A edição 20120/21 da I Liga portuguesa começa esta sexta-feira. Uma edição condicionada pela pandemia COVID-19 que ainda assola o mundo e que dita que, pelo menos para já, os jogos continuem a ser disputados à porta fechada, ainda sem espectadores na bancada.
Uma situação que tem sido alvo de fortes críticas por parte dos dirigentes das várias equipas, que apontam o dedo ao governo e à Direção Geral de Saúde e falam numa 'discriminação' para com o futebol em comparação com outros eventos, nos quais o público já é admitido.
Sporting e Gil Vicente, os mais afetados, com frente-a-frente adiado
Mas as condicionantes ditadas pelo novo coronavírus vão muito para além da presença ou não dos adeptos nos estádios. E as dúvidas são muitas. A começar já pelo adiamento do encontro da ronda inaugural entre Sporting e Gil Vicente, que estava marcado para sábado no Estádio José de Alvalade, em virtude do elevado número de infetados que os plantéis das duas equipas registam neste momento.
Nos 'leões', Nuno Santos, Borja e Rodrigo Fernandes foram os primeiros jogadores a ser detetados com COVID-19, após exames feitos sábado, 12 de setembro, véspera do encontro de pré-época com o Nápoles, que acabou por cancelado, surgindo no dia seguinte mais quatro casos: Luís Maximiano, Renan, Pedro Gonçalves e Gonçalo Inácio.
A esses sete jogadores juntou-se outro elemento do staff do clube de Alvalade e, quarta-feira, surgiu a notícia de que mais um jogador (que se ficou depois a saber ser Eduardo Quaresma), o treinador principal, Rúben Amorim, e também o diretor clínico do clube, João Pedro Araújo, tinham sido contagiados. Todos estes elementos, informou o clube leonino, encontram-se em isolamento.
Já no Gil Vicente, a 11 de setembro todo o plantel foi colocado em quarentena pelo delegado de saúde regional, após ter sido confirmada a existência de 15 infetados no clube de Barcelos, dez dos quais jogadores do plantel principal, cuja indentidade não foi revelada. Os restantes cinco pertencem ao staff técnico e um deles deverá mesmo ser o treinador principal, Rui Almeida.
Os gilistas estiveram alguns dias sem poder treinar, decisão que foi revertida quarta-feira, com o retomar dos treinos, depois de não terem sido registados casos positivos de COVID-19 nos novos testes realizados aos elementos que estiveram em contacto com os infetados. Porém, foi entretanto noticiado pela Rádio Renascença que o delegado de saúde regional voltou a dar ordem ao plantel do clube de Barcelos para parar novamente os treinos, o que terá sido a 'gota de água' para que o encontro viesse mesmo a ser adiado.
O que diz, afinal, o protocolo da Liga em relação à COVID-19?
Questionada sobre a realização do jogo ou não do jogo, a Diretora Geral da Saúde, Graça Freitas, tinha já admitido que a realização do jogo Sporting-Gil Vicente, da primeira jornada da I Liga portuguesa de futebol, estsava em análise, face aos vários casos de covid-19 nas duas equipas.
"Os meus colegas do Gil Vicente e do Sporting estão a fazer tudo para ver se há condições para que o jogo se realize. Se acontecer, será sempre um adiamento do jogo e nunca a paragem da I Liga. Os restantes jogos realizar-se-ão. É um tema complexo, dado o número elevado de infeções nas duas equipas", explicou então a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.
Na mesma conferência de imprensa, Graça Freitas lembrou que, "depois de o plano de retoma da época passada" ter sido delineado por DGS, Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Liga de clubes e clubes", atualmente "as condições [para realização dos jogos] são avaliadas" pelas autoridades de saúde locais.
No Plano de Retoma do Futebol Profissional divulgado no dia 07 de setembro pela Liga de clubes referente aos campeonatos profissionais é dito que os jogadores da I Liga vão ter testes à COVID-19 antes de todas as jornadas de acordo com o Plano de Retoma do Futebol Profissional, depois de todos terem sido testados pelo menos uma primeira vez até 48 horas antes do início da prova. Depois do arranque da competição, os jogadores constantes da ficha de jogo no anterior jogo oficial serão testados até 48 horas antes de novo jogo.
No plano da Liga de clubes há ainda a "recomendação para a realização de testes a todo o plantel e 'staff', uma vez por mês" e fica definido que "um caso positivo só retoma atividade após critérios de cura microbiológica" definidos pela Direção-Geral da Saúde (DGS). Todos os casos positivos (sintomáticos ou não) de infeção por SARS-CoV-2 devem, de imediato, ser comunicados à Autoridade de Saúde territorialmente competente [...]. O caso positivo deve ser isolado, ficando impossibilitado de participar em treinos e competições até à determinação de cura deliberada pela Autoridade de Saúde territorialmente competente, acrescenta o documento.
Atletas e equipas técnicas da equipa na qual foi identificado um caso positivo podem ser considerados contactos de um caso confirmado", mas "a identificação de um caso positivo não torna, por si só, obrigatório o isolamento coletivo, das equipas", que será sempre definido pela Autoridade de Saúde territorialmente competente. Todos os atletas e equipas técnicas assinaram um Código de Conduta ou Termo de Responsabilidade, no qual é assumido o compromisso pelo cumprimento das medidas de prevenção e controlo da infeção por SARS-CoV-2, bem como o risco de contágio por SARS-CoV-2 durante a prática desportiva, em contexto de treinos e competição.
Há casos de jogadores infetados noutros clubes, mas situação não e tão problemática
Não são só Sporting e Gil Vicente que estão a contas com casos de infeções com o novo coronavírus entre os jogadores do plantel principal. Porém, em nenhum outro clube da I Liga a situação é tão preocupante como nos clubes de Alvalade e de Barcelos que quis o destino que tivessem encontro marcado logo para a jornada inaugural.
O Benfica revelou no final da passada semana que o guarda-redes belga Svilar se encontrava infetado com COVID-19, mas não houve entretanto notícia de mais jogadores infetados entre os 'encarnados'. Já no V.Guimarães soube-se que o angolano Nélson Luz, um dos últimos reforços dos vimaranenses, "testou positivo a SARS-CoV-2 nos exames efetuados à chegada a Portugal, não obstante os resultados negativos que antecederam e permitiram a sua viagem", revelou o clube em comunicado.
Situação semelhante à vivida no Boavista, onde o internacional colombiano Sebástián Pérez, reforço do clube do Bessa para esta época, viu a sua apresentação oficial adiada depois de um teste à COVID-19 ter revelado que o médio, emprestado pelo Boca, está infetado.
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Também no Moreirense foi revelado, a 7 de setembro, um caso de COVID-19 no plantel principal de futebol. O clube de Moreira se Cónegos acrescentou, na altura, que o jogador em causa - cuja identidade não foi revelada - está assintomático e em isolamento depois de ter acusado positivo no sábado.
Os dois emblemas algarvios, Farense e Portimonense, também deram conta de infeções com COVID-19 dentro dos respetivos clubes, mas não em jogadores do plantel principal: no caso dos de Faro trata-se de um jogador da equipa satélite e na formação de Portimão o teste positivo foi de um jogador dos sub-19.
Governo "confiante" para o arranque da I Liga
Apesar de todas estas noticias e todas estas condicionantes, o secretário de Estado do Desporto e da Juventude, João Paulo Rebelo, mostrou-se confiante para este arranque da I Liga.
"Estou confiante. Houve uma reunião esta semana que juntou a Secretaria de Estado da Saúde, a Direção-Geral da Saúde (DGS), a Secretaria de Estado do Desporto e da Juventude e a Liga Portuguesa de Futebol, em que o objetivo foi definir um conjunto de regras, afinar um conjunto de procedimentos, para que continuemos o bom resultado e o sucesso da última época desportiva", sublinhou.
João Paulo Rebelo reconheceu que o valor da saúde deve estar acima de qualquer outro, mas lembrou ser essencial que as mais diversas atividades, entre elas o desporto, sejam retomadas. "Confio na capacidade do organizador e no envolvimento de todos os clubes. Todos sabemos o que cada um tem de fazer e esperemos que se continue o que vem da passada época desportiva", acrescentou.
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