Chega a parecer fácil. Ao fim de 17 jornadas, o FC Porto termina a primeira volta do campeonato isolado na liderança, algo que não acontecia desde a época 2010/11, com André Villas-Boas no comando técnico. Sem qualquer derrota, e com um domínio galvanizador em casa - apenas um empate, contra o Benfica – Sérgio Conceição prova que não há outra equipa na Primeira Liga com a coerência (palavra escolhida propositadamente, dada a recente indireta a Rui Vitória) deste ‘dragão’.
No rescaldo de mais um triunfo no Dragão, Sérgio Conceição confessou que o intervalo do jogo com os vimaranenses foi o mais fácil desde que chegou aos ‘azuis e brancos’. Ninguém duvida disso, assim como ninguém duvida que a primeira parte foi a mais difícil para a sua equipa. Por um motivo muito simples: foi a primeira vez, esta temporada, que o FC Porto se viu em desvantagem no campeonato.
O golo de Raphinha, a aparecer nas costas da defesa num lançamento longo (22’), surgiu quando nada o fazia prever, mas ao mesmo tempo castigava a precipitação com que os azuis e brancos haviam entrado em campo: nervos à flor da pele, passes aparentemente fáceis falhados e muita indefinição no último terço do campo.
O Sporting estava por esta altura na frente da tabela classificativa, após goleada de mão cheia sobre o Marítimo, mas, antes de mais, era preciso ultrapassar a barreira vimaranense, que continuava a afastar o perigo da baliza de Douglas. Ouviam-se assobios nas bancadas, mas o alvo era Artur Soares Dias: três lances a envolver Marega levaram os ‘dragões’ a reclamar grande penalidade, mas o juiz mandou sempre seguir.
Nada corria bem ao FC Porto, que até ao final da primeira parte não rematou uma única vez à baliza adversária. Tal como Sérgio Conceição e Pedro Martins tinham dito, este jogo nunca seria igual ao da Taça de Portugal, em que os vimaranenses saíram do mesmo palco vergados a uma goleada. A segunda parte, contudo, foi em tudo semelhante ao que os ‘dragões’ têm vindo a fazer nestas 17 jornadas: desmontar a estratégia do adversário com a força explosiva da sua dupla atacante e a magia de um criativo argelino.
Óliver – um regresso à titularidade no campeonato quatro meses depois – e Aboubakar deram a entender que o pior estava para vir e aos 57’, o avançado camaronês fez mesmo o empate para os ‘dragões’, num belíssimo vólei após cruzamento de Corona - provavelmente o primeiro passe acertado do mexicano esta noite. Cinco minutos depois, Brahimi, que cumpria o 100.º jogo de dragão ao peito, recebeu a bola de Alex Telles, tirou um adversário do caminho e ‘picou’ a bola sobre Douglas, selando a reviravolta com um toque de classe.
Contra um Vitória fisicamente esgotado, faltava Marega para o recital africano ficar completo. E mesmo não sendo esta a melhor noite do avançado maliano, houve tempo para fazer dois golos à antiga equipa, primeiro de cabeça a passe de Hernâni (também ele um ex-conquistador), depois com o pé direito, após assistência de Ricardo Pereira. Por altura do 4-2 de Héldon (88’), já os homens de Sérgio Conceição estavam mais do que confortáveis na sua posição oficiosa de campeões de inverno. Foi o terceiro 'desaire' seguido da equipa de Pedro Martins na Liga.
Já o FC Porto termina a primeira volta da mesma forma que começou: na liderança, com um ataque verdadeiramente demolidor, muito por culpa da reabilitação de três homens, que, até há uns meses, pareciam estar mais perto da porta de saída do Dragão. Sérgio Conceição, que parece ter um ‘je ne sais quoi’ por jogadores renegados, convenceu Marega e Aboubakar a ficarem – ambos quiseram sair durante a era Nuno Espírito Santo - e insistiu na continuidade de Brahimi, também ele bastante desmotivado na sequência da temporada passada. Os números estão à vista: 48 dos 79 golos apontados pela equipa em todas as provas oficiais da presente temporada, o que se traduz num peso de 60%. O futebol agradece-lhes.
O momento: 2-1 por Brahimi - Uma verdadeira obra de arte do jogador argelino, a fintar Jubal e a terminar com um chapéu sobre Douglas.
A figura: Brahimi - No centésimo jogo ao serviço do FC Porto, o criativo foi um dos elementos mais dinâmicos em campo, selando mais uma exibição de alto nível com um golo de belo efeito, que colocou o 'dragão' na frente do marcador. Para mais tarde recordar.
Reações: Sérgio Conceição (FC Porto) - "Acho que fizemos uma primeira parte não de acordo com aquilo que é o nosso ADN. Estivemos algo precipitados, falhámos passes fáceis. Não que não corrêssemos, mas faltou-nos clarividência para definir de outra forma. Foi o intervalo mais fácil desde que estou no FC Porto. Só tive de dizer que tinha mil por cento de confiança nos meus jogadores. Mas fizemos uma segunda parte avassaladora, onde fizemos quatro golos e onde tivemos possibilidade de fazer mais um ou outro, mas num contexto difícil e contra uma equipa difícil."
Pedro Martins (V. Guimarães) - "Há mérito do adversário, que tem demonstrado que é fortíssimo em casa. Na segunda parte o FC Porto foi mais pressionante. Faltou-nos critério para gerir o jogo e o FC Porto acabou por vencer com inteira justiça, na minha opinião. Tivemos muita qualidade na primeira parte. Discutimos o jogo até esse momento."
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