A seleção portuguesa de triatlo fez um balanço positivo da prova de qualificação de estafetas mistas para os Jogos Olímpicos Tóquio2020, apesar de ter falhado em Lisboa o objetivo do apuramento inédito nesta vertente.

Com apenas três vagas olímpicas disponíveis para 15 nações em prova, Portugal – que se fez representar por Melanie Santos, João Silva, Helena Carvalho e João Pereira – não foi além do sétimo lugar, com Bélgica, Itália e Suíça a conquistarem, por esta ordem, os lugares no pódio e o respetivo ‘passaporte’ para Tóquio.

“Infelizmente, não atingimos o objetivo pretendido: qualificar dentro do pódio. Isso permitiria não só alinhar na prova de estafetas mistas em Tóquio, mas também conseguir qualificar o segundo elemento feminino, que de outra forma seria impossível, porque está muito atrasada no ranking individual. Não conseguimos o objetivo, as outras equipas estiveram melhor do que nós hoje”, admitiu o diretor técnico nacional, António Fortuna, após a prova.

Sem esconder que o formato ‘super sprint’ torna as provas mais rápidas e dá uma dimensão acrescida aos detalhes, o responsável pela seleção justificou a opção de deixar João Pereira como último elemento com a estratégia que tem vindo a ser trabalhada nos últimos dois anos, mesmo que as características da prova - disputada na zona oriental de Lisboa, junto a Marvila - limitassem a capacidade de recuperação de um eventual atraso.

“Temos uma estratégia desde o Campeonato da Europa de 2019, onde conseguimos a integração no programa de preparação olímpica. O João Pereira sempre foi o nosso elemento finalizador, com uma corrida muito explosiva e com uma garra fora de série nestes momentos decisivos. Apesar de vir de lesão, os indicadores de treino estavam a ser muito bons e deu-nos confiança para assumir a posição que normalmente tem na estafeta”, explicou.

A equipa portuguesa até arrancou da melhor forma, com Melanie Santos a ter um desempenho muito bom nos 300 metros do segmento de natação, ao sair da água em segundo lugar para a fase de ciclismo, com sete quilómetros de distância. Contudo, esta etapa já não foi tão positiva para a atleta, de 25 anos, que caiu algumas posições e não foi capaz de recuperar posteriormente no segmento da corrida, que tinha apenas 1,63 quilómetros de extensão.

“Faço um balanço positivo. Sabíamos desde o início que era uma tarefa dura, que estávamos capazes e íamos dar luta, mas não conseguimos. Acho que isso não nos faz mais fracos, dá-nos mais garra para numa próxima qualificação tentarmos o sonho de levar uma equipa de Portugal aos Jogos”, frisou a triatleta do Benfica.

Sobre as dificuldades sentidas, Melanie Santos assumiu que era “muito difícil em 300 metros conseguir dar um avanço suficiente” e que a prova de bicicleta “era dura”, ainda mais com “muito vento” que se fez sentir. “A correr não me senti nos meus melhores dias, mas lutei até ao final para tentar entregar o mais à frente possível”, resumiu, antes de passar o testemunho a João Silva.

“Demos o nosso melhor, temos de sair de cabeça erguida e satisfeitos com o que fizemos”, observou o atleta, de 32 anos, que sublinhou o cariz mais tático da estafeta mista: “É uma prova de equipas e isso joga com mais do que só as nossas capacidades. Sendo uma prova tão curta, de 20 minutos, também é um pouco diferente na intensidade, porque é do início ao fim a dar o máximo, o que é completamente diferente de duas horas de prova”.

João Silva empenhou-se em tentar reduzir a diferença para o grupo da frente logo na natação, onde foi eficaz, porém, não foi tão feliz na bicicleta, na qual acabou por pedalar sozinho e sem se integrar num grupo que alimentasse a perseguição. “Num dia como hoje, com muito vento, faz muita diferença estar sozinho ou num grupo”, notou o atleta, que já esteve nos Jogos Olímpicos de Londres2012 e Rio2016, tendo depois cedido o lugar a Helena Carvalho.

O esforço da jovem, de 25 anos, não se revelou suficiente para anular a desvantagem que Portugal tinha então para os lugares olímpicos, sobretudo quando o último segmento da corrida era aquele que em sentia mais fragilidades. Quando João Pereira entrou em cena, a esperança no eventual apuramento já exigia um ‘milagre’, mas o atleta português não deixou de ficar satisfeito por um regresso bem sucedido à competição, um ano e oito meses depois.

“Consegui voltar a competir sem dor nenhuma e durante toda a prova senti-me bastante bem. Este arranque foi dos melhores momentos que tive no triatlo, quando corri para a água e senti que estava novamente de volta e pronto para dar tudo”, confessou o quinto classificado nos Jogos do Rio2016, complementando: “Foi uma prova bastante disputada. Perdemos a luta pelo pódio por muito pouco, mas correu bastante bem”.

Para João Pereira, o objetivo do pódio era “bastante complicado”, em virtude da elevada capacidade dos adversários, sendo que a estafeta mista representava “um desafio novo” para os atletas portugueses.

“A corrida era muito curta para conseguir recuperar e ainda por cima arrisquei bastante na bicicleta em tentar ir sozinho. Foi uma luta de loucos, mas estou contente. Demos o nosso melhor e isso é o mais importante. Umas vezes ganha-se, outras vezes perde-se. O importante é continuarmos em jogo e dar o melhor por Portugal”, concluiu.

O triatlo português estreou-se nos Jogos em Atenas2004, com Vanessa Fernandes no oitavo lugar e Bruno Pais no 17.º, tendo estado representado por dois atletas masculinos em Pequim2008 e Londres2012 e três no Rio2016.

Atualmente, João Silva, que foi nono em Londres2012 e 35.º no Rio2106, João Pereira, quinto no Rio2016, e a estreante Melanie Santos ocupam lugares de qualificação no ranking, que encerra em 14 de junho e para o qual ainda competem Vasco Vilaça e Helena Carvalho, os três aspirando a uma estreia em Jogos Olímpicos.