Se o ano de 2022 foi sinónimo de conquistas para o futebol do FC Porto, o mesmo já não se pode dizer quando falamos do ciclismo. Com efeito, desde a suspensão de um bicampeão da Volta a Portugal até à dissolução da equipa profissional, a W-52 FC Porto esteve no olho do furacão que assolou o ciclismo nacional este ano.

As rodas da bicicleta começaram a cair em finais de março, altura em que o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) confirmou a suspensão do espanhol Raúl Alarcón, vencedor da Volta a Portugal em 2017 e 2018, por um período de quatro anos. Em causa estavam alegadas alterações no passaporte biológico do ciclista que indiciavam transfusões de sangue. Alarcón afirmou estar inocente e apresentou recurso no TAS, contudo o organismo manteve a sua decisão, levando a União Ciclista Internacional (UCI) a retirar ao espanhol os títulos conquistados na Volta a Portugal de 2017 e 2018.

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Pouco tempo depois, no final de abril, a Polícia Judiciária lançou uma operação para investigar casos de 'doping' no ciclismo nacional. Dessa mesma operação resultaram as detenções de Nuno Ribeiro, diretor da W52-FC Porto, e de José Rodrigues, diretor desportivo da União Ciclista da Maia, naquele que foi o início do processo 'Prova Limpa'. Ambos os arguidos foram afastados do ciclismo, e obrigados a apresentações semanais às autoridades.

Estas detenções levaram mesmo Adriano Quintanilha, empresário responsável pela W52 a considerar a extinção da equipa de ciclismo.

Contudo os casos não se ficaram por aqui já que, apenas dois dias depois, dez ciclistas da equipa W52-FC Porto foram constituídos arguidos neste processo, tendo os mesmos sido sujeitos a controle anti-doping numa altura em que se preparavam para participar numa prova do calendário nacional, testes estes que se revelaram como negativos.

Todavia tal não impediu a Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) de notificar alguns elementos da equipa W52-FC Porto, entre os quais estavam ciclistas que corriam assim o risco de suspensão. Dos notificados pela ADoP, dez elementos foram suspensos, entre os quais oito ciclistas e dois membros do 'staff'.

Entretanto, e num caso totalmente separado deste processo, a UCI anunciara, no mesmo dia, a suspensão de Edgar Pinto por quatro anos, se bem que o ciclista já estava impedido de correr desde 2020.

Como seria de esperar, os resultados do processo 'Prova Limpa' levaram a UCI a revogar a licença desportiva da equipa W52-FC Porto. Esta suspensão impediu a formação de participar na edição de 2022 da Volta a Portugal e defender o título conquistado por Amaro Antunes no ano anterior, isto apesar de terem chegado a estar entre a lista de equipas inscritas na prova.

No seguimento desta decisão, António Júlio Nunes -diretor executivo da ADoP- revelou que recebeu ameaças à sua integridade física e que teve de pedir proteção a si e à sua família.

Com a equipa afastada da Volta e vários ciclistas suspensos, o FC Porto decidiu suspender o contrato de 'naming' que tinha com a equipa até que o processo estivesse totalmente concluído.

Em finais de outubro a UCI anunciou os castigos aos ciclistas suspensos previamente; o destaque vai para João Rodrigues, vencedor da Volta a Portugal de 2019, que foi suspenso por sete anos. Já os restantes irão cumprir um castigo de três anos por "posse de substância proibida e método proibido".

Apesar de ter apenas Amaro Antunes como o único ciclista elegível para competição, a W52-FC Porto ainda tentou inscrever-se para a temporada 2023 de ciclismo, iniciativa da qual mais tarde haveria de desistir.

Com a total extinção da equipa profissional, a W52-FC Porto criou um novo projeto baseado no ciclismo de formação, ao criar uma equipa de sub-23.

Foi assim que terminou um verdadeiro 'annus horribilis' para a equipa W52-FC Porto, que passou da maior potência do ciclismo nacional para a extinção da equipa profissional em cerca de seis meses.

Contudo os casos de doping no ciclismo não se limitaram a esta equipa. No início de agosto a Polícia Judiciária fez buscas em equipas como a Efapel, Rádio Popular Boavista e Glassdrive. Destas investigações resultou o castigo recentemente aplicado ao ciclista Daniel Freitas, válido por três anos.

Não se pode dizer que tenha sido um ano positivo para o ciclismo nacional, marcado de forma profunda por escândalos relacionados com o 'doping' e que incidiram mormente sobre a equipa dominadora do pelotão nacional nos últimos anos.