quem não respeita as regras do jogo ou comete irregularidades" e que diz respeito a um "comportamento desportivo demasiado defensivo". Simulações, comportamentos agressivos, ofensas verbais, demora nas substituições ou na reposição de bola são algumas das formas desta prática considerada antidesportiva.

Quem utiliza o antijogo?

No geral, esta prática está mais associada a equipas pequenas. As diferenças entre os plantéis do futebol português fazem com que as equipas ditas 'pequenas' se vejam obrigadas a recorrer a 'truques' para parar as equipas 'grandes' e é aí que entra o antijogo. Quando o último classificado da tabela do campeonato nacional se vê a braços com o líder, muitas vezes recorre ao antijogo para conseguir pelos menos um empate e daí tirar um ponto. É muitas vezes possível ver as equipas a demorar bastante tempo nas substituições ou ver um guarda-redes a demorar mais do que seria necessário para repor a bola em jogo. Porquê? Para queimar tempo. Se a equipa está empatada, então 'queimar tempo' ajuda a que o resultado se mantenha e que assim possam sair do relvado com um ponto frente a uma equipa grande que não conseguiriam equalizar se recorressem à qualidade do plantel.

"Eu acho sempre que para ganhar não vale tudo e é importante respeitar o adversário, os espetadores, e isso passa por ter uma conduta desportiva e por saber respeitar os valores que estão inerentes a essa mesma ética desportiva" - Daúto Faquirá

O antijogo em Portugal por quem sabe

Daúto Faquirá é licenciado em Educação Física e Desporto, começou a carreira como treinador no Sintrense, onde já tinha estado como jogador. Passou por clubes como Odivelas, Barreirense, Estoril, Estrela da Amadora, Vitória de Setúbal e Olhanense. Atualmente dedica-se mais a comentar o estado do futebol atual. E é isso mesmo que vai fazer aqui.

"No nosso país a questão do antijogo e do ‘fairplay’ é uma questão muito cultural, nós não temos aquela cultura de que não vale tudo para ganhar. Tenho razões para pensar dessa forma pela minha vivência como treinador e enquanto agente desportivo. Percebi que não faz parte da nossa mentalidade, nós promovemos muito o anti desportivismo e a falta de ética desportiva, e isso é algo que obviamente nos penaliza muito comparativamente aos outros países europeus. Nós temos muito essa forma de estar, esse 'handicap' em termos de espírito desportivo. Eu acho sempre que para ganhar não vale tudo e é importante respeitar o adversário, os espectadores, e isso passa por ter uma conduta desportiva e por saber respeitar os valores que estão inerentes a essa mesma ética desportiva, mas não é fácil mudar mentalidades", começa por explicar Daúto Faquirá, em entrevista ao SAPO Desporto.

Daúto Faquirá enquanto treinador do Olhanense
Daúto Faquirá enquanto treinador do Olhanense

Para qualquer amante do desporto-rei é fácil pensar num momento de antijogo, mas porque é que isso ainda acontece em Portugal? Quando o nosso país vive tanto este desporto e é tão crítico em relação às questões desportivas? Como em tudo, é uma questão de dinheiro.

"Existe uma prática de antijogo normal que é protagonizada pelas equipas menores em que a busca do ponto é feita incorrendo numa tentativa de anular os adversários, muitas vezes não procurando jogar, mas sim impedir os outros de jogar. É uma prática comum, mas é obviamente lamentável e condenável, mas antes de apontarmos o dedo, temos de perceber as razões. O Rui Vitória do Benfica e o Sérgio Conceição do FC Porto têm plantéis que quando jogam contra outras equipas se deparam com uma disparidade e uma diferença de valores tremenda. Isso não justifica que as outras equipas incorram em antijogo, mas é preciso perceber o porquê e tentar fazer com que isso não aconteça. Por um lado, é a questão da distribuição do dinheiro no nosso país. Não é por acaso que as equipas grandes, que são três ou quatro, perdem menos pontos com as equipas menores do que nos outros campeonatos, porque os outros campeonatos são muito mais disputados, ou seja, há um maior equilíbrio. Esbater esse desequilíbrio passa por equilibrar o campeonato, por dotar as equipas mais pequenas de outras armas que façam com que elas possam jogar um jogo menos desnivelado", acrescenta.

Tal como nas restantes questões sociais e culturais, para dar a volta à cultura do antijogo é necessário começar por educar as camadas mais jovens para a não utilização deste tipo de práticas. O papel do treinador pode ser especialmente valioso neste ponto, mas não só ao treinador cabe a educação de um futuro jogador de futebol.

"O Rui Vitória do Benfica e o Sérgio Conceição do FC Porto têm plantéis que quando jogam contra outras equipas se deparam com uma disparidade e uma diferença de valores tremenda. Isso não justifica que as outras equipas incorram em antijogo, mas é preciso perceber o porquê e tentar fazer com que isso não aconteça"

"Mudar mentalidades passa muito por aquilo que nós aprendemos na escola, na formação. Quando promovemos a formação percebemos que é muito fácil os miúdos enveredarem por esse caminho. É fácil perceber isso na forma como os espetadores e os pais transmitem, ou não transmitem, valores que fazem com que aqueles miúdos que são alguns dos jogadores do futuro, mas maioritariamente os espetadores, tragam consigo pensamentos enviesados em relação aquilo que é a conduta desportiva. O treinador tem um papel importante também na transmissão desses valores, mas quando somos diariamente confrontados com declarações e com confrontos verbais, nomeadamente de dirigentes e/ou presidentes, isso acaba por fragilizar a posição do treinador. Os treinadores têm uma posição muito precária, são dependentes de resultados, acabam por sempre por dar voz ao que são as ordens superiores", explica Daúto.

É então percetível que uma das soluções para este ‘vírus’ do futebol português seria cortar o mal pela raiz e apostar numa educação desportiva que formasse os jogadores e espetadores jovens para defender a ética e a integridade do desporto, ao invés de incitar guerrilhas verbais e comportamentos duvidosos.

Mas, além da formação, é ainda importante 'curar' os jogadores e as equipas que já apanharam este 'vírus'.

"Não é por acaso que nós temos os estádios com muito pouca gente, não é por acaso que se formos vendo e lendo aquilo que se diz e que se fala sobre o nosso futebol, percebemos que não se pune quem incorre em atitudes antidesportivas. Também não é por acaso que nós vemos treinadores que usam práticas antidesportivas, mas que depois são punidos com multas irrisórias. Nós não fazemos nada para contrariar este poder instituído e esta forma de estar, esta falta de cultura desportiva que existe no nosso país e achamos que isso nos enriquece, mas devíamos perceber que esta forma de estar não contribui para fazer do futebol um negócio rentável. É fundamental que se pare para pensar na cultura desportiva, é importante que os órgãos que regulam o nosso futebol tomem atitudes construtivas e punitivas para quem não se rege por esses valores", afirma o atual comentador.

Como evitar o antijogo

Duarte Gomes iniciou a carreira de árbitro com apenas 18 anos e exerceu durante 25 anos. Abandonou a carreira no final do ano de 2015, mas continua ligado ao futebol e por isso falou ao SAPO Desporto sobre as práticas antidesportivas do desporto-rei e como um árbitro pode evitá-las.

"Há varias formas de evitar o antijogo, todas estão consagradas na própria lei. Uma das maneiras é ser muito proativo, que geralmente é a mais eficaz. Assim que o árbitro percebe que há uma tendência de uma das equipas para demorar mais nas reposições de jogo, para fazer as coisas mais devagar nas substituições, ou tem alguma tendência para pedir mais assistência médica, o árbitro tem de ser o mais enérgico possível em termos de ser incómodo para eles. Ou seja, fazê-los ver que está atento, que quer que as coisas sejam céleres e, portanto, de alguma forma fazer ali uma certa pressão física e em termos de comunicação", começou por explicar o antigo árbitro.

"Depois em qualquer mínimo excesso que o árbitro perceba que está a acontecer deve agir disciplinarmente com o cartão amarelo. O exemplo típico é o guarda-redes quando faz perda de tempo, nós estamos habituados a vê-lo levar o cartão sempre no minuto 90, quando se torna mais evidente que está a fazer tempo, mas se a medida disciplinar sair mais cedo acaba por ter um efeito, apesar de punitivo, também preventivo, porque durante o resto do jogo seguramente não vai voltar a abusar porque está no risco de ser expulso", acrescenta Duarte Gomes.

Um caso recente da atuação preventiva de um árbitro aconteceu no clássico entre Benfica e FC Porto, no Estádio da Luz, em jogo a contar para a 7º jornada do campeonato nacional, já na temporada 2018/2019. Aos 19 minutos de jogo, o guarda-redes dos 'dragões' Iker Casillas viu um cartão amarelo por demorar a fazer a reposição de bola em campo. O espanhol já tinha sido avisado pelo árbitro Fábio Veríssimo.

"Isto aplica-se também a qualquer jogador num lançamento lateral mais demorado, ou em qualquer outra reposição de jogo que queira atrasar em que se coloca à frente de outro jogador, ou atira a bola para longe, qualquer outro momento em que o árbitro perceba que há um início de uma atitude que pode vir a ser antidesportiva para o resto do jogo, o ideal é matar à nascença", explica.

Outra das práticas de antijogo ocorre quando os jogadores simulam lesões e pedem assistência médica com o simples objetivo de 'queimar tempo', no entanto, Duarte Gomes refere que esta é a situação mais complicada de contornar.

"O exemplo típico é o guarda-redes quando faz perda de tempo, nós estamos habituados a vê-lo levar o cartão sempre no minuto 90, quando se torna mais evidente que está a fazer tempo, mas se a medida disciplinar sair mais cedo acaba por ter um efeito, apesar de punitivo, também preventivo"

"O árbitro está um bocadinho limitado com alguma incapacidade que tem para gerir um conjunto de situações. Por exemplo, se um jogador cai e pede assistência médica, nenhum árbitro pode negá-la, porque não é medico, não pode assumir a responsabilidade de dizer 'não vou chamar o médico' e o jogador depois tem alguma coisa grave. Nestes momentos, o árbitro só tem uma arma que é a de agir à posteriori dando mais tempo de desconto", explica.

Resumindo e concluindo, "a ideia é: primeiro, muita prevenção e proatividade, ou seja, ter a sensibilidade de perceber desde o início quando é que há os primeiros focos de antidesportivismo, atacar logo com comunicação forte e linguagem gestual e andar em cima da equipa ou do jogador que tem esse comportamento. Segundo, passar à punição o quanto antes se ela for evidente, porque no fundo ela acaba por ser preventiva. Terceiro, ter coragem de adicionar no final dos 90 minutos todos aqueles minutos que foram perdidos em função dessas perdas de tempo".

Duarte Gomes a arbitrar um jogo entre FC Porto e Académica
Duarte Gomes a arbitrar um jogo entre FC Porto e Académica créditos: © 2015

O problema do cronómetro

As leis do jogo da Federação Portuguesa de Futebol dizem que "o jogo se compõe de duas partes de 45 minutos cada uma", no entanto, estas regras não estipulam um tempo útil mínimo para os jogos, e é aqui que parece estar o problema. O tempo útil de jogo diz respeito aos minutos em que a bola está realmente em jogo e a ideia seria que este tempo se aproximasse ao máximo dos 90 minutos, mas isso não acontece no futebol português.

Substituições, exame das lesões dos jogadores, transporte dos jogadores lesionados para fora do terreno de jogo e perdas de tempo são algumas das razões para que o tempo útil de jogo não se aproxime dos 90 minutos estipulados. A estas razões juntam-se as práticas de antijogo que diminuem ainda mais os minutos em que a bola está realmente em jogo.

Tendo em conta as regras atuais, o tempo perdido deveria ser compensado pelos minutos de desconto dados pelo árbitro no final de cada parte. No entanto, o tempo dado nem sempre faz jus ao tempo realmente desperdiçado ao longo do jogo.

Para Daúto Faquirá, "a partir do momento em que os árbitros têm um cronometro, depois dos 90 minutos, têm de dar o tempo de compensação que for equivalente ao tempo de paragem durante a partida. Ou seja, têm de procurar que os jogos vão até um mínimo de tempo útil, os árbitros têm que dar 10, 15, 20 minutos, o que for preciso. Só assim é que se vai evitar os tempos de paragem, e ainda se vai promover o espetáculo mais apetecível, porque é esta é uma das razões que faz com que o nosso campeonato não seja propriamente sedutor".

Mas, existe ainda outra solução que é atualmente praticada em desportos como basquetebol, futsal e hóquei em patins, em que existe um cronometrista a parar o relógio sempre que o árbitro apita, ou seja, o cronómetro estaria parado nas interrupções de jogo, bolas fora, faltas e mesmo golos.

Esta alteração foi já proposta pelo 'International Board', que gere as regras do futebol, e pressupunha que em vez dos atuais 45 minutos de jogo em cada parte, seriam contados apenas 30 minutos, mas apenas de tempo útil.

Caso esta proposta avance, acabará o tempo de compensação, isto é, assim que terminar o tempo cronometrado, o árbitro da partida deverá dar por terminado o jogo à primeira interrupção.

"A partir do momento em que os árbitros têm um cronometro, depois dos 90 minutos, têm de dar o tempo de compensação que for equivalente ao tempo de paragem durante a partida"

Para Duarte Gomes esta seria a forma mais viável de trazer de volta o futebol espetáculo. "A contagem de tempo traria muita justiça a este problema, porque o tempo útil de jogo, se fosse por exemplo de 30 minutos para cada lado, seria sempre superior à média daquele que é jogado agora que anda entre os 22 e 24 minutos, pelo menos em Portugal, o que é francamente pouco, em termos de jogo corrido", afirma o antigo árbitro.

"Segundo, iria diluir todo o comportamento antidesportivo porque não faria mais sentido, era inócuo. Um jogador não tinha necessidade de fazer tempo porque sabia que o tempo estava parado, só o poderia fazer eventualmente como estratégia de quebrar o ritmo do adversário. É isso que se tem visto em jogos cronometrados, em que há algumas perdas de tempo não para mexer com o tempo em si, mas para quebrar a avalanche ofensiva do adversário, o ritmo e a dinâmica do jogo. De qualquer forma, era sempre muito mais justo do que o sistema que temos agora. Eu acredito que daqui a cinco ou dez anos, isto poderá ser uma realidade no nosso futebol", garante Duarte Gomes.

A luta pelo tempo útil

O antijogo não é uma prática recente e a luta contra ele também não. Há cerca de dois anos, o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, presidido por José Fontelas Gomes, enviou uma carta aos clubes das ligas profissionais – primeira e segunda ligas – em que pedia uma sensibilização para o problema que "viola o espírito do jogo e respeito pelo espetador".

"O CA entende que o combate pelo aumento do tempo útil de jogo é uma responsabilidade de todos, em benefício do futebol e dos adeptos. O Conselho de Arbitragem visiona todos os jogos das competições profissionais e esta análise permite observar oportunidades de melhoria nos diferentes aspetos do jogo. Esta temporada [2016/2017] temos detetado com preocupação o aumento do número de paragens e a crescente duração das mesmas. Vem deste modo o CA/FPF alertar para este problema, comunicar as instruções dadas aos árbitros, mas mais do que isso, solicitar que todos os atores se empenhem em transformar positivamente o espetáculo. Foi recordado aos árbitros que sempre que se deparem com uma situação de reiterada conduta para gastar tempo devem ser interventivos, avisando publicamente e agindo disciplinarmente se necessário", pode ler-se na carta enviada à altura.

Também o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) afirmou estar de acordo com a ideia de aumentar o tempo útil de jogo.

"O SJPF entende que o antijogo, como prática reiterada, é um problema cultural, que deve ser repudiado e combatido por todos os agentes do futebol: jogadores, treinadores, árbitros e dirigentes. Existe a ideia pré-concebida de que fazer antijogo e perder tempo permite ganhar jogos, ou no limite não os perder. Esta prática deve ser condenada", defendeu o organismo, em comunicado.

"Se os árbitros aplicarem justamente, como o CA da FPF propõe, o período de compensação adequado ao tempo útil de jogo perdido, estaremos a dar um passo em frente e a caminhar no sentido da correção desta prática", podia ainda ler-se.

"Apelamos a todos os jogadores para que adiram a esta iniciativa, evitando situações que deliberadamente visam a perda de tempo útil de jogo. Os adversários, os adeptos e os patrocinadores merecem e, paralelamente, a defesa do futebol exige-o", concluíram.

"Existe a ideia pré-concebida de que fazer antijogo e perder tempo permite ganhar jogos, ou no limite não os perder. Esta prática deve ser condenada"

Trocado por miúdos

Na prática o antijogo é assim tão visível? Infelizmente, a resposta é sim, segundo as estatísticas. A 'GoalPoint' divulgou os números dos jogos da liga portuguesa de futebol na temporada 2017/2018, até março deste ano, e concluiu que "a Liga Nos é a 'Champions' das paragens".

Em 233 encontros disputados até março, foram contabilizadas 649 assistências médicas a jogadores e apenas 12 jogos decorreram sem qualquer interrupção para a entrada das equipas médicas.

Em média, cada jogo teve 2,8 interrupções para assistência médica e 33% dos jogos tiveram quatro ou mais paragens. Com isto, a liga portuguesa vence as ligas inglesa, italiana, alemã, espanhola e francesa em número de interrupções.

Um dos jogos mais polémicos da temporada passada remonta a 11 de março de 2018, quando o FC Porto perdeu frente ao Paços de Ferreira para a 26º jornada do campeonato, em jogo que teve Bruno Paixão como árbitro.

A equipa da Mata Real venceu os 'dragões' por 1-0, num jogo que, segundo os dados publicados pelo jornal 'Record' na altura, teve apenas 44,04 minutos de tempo útil: 23,23 na primeira parte e 20,41 na segunda.

Disciplinarmente, a partida contou com seis cartões amarelos (quatro para o Paços de Ferreira e dois para o FC Porto) e com um cartão vermelho direto para o guarda-redes dos 'dragões', José Sá, já depois do apito final por protestos.

No final da partida, Bruno Paixão deu oito minutos de compensação, decisão que não foi bem recebida pela equipa do FC Porto que reclamou mais tempo para combater o antijogo que sofreu durante o jogo.

"Estou desiludido com isto. Constantemente antijogo, paragens constantes, 30, 40 segundos para que a bola fosse reposta em jogo. Não sei se é estratégia. Sinceramente estou desiludido por isto. Foi incrível. Não me lembro de estar presente num jogo assim. Imagino o espetador em casa. Não se jogou. Gostava de saber o tempo útil de jogo. Não houve mais. Se poderíamos ou deveríamos ter feito mais, sim, é verdade. Falhámos um penálti e ocasiões que normalmente não falhamos. Nesta reta final, vale tudo para conseguir um pontinho, e o Paços conseguiu três", acusou Sérgio Conceição, na altura.

Já João Henriques, que era o treinador do Paços de Ferreira à época, defendeu-se das acusações do FC Porto alegando que a sua equipa merece mérito. "Existe tanta coisa à volta das equipas mais pequenas. Quando perdem 5-0 há suspeitas. Quando dificultam é antijogo. Nunca dão o mérito. As pessoas deviam ficar felizes por haver estes jogos onde os grandes perdem pontos, seria melhor para o campeonato. Depois vê-se nas provas europeias, onde enfrentam equipas com orçamento muito superior. E o orçamento do Paços? Querem equilibrar as coisas? Habituem-se porque vão perder muitos mais pontos. Para a evolução do futebol é importante não pensar que ganhamos sempre. Que há treinadores que sabem usar as suas estratégias para contrariar", afirmou.

Antes desta partida, o FC Porto estava na liderança do campeonato, com 67 pontos - cinco a mais que o segundo classificado Benfica -, enquanto o Paços de Ferreira estava no penúltimo lugar, com 21 pontos. Depois do jogo, os 'dragões' continuaram na liderança - mas ficaram com apenas dois pontos a mais que o Benfica -, já os pacenses subiram dois lugares na tabela e ficaram em 15º lugar com 24 pontos.

Apesar da polémica que envolveu o jogo e da influência na tabela de classificação, no final da temporada o FC Porto sagrou-se campeão, enquanto o Paços de Ferreira desceu para a segunda divisão do futebol português.