Mas então o que passa com o FC Porto? Onde está aquela equipa que sufocava os adversários, principalmente em casa e raramente sofria golos no Dragão? Onde está aquela formação que nunca desistia, que lutava até ao último minuto, que quando não ganhava pelo talento, conseguia com a raça, com determinação, com o querer mais que outros? Estas e outras questões povoam a mente dos adeptos portistas neste momento, depois de mais um escândalo no Dragão. Luís Alberto consumou a derrota dos azuis-e-brancos em casa frente ao Tondela, depois de um jogo para esquecer da equipa de José Peseiro. Se perder em casa já é mau para o FC Porto, perder com o último da I Liga dá muito que pensar. O título é uma miragem e o segundo lugar uma missão quase impossível.

Promessas e justificações...

Depois de várias promessas de luta até a derradeira jornada pelo título de campeão, o que o FC Porto fez frente ao Tondela foi dar um "tiro nos pés" e pôr um ponto final nas aspirações de voltar a ser campeão. Sim, porque nem os mais otimistas adeptos portistas acreditam que a equipa irá recuperar os nove pontos que tem de atraso para o Benfica e os sete que tem para o Sporting em apenas seis jornadas, sendo que apenas irá receber o Sporting (já fez os dois jogos com o Benfica).

Nem Peseiro conseguiu explicar o que se passou na noite desta segunda-feira no Dragão: "Temos de refletir, todos, e perceber que os nossos adeptos e o FC Porto merecem mais do que fizemos aqui. Não estivemos tão juntos, tão solidários, tão equipa como já nos mostrámos noutros momentos. Queríamos mudar o resultado, tivemos mais oportunidades, mas, o que fizemos noutros jogos não conseguimos fazer hoje [segunda-feira], faltou-nos ser mais equipa. Não sei o que se passou, mas, os adeptos e a instituição merecem mais do que fizemos aqui", disse o técnico portista na conferência de imprensa.

Faltou ambição?

Com um plantel longe do da época passada, tanto em quantidade como em qualidade, os "dragões" têm evidenciado inúmeras dificuldades frente aos clubes ditos pequenos. Será falta de ambição? Danilo ´põe o dedo na ferida` e dá o seu veredito: "[Faltou] um bocado de ambição. A equipa jogou com falta de ambição e quem quer ser campeão tem de mostrar mais. Entrámos bem mas não pressionámos, estivemos longe uns dos outros, fomos uma equipa muito larga. Contra estas equipas, quando não se faz um golo, elas acabam por marcar, como aconteceu", analisou na zona de entrevistas rápidas.

E tem razão. O FC Porto entrou bem, fez uns bons 15 minutos e podia ter marcado. Maxi assustou Cláudio Ramos no primeiro minuto, Aboubakar falhou dois golos feitos ainda antes do primeiro tempo. Pelo meio, Danilo viu Cláudio Ramos negar-lhe outro golo com uma grande defesa, minutos antes de Maxi não ter conseguido encontrar ninguém na área após boa jogada de Corona. Antes, aos quatro minutos, Kaká pendurou-se em Aboubakar e não permitiu que cabeceasse nas melhores condições, num lance em que os portistas pediram penálti.

Luís Alberto na ´gaveta`

Mesmo tendo uma das piores casas da época, os 16217 espetadores que se dignaram deslocar-se ao Dragão mereciam mais. Nos primeiros 15 minutos do segundo tempo era o Tondela, imagina-se, o último classificado com 14 pontos, quem tinha mostrado mais vontade em vencer face ao poderoso FC Porto a lutar ... pelo título. Nathan Júnior e Luís Alberto deixaram o aviso antes de o médio não falhar e silenciar um já pouco ruidoso Dragão com um golaço. Aos 59 minutos, Luís Alberto recebeu a bola na zona central, olhou para todos os lados, ninguém lhe ligou nenhuma e, daí mesmo, rematou colocado, fazendo a bola entrar no ângulo superior direito de Iker Casillas. Um golaço.

Um prémio merecido para uma equipa que já muitos tinham condenado. Há uns anos seria impensável uma equipa como o Tondela, na situação em quem está, ir ao Dragão e discutir o resultado com o FC Porto. Muitos esperavam que Petit metesse o ´autocarro` à frente da baliza mas esse ficou na garagem. “Sabíamos que o FC Porto ia entrar forte. Tínhamos de sofrer sem bola e jogar quando a tivéssemos. O FC Porto não podia perder pontos. Eles entraram fortes, aguentámos e aos poucos soltámo-nos. Tivemos a sorte que nos faltou noutros jogos e o Cláudio Ramos fez uma grande exibição. Na segunda parte ganhámos as segundas bolas e até podíamos ter feito mais um golo. Foi um bom jogo de futebol, não metemos o autocarro e olhámos o FC Porto nos olhos", justificou o técnico, na conferência de imprensa após o jogo.

Luís Alberto, o herói do jogo, já tinha marcado na primeira jornada da Liga frente ao Sporting. Depois de empatar em Alvalade e vencer no Dragão, não terá ganho o Tondela o direito de sonhar com a permanência? Uma coisa é certa: o caminho é longo mas eles prometem não deitar a ´toalha ao chão`. "Antes do início toda a gente nos dava como mortos, mas nós jogadores nunca deixámos de acreditar. Até ser matematicamente possível vamos lutar. Vamos deixar a última gota de suor no campo na luta até ao fim", promete Luís Alberto.

Além de Luís Alberto, o Tondela teve de contar com um Cláudio Ramos inspirado na baliza (defesa magistral a ´roubar` o golo a Corona aos 63 minutos e a Suk aos 83), em contraste com a falta de inspiração dos jogadores do FC Porto. Aboubakar, por exemplo, tem sido responsável por muitos ´cabelos brancos` de muitos adeptos do FC Porto, tal é o desacerto do camaronês à frente da baliza. A sua relação com o golo continua complicada, como se viu em duas oportunidades na primeira parte e outras duas na segunda, em lances claros de golo que o avançado não aproveitou.

Assobios e lenços brancos

Peseiro também tem de assumir a sua quota-parte. O FC Porto jogou sempre partido, permitindo sempre saídas rápidas ao Tondela, tanto pelos velozes Nathan Junior como por Romário Baldé. E quando a equipa apanhou-se a perder, arriscou tudo mas sem efeitos práticos uma vez que passou a reinar mais o caos que a organização no ataque do FC Porto. Suk ainda agitou a frente ofensiva mas as entradas de Marega e Varela para os lugares de Layún e Brahimi foram inconsequentes. A saída do argelino para a entrada do franco-maliano mereceu mesmo a reprovação da plateia do Dragão.

Assim que o árbitro Bruno Esteves apitou para o final do encontro, os 16217 que estiveram no Dragão brindaram a equipa com uma monumental assobiadela e mostraram lenções brancos a Peseiro. Os jogadores ficaram alguns minutos no centro do relvado a escutar o descontentamento que vinha das bancadas. "É normal que as pessoas não gostem. Temos de aceitar. E reagir. O FC Porto exige mais de nós. Temos de ser muito mais do que isto. Os jogadores ficaram em campo e foram humildes. Ficaram a ouvir esse desagrado. A instituição, a história, os adeptos merecem que sejamos mais equipa. Mais agressivos, mais intensos, mais solidários num momento destes. Hoje [segunda-feira] não fomos essa equipa", disse Peseiro, em tom crítico.

A derrota, a quinta do FC Porto está época (Sporting, Braga, V. Guimarães, Arouca e Tondela) deixa o FC Porto a nove pontos do Benfica e sete do Sporting, quando faltam seis jornadas para o fim. Já o Tondela ganha novo fôlego com os três pontos mas continua em último com 17 pontos, menos seis que a Académica, penúltimo, e menos oito que o Boavista, a primeira equipa acima da ´linha de água`.