A relação de Roger Schmidt com a massa adepta do Benfica já viveu dias mais felizes. O técnico alemão chegou no início da última época, e levou os encarnados à reconquista do título nacional e aos quartos de final da Liga dos Campeões.

Contudo, e perante uma época 2023/24 abaixo das espectativas, o crédito acumulado por Schmidt na temporada anterior rapidamente esgotou-se aos olhos do 'tribunal' da Luz; hoje a relação entre as partes é fria e extremamente tensa, algo diametralmente oposto ao clima vivido há cerca de um ano.

O site do diário desportivo 'A Bola' fez uma retrospetiva dos principais momentos de Schmidt desde que chegou ao Benfica, e da relação que foi mantendo com os adeptos encarnados.

Em maio de 2022, Roger Schmidt era apresentado como treinador do clube da Luz, deixando rasgados elogios nas suas primeiras palavras enquanto técnico benfiquista.

"Bom dia. Amo o futebol e quem ama o futebol, ama o Benfica", disse Schmidt ainda no aeroporto de Lisboa.

À 11ª jornada, o Benfica liderava confortavelmente com seis pontos de avanço sobre o SC Braga, isto enquanto lutava taco a taco com o Paris Saint-Germain pela liderança do grupo na Liga dos Campeões. Após a goleada caseira diante do GD Chaves, foi pedido a Schmidt que elaborasse mais sobre a frase dita no aeroporto.

"Naquela altura já tinha a sensação certa. Não é que já conhecesse o clube muito bem, mas era o que sentia quando falava com as pessoas, com o Rui Costa, o Lourenço [Pereira Coelho]… fiquei com a ideia que era o sítio indicado para vir treinar e foi por isso que disse o que disse. Agora conheço o clube, as pessoas, a cultura. É um clube extraordinário, há muita paixão, muito amor, qualidade, conhecimento, e basta ver jogos como o de terça-feira e ver o ambiente no estádio e a paixão das pessoas. Era tudo o que esperava vir a encontrar. Agora conheço o Benfica muito melhor e estou muito contente de ter sentido isto até antes de assinar o contrato"

Com dez pontos de vantagem, o Benfica recebe e perde diante do FC Porto na Luz, vendo a diferença reduzir para sete. Após a partida, Schmidt não deixou de enaltecer o apoio dos adeptos encarnados ao longo de todo o jogo.

"Não tivemos muitos jogos maus, mas, se compararmos com o nível que normalmente apresentamos, esta foi a exibição mais pobre da época. Os adeptos apoiaram-nos muito, mesmo quando não jogámos tão bem. Acreditam em nós e é disso que a equipa precisa"

No final de maio, na última jornada, o Benfica vence o Santa Clara e sagra-se campeão nacional. O alemão estava feliz e acrescentou mais tarde que nunca tinha visto uma festa tão grande como a protagonizada pelos adeptos encarnados.

"É uma mistura de grande felicidade, com o orgulho de fazer parte do Benfica. Foi com grande esforço que chegámos aqui. Desde que começámos, no verão passado, que o objetivo era voltar a ser campeão. Sabíamos que o Benfica não vencia há quatro anos, assim como sabíamos que a nação benfiquista queria uma a época bem-sucedida"

Apesar de começar a nova época com a conquista da Supertaça, o campeonato arranca com uma derrota com o Boavista, jogo que ditou a saída de Vlachodimos da Luz.

"Não foi o melhor dia dele, para ser sincero. Foi muito óbvio, não temos de esconder isso. Ele jogou muitos bom jogos, acho que contra o Boavista ele podia ter feito melhor. Se virmos o jogo todo, vemos que tiveram três momentos para marcar golo e todos os três momentos foram golo"

À medida que os encarnados iam mostrando mais dificuldades em ganhar jogos, o discurso de Schmidt foi-se gradualmente alterando, deixando para trás o romantismo inicial, pautando-se agora por maior pragmatismo. Exemplo são as declarações após a vitória tangencial diante do Estoril.

"Foi um teste difícil. Não interessa como, interessa que ganhámos. E merecemos ganhar"

A derrota diante da Real Sociedad em casa, a terceira em três jogos na Liga dos Campeões, despoleta os primeiros sinais de insatisfação das bancadas da Luz, que culminaram em lenços brancos. Schmidt não fica indiferente à insatisfação e sublinha que os adeptos têm todo o direito de mostrar o seu desagrado.

"O apoio dos adeptos tem sido fantástico e o ambiente é bom, mas se não estiverem satisfeitos pela forma como jogámos, podem demonstrá-lo. Nós também não estamos felizes pela forma como atuámos frente à Real Sociedad. Estamos desiludidos com a exibição, tal como eles. O nosso objetivo é demonstrar aos adeptos, desde o primeiro segundo, que queremos fazer coisas de forma diferente. Tenho 100 por cento certeza de que os adeptos vão estar do nosso lado, como sempre. Nós temos de mostrar que eles podem contar com os jogadores. É isso que os adeptos querem ver da nossa equipa e é por isso que percebo a reação que tiveram"

O treinador do Benfica manteve o mesmo discurso no jogo seguinte, em que os encarnados empataram diante do Casa Pia.

"Acho que os adeptos foram fantásticos enquanto estivemos por cima do jogo. Apoiaram-nos e creio que mostraram que estavam felizes com a performance da equipa. Quando sofremos o 1-1, claro que esperavam que ganhássemos o jogo, fosse como fosse. Não fomos capazes de fazer o segundo golo e eles ficaram tão frustrados quanto nós. Querem ser campeões como nós, mas se não ganharmos estes jogos, mesmo controlando e dominando"

A má prestação na Liga dos Campeões, a juntar a alguns percalços no campeonato, levam a um avolumar na contestação a Roger Schmidt. Após um nulo diante do Moreirense, as águias voltam a perder pontos, desta feita em casa, com o Farense, num jogo onde os ânimos se exaltaram e onde objetos foram lançados para junto do técnico. O fosso entre Schmidt e os adeptos era cada vez maior, e o alemão fez questão de o aumentar.

"Em relação ao que aconteceu nas bancadas, quero agradecer aos adeptos que nos apoiaram e que apoiaram até ultimo minuto. E aos outros, os negativos, por favor fiquem em casa, porque não é bom para a equipa, se não estiverem felizes com o que os jogadores fizeram [com o Farense], como adeptos do Benfica fiquem em casa. Não podemos jogar melhor, lutar mais, ser mais equipa, se não estiveram felizes com esta equipa por favor fiquem em casa, não podemos fazer melhor. Se não são capazes de apoiar a equipa quando esta põe tanto esforço no jogo, então é melhor ficarem em casa e voltarem quando formos campeões e celebrarmos no Marquês de Pombal. Fazê-lo assim é autodestruição, não podemos fazê-lo assim, se não respeitamos os jogadores, o treinador, o Benfica, é melhor ficar em casa, é o meu feeling. […] Se o problema sou eu, fácil, saio"