O ensaio final antes do Campeonato da Europa não podia ter sido melhor: qualidade exibicional, bons golos, baliza a zeros e muita moral para Portugal atacar a primeira grande competição da era Roberto Martínez.

A Seleção Nacional derrotou uma frágil República da Irlanda (3-0) e adicionou à bagagem para a Alemanha a motivação necessária para ir em busca do troféu que conquistou em 2016. Qualidade, bom futebol e esperança já estão na mala, agora resta provar o que vale dentro do campo.

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O jogo explicado

O onze inicial só por si já fazia antever um jogo diferente dos encontros com Finlândia e Croácia. O selecionador nacional apostou numa linha de três centrais, conferindo maior largura à equipa que foi devidamente aproveitada para desequilibrar defensivamente os irlandeses.

Começando pela frente, uma das principais novidades foi a colocação de João Félix na posição número 10 (de facto onde parece estar mais confortável) a servir de apoio ao vertiginoso Rafael Leão e ao matador Cristiano Ronaldo. O trio foi bem apoiado pela segurança proporcionada por João Neves, ao lado do maestro Bruno Fernandes.

Atrás, o veterano Pepe comandava os jovens Gonçalo Inácio e António Silva, enquanto Dalot e Cancelo eram os responsáveis por esticar a equipa pelas alas.

A estratégia funcionou na perfeição e logo desde os primeiros minutos Portugal conseguiu impor o seu jogo, dominando totalmente as operações. A leveza que os jogadores aparentavam em campo não demorou a dar frutos, uma vez que aos 18 minutos, João Félix apareceu no sítio certo após um canto estudado e contou com uma pontinha de sorte para voltar aos golos pela Seleção, oito meses depois.

O golo empolgou a equipa que continua 'soltinha' e a espalhar bom futebol, com a República da Irlanda a conseguir criar mossa a espaços, através de contra-ataques diretos, que só eram possíveis pelo posicionamento alto de Portugal em campo.

Chegou o intervalo e Martínez quis ver outras soluções, lançando cinco jogadores: Semedo, Nuno Mendes, Rúben Neves, Danilo e Jota entraram para os lugares de Dalot, Cancelo, Félix, Pepe e Rafael Leão, respetivamente, mas o ritmo continuou elevado, provando que todos são possíveis titulares. 

Ainda os irlandeses se estavam a habituar às caras novas e já Cristiano Ronaldo estava a provar o porquê de ter sido a referência mundial durante quase 15 anos: Rúben Neves fez um passe longo de qualidade, o capitão recebeu e depois de aplicar a característica pedalada atirou de pé esquerdo para o ângulo esquerdo da baliza de Kelleher. A vantagem aumentou e o relógio ainda só marcava 50 minutos.

Ainda os adeptos estavam a comentar o facto de terem assistido a mais um icónico 'siiiu', quando Ronaldo voltou a fazer das suas. Jota iniciou uma cavalgada desenfreada pela esquerda e serviu CR7 que dentro da área provou que ainda há poucos (ou quase nenhum) como ele, aumentando a conta pessoal, no minuto 60.

A conta fechou por aí, mas o resto do jogo foi uma mera formalidade, uma vez que os irlandeses não conseguiam contrariar o poderio português e o jogo tornou-se um treino ofensivo para Portugal, que só não aumentou a vantagem devido á bela exibição do melhor irlandês, Kelleher.

Este foi o último jogo de preparação para o Euro 2024 e Portugal fez questão de provar que tem todas as condições para lutar pelo título e para se considerar um favorito à conquista. Caso consiga manter o nível e os intervenientes joguem à medida do que já provaram conseguir, os portugueses podem sonhar com a segunda conquista do Europeu, depois do milagre de 2016.

Malas feitas, tudo a postos, agora que venha daí o Campeonato da Europa 2024!

O momento do jogo

O regresso de Cristiano Ronaldo era muito esperado por todos e o capitão não desiludiu. Apesar dos 39 anos, mostrou que está aí para as curvas e que devem ter muita atenção ao que pode trazer para o jogo de Portugal. Aquele primeiro golo fez lembrar os tempos áureos do Real Madrid e encheu as bancadas de esperança para o que aí vem.

O melhor em campo

Para não estar a tornar este artigo uma ode a Cristiano Ronaldo, há que destacar a maior ressurreição desde Jesus Cristo. Ainda sem mostrar o brilho que encantou a Luz, João Félix jogou na posição que mais gosta (a número 10) e trouxe aquele perfume que fez o Atlético de Madrid gastar 126 milhões de euros na sua contratação. Qualidade técnica, capacidade de desconcertar o adversário e ainda um golo para polvilhar esta receita dos deuses. Aos 24 anos, ainda tem muito tempo para provar o porquê de ter sido considerado um dos maiores talentos mundiais a certa altura, mas só depende de si fazê-lo.

O pior

Seria injusto escolher um jogador da República da Irlanda, quando a equipa como um todo foi incapaz de contrariar a qualidade lusa. Por isso, temos de destacar John O'Shea neste capítulo, pela incapacidade de dotar a sua equipa de mais ferramentas ofensivas, além das defensivas também serem pobrezinhas. Há muito trabalho pela frente para os irlandeses poderem voltar a sonhar em figurar entre a elite do futebol europeu e mundial.

As reações

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