O nome Leandro Gomes pode não lhe ser familiar e possivelmente nunca ouviu falar deste jovem lutador português, atual campeão do Mundo de MMA dos Sub-18 na categoria de peso de 61kg, numa organização tutelada pela IMMAF-WMMAA que decorreu em Roma.

Nessa final, o jovem vimaranense derrotou o norte-americano Jessie Rosas, conquistando a medalha de ouro mundial, numa prova com 17 atletas em competição.

Com apenas 17 anos, Leandro Gomes tem um currículo invejável, tendo em conta que começou a competir em 2016.

“O meu palmarés, no circuito amador, deve ser um dos mais versáteis com resultados nos desportos de combate. Tenho alguns nacionais, um campeonato ibérico e um europeu em kickboxing. No MMA conto com um recorde de seis vitórias e zero derrotas e com dois títulos internacionais: o europeu e o mundial”, disse Leandro Gomes numa entrevista ao SAPO Desporto, continuando a demonstrar a sua versatilidade nos desportos de combate.

“Tenho muitos combates de wrestling, conto já com dois campeonatos nacionais e seis ‘opens’, tendo uma medalha de bronze na categoria de jovens promessas. Também participei nos últimos Jogos Olímpicos Youth, no ano de 2019, além de dois nacionais e um Mundial em Kung Du te”, sublinhou, orgulhoso, o atleta.

Com raízes angolanas, Leandro adquiriu o ‘bichinho’ por este desporto através do padrasto Rafael Silva, também ele campeão mundial por várias vezes. Além de ser o seu treinador na RSTeam, Leandro Gomes não esconde que é a sua inspiração e um modelo a seguir, como disse na entrevista que concedeu.

“Mesmo que aches ter razão, baixa a cabeça e escuta, porque todos te querem bem”, disse o irmão de Leandro.
Leandro Gomes, jovem atleta de MMA

SAPO Desporto -  Como era o Leandro Gomes na infância?

Leandro Gomes - Era uma criança divertida, muito chorona, devido ao mau perder, e um pouco malandra.

SD - Primeira vez que tiveste contato com desportos de combate?

LG - Foi em Setúbal, não me lembro bem da idade, arrisco 9 ou 10 anos, quando fui a um treino de boxe apenas para assistir a minha mãe e o meu irmão a treinar. Acabei por não resistir e também treinei.

SD - Quando eras mais novo, eras mais do estilo bem comportado ou rufia?

LG - Eu não diria rufia, diria mais irrequieto, não gostava de estar parado, por isso fazia muitas asneiras, principalmente quando estava com os meus primos, que eram os meus companheiros das traquinices na altura.

SD - Começaste a lutar em que ano?

LG - A minha primeira em competição foi em 2016, na Taça de Portugal, onde ganhei o meu primeiro combate, mas infelizmente perdi no segundo.

SD - No ano passado, foste campeão mundial de MMA. Deixaste-te iludir com esse título?

LG - Não. Para mim foi um grande feito, mas ao mesmo tempo um pequeno objetivo, porque pretendo chegar mais longe e arrecadar muitos mais prémios. Por isso, contei este [título] como apenas o começo de uma grande jornada.

SD - Consegues descrever a sensação de ser campeão do mundo?

LG - Não há palavras para descrever a sensação em si, mas eu tive duas no momento em que me levantaram a mão: orgulho e alívio ao mesmo tempo.

Leandro Gomes, jovem atleta português de MMA
Leandro Gomes, jovem atleta português de MMA

SD - Qual a tua opinião sobre a cobertura deste feito por parte da imprensa portuguesa?

LG - Infelizmente acho que foi má, pois fui o primeiro atleta amador a trazer o ouro para Portugal no maior circuito mundial de MMA e não me foi dado o devido reconhecimento pelos média.

SD - Com 17 anos, o que esperas que te aconteça na tua vida daqui para a frente?

LG - Espero alcançar grandes patamares e fazer a diferença entre os melhores, neste momentos amadores, e no futuro na categoria profissional.

SD - Quais as tuas referências?

LG - Principalmente duas pessoas que tenho em casa, a minha mãe e o meu pai/treinador, porque são eles que me apoiam sempre. Já fizeram muito por mim e continuam a fazer com que os meus sonhos se tornem realidade. São os meus fãs número um, por isso não tem como eles não serem também os meus ídolos.

SD - Como era o teu dia-a-dia, antes da pandemia?

LG - Levantava-me todos os dias para ir para a escola, treinava às segundas, quartas, sextas e sábados. E depois coisas normais como comer, jogar e estudar.

SD - Nos desportos de combate, o quão importante é a confiança?

LG - A confiança é um dos fatores mais importantes num atleta. Não se deve ter excesso de confiança, porque pode ser mau, mas se formos conscientes de que estamos bem preparados e de quem temos pela frente, é meio caminho andado para o combate estar ganho.

SD - Como se lida com uma derrota? 

LG - Na minha opinião com muito treino, mas isto serve quer para a derrota como para a vitória. Temos que analisar os erros e tentar corrigir com o nosso treinador e os colegas de equipa.

SD -Achas que é mais difícil superar do que em modalidades coletivas?

LG - Depende, mas acho que não... Sinceramente é igual... Quando alguém perde, pensa sempre que podia ter feito um milhão de coisas diferentes e que mudaria por completo o resultado final. Isso aplica-se quer nos desportos individuais ou coletivos.

SD - Sente-se humilhação na hora da derrota?

LG - Não, humilhado nunca! Posso até ficar frustrado ou triste comigo próprio, mas nunca me rebaixei. Apesar de tudo, em cada combate dou tudo e luto sempre contra os melhores, por isso não tenho razão para me sentir humilhado por ter perdido com alguém que trabalhou tanto como eu para conseguir a vitória.

SD - O que teria de acontecer para deixares de vez o MMA?

LG - Uma lesão que não me permitisse continuar a lutar mais, porque o MMA, neste momento, é a minha vida. Não me vejo a viver sem estar dentro de um octógono ou um ringue.

SD - Qual a pior dor que alguma vez sentiste (não precisa de ser física)?

LG - Foi quando mudei de cidade, deixei os meus amigos da altura, quer da escola quer os meus vizinhos, os meus hábitos, a minha casa. Tudo a que eu estava habituado ia mudar e custou-me um bocado assimilar isso tudo na altura.

SD - Que combate estavas a preparar?

LG - Eu estava-me a preparar para o regional de kickboxing, mas principalmente para o UMMA, um evento onde iria defrontar um atleta estrangeiro e também iria fazer o nacional de seniores, mas devido à COVID-19 não foi possível.

SD - Achas que para ter boas oportunidades no MMA precisas de sair de Portugal?

LG - Acho que não vou precisar de sair para ter oportunidades. Estou a obter bons resultados e tenho mostrado o meu valor, principalmente quando tenho o meu ex-parceiro de equipa, o Pedro Carvalho, e o Manel Kape lá fora a abrir portas e a mostrar que em Portugal temos 'máquinas' que só precisaram de oportunidades.

SD - Qual o melhor conselho que te deram?

LG - Acho que foi o do meu irmão. Ele fez com que eu ouvisse mais e desse mais valor a cada palavra dos meus pais, principalmente o meu pai, que é o meu treinador [Rafael Silva] e a pessoa que está sempre lá, quer nos combates quer noutra situação qualquer. O conselho foi :"Puto, tem sempre humildade e ouve sempre a mãe e esse 'cota' que estão aí pra ti. Se és alguma coisa Leandro, é graças também a ele. Mesmo que aches ter razão, baixa a cabeça e escuta, porque todos te querem bem."

Leandro Gomes, jovem atleta português de MMA
Leandro Gomes, jovem atleta português de MMA

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